Monica Bellucci
Mamma mia ............
Belíssima em Lisboa
A italiana Monica Bellucci será para muitos ‘la più bella del Mondo’; a beleza sideral da actriz e ex-modelo corta a respiração (ruboriza mesmo); é uma sex-symbol. E passou a última semana em Lisboa a rodar uma curta-metragem para publicidade institucional da marca italiana de lingerie Intimissimi.No histórico Largo do Carmo, Bellucci foi taxista, motard e mãe de um menino “muito bonito”, em papéis que lhe dão a dicotomia entre a mulher que se apaixonou por um professor de tango – o actor português José Fidalgo – e a sua outra vontade, a de não querer estar com ele. Pelo meio, foram gravadas cenas íntimas no Hotel Avenida-Palace, nos Restauradores; e outras marcadas pela sensualidade da dança, gravadas na Caixa Económica da Voz do Operário, a rua homónima e que desce da Graça até Alfama.
“Havia quem pensasse que ela nem ia sequer comer com a equipa. O que é facto é que sempre comeu, e da mesma comida”, conta fonte próxima da equipa. “Um dia até lhe levaram um prato especial mas ela recusou.” E do rol de exigências que fez à produção nada de extravagâncias inexplicáveis.
Pediu um motorista e o ‘chauffeur’ apresentou-se a conduzir um luxuoso Mercedes S400; uma ‘baby-sitter’ para tomar conta da filha – hospedada com a mãe no distinto Lapa Palace Hotel – e outro motorista para levar a pequena Deva, filha também do actor francês Vincent Cassel, a visitar o Jardim Zoológico e o Oceanário; pediu também uma ‘roulotte’ de maquilhagem; e mais não se sabe. A não ser, “um dia pediu para que alguém lhe fosse buscar os chinelos ao Lapa Palace Hotel, enquanto filmava no Hotel Avenida-Palace...”
Bellucci chegou à Portela, dia 21, em “voo comercial”. Até segunda-feira, ensaiou o tango. Fez também os testes de guarda-roupa. Avizinhava-se uma semana em cheio, na qual teria de ser discreta para fugir às objectivas dos ‘paparazzi’. Aliás, só paravam para almoçar – entre comida portuguesa, massas, frutas e sopa, além das bebidas. Não houve sobressaltos. E só no dia 24 se ligou as câmaras de filmar. A cena era a chegada do táxi à porta do Hotel (embora fosse filmado no exterior do Centro de Congressos do Pestana Palace). Neste recanto da cidade, a protagonista passou despercebida aos lisboetas.
Entretanto, na mesma noite a Polícia ultimava os preparativos para o Largo do Carmo (com o Convento da Ordem do Carmo sobranceiro) receber a actriz italiana. Parou o frenesim do trânsito assim que a terça-feira amanheceu e, ao mesmo tempo, lançavam-se olhares de soslaio. Para muitas pessoas, a beleza de Bellucci era estranha aos seus conhecimentos cinéfilos ou de moda.
Agora, o aparato do material de filmagem é que fazia lentas as cartadas dos mais velhos. Filmava-se as cenas da protagonista ao volante de um táxi à velha moda portuguesa – preto com tejadilho verde. Mas não conduziu. Melhor, Olga Carvalho era a ‘dupla’, seleccionada por casting da Valente Produções, para fazer o Mercedes andar. “Se há alguém para conduzir não se põe a actriz a fazê-lo. De qualquer forma, são apenas dez ou 15 metros” – explica.
Depois, Monica Bellucci deu ares de sedução. Vestida com uma ganga e blusão de cabedal despontando a intimidade da lingerie, sentou-se no dorso de uma moto. Não andou, mas não precisava. É que as cenas ao volante são montadas em estúdio. Para dar a ideia de movimento, cola-se imagens, previamente filmadas, de um passeio pela Baixa de Lisboa. E para o dia ficar completo, Bellucci fez o papel de mãe de um menino com cinco anos – escolhido também pela Valente Produções – que segurava ao colo e a quem dava beijos.
