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 Comunicado da Direcção do Expresso

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Vitor mango

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MensagemAssunto: Comunicado da Direcção do Expresso   Comunicado da Direcção do Expresso EmptySeg Fev 04, 2008 2:04 pm

Comunicado da Direcção do Expresso

A recusa de publicação, por parte da direcção do Expresso, de um texto de Dóris Graça Dias sobre o livro 'Rio das Flores', de Miguel Sousa Tavares, levou a autora a queixar-se de ter sido vítima de censura.
19:28 | Segunda-feira, 4 de Fev de 2008

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O director do Expresso e o, à data, editor do Actual consideraram que o texto da colaboradora do Expresso não tinha qualidade mínima para ser publicado. Para crítica faltava-lhe o respectivo enquadramento, por exemplo: Onde se passa a acção da obra? Quais as suas personagens? Qual o tempo histórico que abarca? Estes, são pontos comuns a qualquer crítica, seja ela jornalística ou académica, e que não podem ficar descurados sob pena de o texto ficar como a jornalista o deixou: um mero ataque pessoal ao autor, feito do alto de uma arrogância hostil e de um preconceito (veja-se a entrada do texto) que não se coadunam com as boas práticas do Expresso nem com a nossa conduta.

O editor sugeriu à autora que o texto fosse refeito, de forma a entrar em linha de conta com o respectivo enquadramento. Tal foi por ela recusado.

Face às acusações de censura - que Dóris Graça Dias terá de provar nos fóruns próprios, porque é uma acusação grave prevista e punida na lei - e perante a publicação desse texto noutros jornais (tendo o mesmo sido fornecido pela própria), decidimos nós também publicá-lo neste espaço. Para que se compreenda a nossa boa fé e para que se compreenda a má fé de quem nos acusa.

A reacção de Dóris Graça Dias já tinha motivado um pedido de parecer ao Conselho de Redacção, o qual emitiu um comunicado cujas conclusões também aqui divulgamos. (ver relacionado no final deste texto)


TEXTO DE DÓRIS GRAÇA DIAS

A Redacção

Perdoe-se a franqueza. Há "parti-pris" que batem certo, mas para que a relativa se comprove, há que analisar o objecto sob suspeita

Anunciada como obra de mais de 600 páginas, com uma tiragem de 100 mil exemplares, esta, antes de ser já o era: "As pré-vendas on line do novo romance de Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores, registaram mais de mil encomendas durante as primeiras 24 horas, um facto inédito para um autor português. O livro, cujo lançamento está marcado para dia 25 de Outubro, só chega às livrarias no dia 29." Informava a editora a 19 daquele mês. Fomos pesá-lo numa simples balança de cozinha - fazia-nos falta este elemento informativo: 900 gramas. Suspense, marketing, quantidade, peso... faltava só verificar o que em literatura parece ser perfeitamente secundário: a qualidade.

Isso aí, isso aí... já nos parece mais subjectivo. Será? Comecemos pelos pastiches. E que tal uns "vencidos da vida" transpostos para fins de 1920? Não se chamam Carlos nem Ega, mas enfim, ecoa ali Eça que é um mimo. E um cheirinho a faenas, a caça às perdizes - tão do gosto da pessoa do autor (que maldade confundir egos e alter egos, mas há quem se ponha a jeito) -, coisas de homem, muito lido em Hemingway (cá entre nós, que ninguém nos ouve, um Nobel uma bocadito forçado)? Mas enquanto Hemingway nos faz balançar e zangar nos nossos "parti-pris" (mais uns) relativamente a touradas, caçadas, pescarias e coisas afins, com MST ficamos na mesma. Nenhuma simulação de exaltação, nenhuma garra, nenhuma inspiração; o que temos é uma morna descrição de gestos pouco cinematográficos, um descritivo meio jornalístico, longínquo ainda do despachado Hemingway.

E por falar em descritivo meio jornalístico, este romance, que nas palavras do próprio autor se deseja histórico, quando entra por esse caminho, regista um tom de Selecções do Reader's Digest. Por vezes, parece que estamos numa sala de cinema nos anos 60, vendo e ouvindo os registos informativos que a censura nos impingia antes de um qualquer Música no Coração; outras, lembra-nos certos programas televisivos em que vemos imagens em movimento muito queimadas de um qualquer "raid" aéreo da 2ª Guerra Mundial acompanhadas de sínteses vocálicas bem colocadas mas, contudo, sínteses.

Quanto às variantes descritivas de centros históricos, áreas urbanas, edifícios-chave, o tom é de prospecto turístico, onde não falta a curiosidade histórica, a anedota com personalidade internacional, a listagem de um menu, estilo: quando ir, como ir, onde ficar, o que e onde comer. Já agora convém referir que os citados hotéis Negresco e Carlton ficam, respectivamente, em Nice e em Cannes, daí que dizer que o arquitecto francês Joseph Gire, autor da "arquitectura do Copacabana Palace [se inspirara] nas do Negresco e do Carlton, de Nice" (pág. 327) tem qualquer coisa, no mínimo, de precipitado. E inútil, já que quem conhece, conhece; quem não conhece, fica na mesma.

Romance, romance... como a palavra anda desgastada. Quanto mundo é preciso percorrer, aprender, ter para escrever um romance. Quanta atenção é preciso despender, quanta imaginação converter, quanta distância compreender. Criar personagens não se basta por um acumular de lugares comuns, somando diferenças ilustrativas de tipos; há que não ser anacrónico na linguagem, nas exigências existenciais, nos enquadramentos territoriais. Se se pretende descrever uma mulher, convém olhar bem para elas, sob pena de se ser apenas grosseiro, quando se pretendia ser airoso. Para escrever um romance há que ser um "flâneur" e não um "poseur". Ou seja: perder-se e não julgar-se, à partida, encontrado.

Tudo o que MST disser sobre a sua própria escrita, o seu romance histórico é gratuito. Que o escreveu a pedido de muitas famílias, que passou três anos muito duros, quase dois a documentar-se e um fechado em casa a escrever, sem viajar: nada disto interessa a um leitor; nada disto interessa à literatura. É exactamente esta inversão de valores que faz de Rio das Flores uma obra menor, tão igual a um qualquer exercício de menino de escola semi-deitado de lado sobre o papel, trincando a língua num esforço de saliva e olhos estrábicos confluindo no bico da caneta. "Bela Redacção!": diz o professor, relativizando o esforço e a idade do garoto.

Mas MST não é um garoto e se quer usar o seu nome, devia exigir mais de si do que a simplicidade de uma obra pretensamente bem engendrada. Em literatura isso não existe. Se pretende fixar história, nada como perder três, seis, doze anos a estudar uma época, para a registar - em 100 páginas; se quer escrever um romance, nada como reflectir sobre o que é a literatura, ler muito, e bem, que é como quem diz: perder-se. E se nunca se conseguir encontrar para escrever, ninguém lho levará a mal!

Dóris Graça Dias

Rio das Flores
de Miguel Sousa Tavares
Oficina do Livro, 2007
632 págs., € 29
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