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 Carroças estão na moda

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Xô Esquerda

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MensagemAssunto: Carroças estão na moda   Carroças estão na moda EmptySáb Fev 23, 2008 6:46 am

Carroças estão na moda e na vida de um abegão alentejano


Arronches, Portalegre, 23 Fev (Lusa) - Outrora as carroças eram puxadas por animais e serviam para transportar pessoas e mercadorias, mas nos dias de hoje são meras peças decorativas nas herdades alentejanas, nos jardins de vivendas e nos museus rurais.

Abegão de profissão, Joaquim Carvalho, de 86 anos, é um dos últimos resistentes à tecnologia, mantendo uma pequena oficina artesanal na vila de Arronches, onde constrói e restaura carroças para decorar vivendas e montes alentejanos.

Sem luz eléctrica no casarão onde trabalha e sem maquinaria e tecnologia de ponta, o abegão, que toda a vida construiu carroças e trabalhou no campo, como feitor agrícola, não tem mãos a medir para as encomendas dos seus clientes.

No número 9 do Largo da Restauração, na pacata vila alentejana do distrito de Portalegre, o "abegão" ou "carpinteiro de obra grossa", como gosta de ser apelidado, constrói e restaura carroças para montes alentejanos, jardins e para "outros locais", aos quais até já perdeu o rasto.

"Nem sei para onde vão", diz, orgulhoso pelas solicitações.

"O negócio cresceu nos últimos tempos, vêem aqui pessoas de todo o país para que eu lhes construa uma carroça ou para recuperar uma peça que compraram numa loja de velharias", relata o octogenário à agência Lusa.

Desde a construção, mesmo ao lado da sua oficina, de um museu dedicado aos brinquedos "para os garotos" (Museu de "a" Brincar), o corrupio "não tem parado um minuto", acrescenta.

Devido à "vida difícil" e "constante miséria" em que a família vivia, Joaquim Carvalho, natural de Alter do Chão, teve que rumar, em "cachopo", até Arronches, para casa de uns familiares.

Hoje, reconhece que a arte de abegão "é uma pérola que, infelizmente, se está a perder".

"Eu gostava de ensinar aos jovens esta arte, mas há uns 12 anos tive aqui um aprendiz que só aguentou dia e meio de trabalho. É uma pena a juventude só se interessar pelas discotecas e dormir durante o dia", lamentou.

O abegão alentejano, que toda a vida construiu carroças, reconhece que o que foi para si uma grande responsabilidade, noutros tempos, é agora um "simples biscate", entre as quatro paredes do casarão onde trabalha.

Entre as divisórias da oficina, com teias de aranha e o chão em terra batida, onde todas as manhãs se dedica às carroças, Joaquim Carvalho tenta descontrair do "stress" vivido em casa, espaço em que cuida da mulher, "necessitada de cuidados de saúde permanentes".

"Só venho para aqui de manhã, já não tenho pernas, nem saúde para mais", diz à Lusa, enquanto mostra um rolamento que vai usar para construir a roda de uma carroça.

Instado a revelar quanto é que custa uma carroça, Joaquim Carvalho responde prontamente, sem esconder o que vale a sua arte: "Custa cerca de 600 euros".

"Mas, normalmente nunca posso avançar com um preço certo, porque tenho que contar também com o trabalho elaborado pelo ferreiro", sublinha.

Enquanto movimenta, embora com dificuldade, uma roda para ser restaurada, o abegão explica que leva cerca de quinze dias a recuperar uma carroça e cerca de um mês a construir uma de raiz.

"Aqui só trabalho com madeira de azinho, não entra mais nada", afiança, orgulhoso, enquanto recorda histórias de uma vida, momentos em que a profissão de abegão era reconhecida e importante na vida do povo português.

No interior do casarão onde trabalha, o octogenário dedica-se ainda a executar outros trabalhos em madeira, mas a sua verdadeira paixão são as carroças.

Não fosse ele um homem natural de Alter do Chão, vila onde o cavalo é "rei e senhor" e a carroça uma das peças fulcrais da história de um tempo recente.

Ao final de cada dia, o abegão sonha de imediato com a manhã do dia seguinte, certo de que, quando abrir o cadeado que tranca o velho portão em madeira da sua oficina, logo será visitado por turistas que se interessam pela sua arte.

"É uma boa recompensa ser visitado e observar que as pessoas apreciam aquilo que faço. Ganho logo o dia", conta, satisfeito.

Lusa/Fim
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