Quem lá foi ver ao Largo do Carmo foi o próprio presidente da Câmara. António Costa só lá terá estado alguns minutos e nem sequer terá tido oportunidade de cumprimentar Bellucci. Só que o apoio da autarquia era fundamental e a presença do edil justificava-se.
Mas porquê em Lisboa? “Porque temos locais que são muito convenientes (esteticamente), temos uma cidade bonita e equipas técnicas competentes.” E tudo isto custa dinheiro à produção, que “será bastante cara para o formato de curta-metragem”, considera a mesma fonte. Mas os valores estão no segredo dos deuses.
A Maria Madalena de ‘A Paixão de Cristo’ – filme dirigido por Mel Gibson – chegou mesmo a dizer preferir gravar com este realizador, Gabrielle Muccino, do que com muitos dos mais reputados. “A Intimissimi entendeu produzir um instrumento de comunicação interno e o realizador apresentou uma curta-metragem que evidencia os produtos da marca. Contratou então uma produtora italiana que delegou a produção executiva na portuguesa Check The Gate (ver caixa).
CAXIAS
Caxias, a poucos minutos da capital, foi o local escolhido para a manhã do terceiro dia de filmagens. “Foi filmada uma cena como se fosse em casa dela.” Um apartamento decorado propositadamente pelo director de arte Pedro Santarém. “Nada do outro mundo. Ele usou apenas um estilo moderno, com design.” É a primeira vez que a lingerie ocupa um papel quase de protagonista. Sozinha em casa, Bellucci estará desiludida com o amor... Será?
SEQUÊNCIA DO FILME
Se a sequência do filme for a das filmagens, as cenas íntimas estão na véspera de ser gravadas. Na tarde de quarta-feira, a viagem de Caxias para o Hotel Avenida-Palace (nos Restauradores) é curta. A ‘bella’ italiana vai filmar nos corredores do Hotel de cinco estrelas e o elevador para juntar à cena de amor, que o dia seguinte ia ditar. O ‘glamour’ das paredes mescladas por uma luminosidade insinuante, entre objectos que dão o toque da mais profunda sobriedade. Só ela brilha. Só Bellucci brilha.
O manequim Mário Franco, da Central Models, já tinha recusado contracenar com a estrela italiana – que hoje completa 43 anos, num corpo de jovem –, por respeito à sua mulher, Lúcia Garcia, grávida de oito meses. Além das carícias, as cenas prometiam um beijo sedutor. José Fidalgo aceitou. O modelo e actor português, de 28 anos, que participou no filme de José Fonseca e Costa ‘O Fascínio’ e em diversas telenovelas, a última ‘Tempo de Viver’, da TVI, é agora o professor de tango de Monica Bellucci. A sua paixão e o seu ódio.
Não foi possível apurar se José Fidalgo entra nos diálogos, em italiano. No entanto, a história gira em seu redor. É o personagem implícito nos quatro ou cinco minutos de filme – que será exibido entre portas da Intimissimi, provavelmente irá para o cinema, mas que não chegará tão depressa à TV. Aí é que a curiosidade lusitana sai a perder – a menos que sejamos surpreendidos.
Sem grandes pormenores sobre as filmagens mais reservadas desta produção, Monica Bellucci nunca chegaria a ‘Malena’ – filme dirigido por Giuseppe Tornatore –, onde havia menos lingerie e mais peito desnudado. No caso desta produção rodada em Portugal, a lingerie é outro dos focos centrais. Quando se trabalha para um fabricante de lingerie é necessário... decoro.
Sexta-feira era o dia mais aguardado das gravações. Calma, dançou-se o tango. Bellucci e Fidalgo outra vez frente a frente – corpo a corpo, como se baila a dança sul-americana. É o que se passa, pelo menos até à parte em que dois bailarinos profissionais – ela estrangeira a residir em Portugal, ele argentino – os substituem. São duplos. Toda a história ganha forma. Os momentos são de magia e romantismo. Bem latinos.
