Justiça argentina condena ex-padre à prisão perpétua
Wernich não demonstrou nenhuma emoção ao ser sentenciado
Um tribunal argentino condenou à prisão pérpetua, nesta terça-feira, o ex-capelão da igreja católica Christian Von Wernich, de 69 anos, acusado de “crimes de lesa humanidade, por genocídio”, durante a ditadura militar (1976-1983).
É a primeira vez que um ex-sacerdote é julgado e condenado na Argentina. Von Wernich foi responsabilizado por participação em sete homicídios, 31 casos de tortura e 42 seqüestros.
Os sobreviventes e familiares das vítimas contaram, no tribunal, que o ex-capelão ouvia as confissões, nos centros de tortura, e passava informações aos repressores.
O julgamento, mostrado ao vivo pelas principais emissoras de televisão do país, durou mais de três meses.
O anúncio do veredicto foi mostrado também num telão na frente do tribunal, na cidade de La Plata, capital do estado de Buenos Aires.
A leitura da sentença provocou gritos, lágrimas, buzinaços e fogos de artifício, na porta do tribunal, e aplausos na sala do julgamento. “Não podiamos imaginar que estaríamos vivas para ver este dia. É um dia para comemorar”, disse Taty Almeida, uma das integrantes da entidade “Mães da Praça de Maio”, formada por mulheres que perderam filhos na ditadura.
“Essa é uma decisão histórica. Uma condenação merecida, já que todas as denúncias foram comprovadas”, afirmou o secretário de Direitos Humanos do governo do presidente Néstor Kirchner, Eduardo Luis Duhalde.
Com um colete à prova de balas, Von Wernich ouviu a sentença olhando, o tempo inteiro, para o chão.
Mais cedo, antes do veredicto, ele recordou passagens da bíblia para dizer que o homem deve “ter paz no coração” e buscar a “reconciliação”.
Depois disso, num dia de fortes expectativas, o tribunal foi esvaziado, às pressas, por uma ameaça de bomba.
Entre os que acusaram o ex-sacerdote estava a família do jornalista Jacob Timerman, vítima da ditadura e dono do jornal La Opinión, fechado naqueles anos de chumbo.
“Esta condenação era o que o ex-sacerdote merecia”, disse o advogado da família Timerman, Alejo R. Padilla.
Diante de uma pergunta sobre um possível comunicado da igreja católica sobre o destino de Von Wernich, ele respondeu: “Há trinta anos esperamos esse mea culpa”.
Na Argentina, familiares das vítimas responsabilizam a igreja por “participação” ou “conivência” naqueles crimes, dizem as “Mães da Praça de Maio”.
A Conferência Episcopal Argentina divulgou comunicado, nesta terça-feira, depois da sentença, afirmando que se algum membro da instituição participou de "repressão violenta" foi por "responsabilidade própria".
BBC Brasil (10-10-2007)