Para trás ficam as cenas que dão expressão aos estados de espírito da actriz italiana: aventureira, mãe de família, solitária, desiludida... Apaixonada por um ‘più bello ragazzo’ português. Fica o coração de Lisboa percorrido na sua forma de Chiado. Ficam os hotéis mais charmosos, os sons de um Portugal a viver o dia-a-dia, com tantas mulheres bonitas e enamoradas.
“Um filme deste tamanho nunca é fácil de fazer” – ajuíza a mesma fonte. É muito tempo, cinco dias consecutivos de filmagens. É exaustivo e muito caro. “A equipa de produçao tinha 75 elementos, oito camiões de material e uma logística absolutamente hollywoodesca.” Mesmo com toda a beleza de Monica Bellucci, não é por isso que a equipa se dispersa. “Este trabalho é normal. Nesta profissão está-se muito habituado a gente conhecida.”
GOSTARIA DE FILMAR A MÓNICA BELLUCI?
O fim, a partir dos anos 60 e 70, do “star system” europeu, de que faziam parte estrelas como Sophia Loren ou Alain Delon, remeteu os homens e mulheres excepcionalmente belos e sedutores para o mundo da moda e do futebol.
O cineasta António-Pedro Vasconcelos lamenta a perda que daí resultou para o cinema deste lado do Atlântico. Monica Bellucci –“mulher lindíssima e com talento” – é uma das raras excepções e o realizador de “O Lugar do Morto” celebra-a sem hesitações. Neste momento a ultimar “Call Girl”, com Soraia Chaves, o cineasta não perderia a oportunidade caso se apresentasse de filmar a bela Bellucci.
“Havia de aproveitar os atributos que ela tem.” Isso não significa que representasse o papel de “femme fatale”. Poderia até fazer de mulher do povo. Tal como no filme “Jaime”, que António-Pedro realizou, a modelo e actriz Fernanda Serrano é uma mãe sem recursos. Os encantos de Monica não têm o mesmo efeito sobre João Botelho, realizador de “Um Adeus Português” e, ainda por estrear, “Corrupção”.
“É uma mulher bonita. Há muitas...” José Fonseca e Costa, conhecido do público principalmente por “Sem Sombra de Pecado e “Kilas, o Mau da Fita”, chama a Bellucci “bonequinha”. Nada mais. Num filme dele não haveria lugar para ela. – I.R.
O ELENCO QUE RODOU COM ELA
A marca italiana de lingerie Intimissimi pretendia promover internamente a sua linha de produtos. O realizador Gabrielle Muccino – autor do filme ‘Em Busca da Felicidade’ – apresentou uma proposta para uma curta-metragem com Monica Bellucci a promover os produtos da marca. E foi aceite. Os produtores italianos Marco Cohen e Marco Malfi contrataram a empresa portuguesa Check The Gate, para José Mineiro e Nuno Coimbra Martins fazerem a produção executiva.
Philippe le Sourd foi o director de Fotografia escolhido e Ferdinando Bonifazi e Gabriel Moniz os directores de produção. João Cayate surge no elenco como primeiro-assistente de realização, Paulo Guedes como chefe de produção e Pedro Santarém como director de arte.
BIOGRAFIA DA ACTRIZ
Monica Anna Maria Bellucci esteve a um passo de ser advogada – nos anos 80 abandonou os estudos de Direito na Universidade de Perúgia por uma carreira na moda que mais tarde a levou ao cinema. Nasceu a 30 de Setembro de 1964, faz hoje 43 anos, em Cittá di Castello, pequena cidade italiana. Estreou-se no cinema em 1990 com ‘Vita coi Figli’, do realizador Dino Risi. Seis anos depois foi nomeada para um César (os Óscares franceses) na categoria de Melhor Revelação Feminina, por ‘L’Appartement’. Foi casada com o actor Vincent Cassel, de quem tem uma filha, Deva, nascida em 2004.
Correio da Manhã (30-09-2007)