EUA patrocinaram tentativas da Fatah para derrubar Governo do Hamas
A Administração Bush terá tentado derrubar o Hamas pela força, depois do movimento integrista ter vencido as legislativas palestinianas de 2006, ao patrocinar e armar as forças leais a um dos dirigentes da Fatah, adianta uma investigação da revista “
Vanity Fair”. A manobra falhou e acabaria por levar o movimento a assumir o controlo da Faixa de Gaza, em Junho do ano passado.
A revista, que diz ter tido acesso a documentos confidenciais, posteriormente confirmados por fontes palestinianas e americanas, noticia que o Presidente George W. Bush aprovou uma estratégia secreta destinada a provocar uma guerra civil nos territórios palestinianos.
O plano – posto em prática pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, e pelo conselheiro para a segurança nacional de Bush, Elliott Abrams – passava por entregar novo armamento aos serviços de segurança comandados por Muhammad Dahlan, durante anos o homem forte da Fatah na Faixa de Gaza, para que este derrubasse pela força o Governo eleito do Hamas.
“
Mas o plano falhou, resultando num novo revés para a política externa americana na era Bush. Em vez de afastar os inimigos do poder, os combatentes da Fatah apoiados pelos EUA levaram inadvertidamente o Hamas a assumir o total controlo sobre Gaza”, lê-se no artigo que será publicado na edição de Abril da “
Vanity Fair”, mas já disponível na Internet.
Em Junho de 2007, as milícias do Hamas desbarataram as forças de segurança palestinianas, que continuavam sob controlo da Fatah, e assumiram total controlo da Faixa de Gaza. Responsabilizando os islamistas pela violência, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana e líder da Fatah, demitiu o Governo e nomeou um executivo transitório, rapidamente reconhecido pela comunidade internacional, mas o Hamas não respeitou a ordem, mantendo-se no poder na Faixa de Gaza.
Esta tarde, o porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, classificou o artigo da “
Vanity Fair” de “
falso, incorrecto, mentiroso, idiota e ridículo”, denunciando a comparação feita com o “
Irangate”, nome por que ficou conhecido o escândalo que envolveu dirigentes da Administração Reagan, acusados de tráfico de armas para o Irão.
Condoleezza Rice, que hoje se encontrou com Abbas, escusou-se a comentar a investigação, alegando não ter lido o artigo, enquanto a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, se limitou a adiantar que o texto “
não é exacto”.
Bush forçou legislativas palestinianasA revista falou com Muhammad Dahlan que, apesar de não confirmar o plano americano, acusa Bush de ter forçado a realização de eleições legislativas nos territórios autónomos. O dirigente a Fatah – um dos homens mais odiados pelo Hamas pela perseguição implacável que contra o movimento – diz ter alertado o Presidente americano, com quem se encontrou três vezes, de que a Fatah não estava preparada para ir a votos. O Hamas dispunha de uma estrutura muito mais organizada que o movimento secular, lembra, mas os EUA insistiam que as legislativas eram essenciais para marcar um ponto de viragem nos territórios palestinianos após a morte de Yasser Arafat.
Sem plano B após a vitória dos islamistas, decidiu passar à ofensiva e, em Outubro de 2006, Rice deslocou-se à Cisjordânia para convencer Abbas a demitir o Governo do Hamas e impor o estado de emergência nos territórios. Segundo um memorando do Departamento de Estado a que a revista terá tido acesso, Rice terá dito ao líder palestiniano: “
Se agir neste quadro, iremos apoiar-vos quer material e quer politicamente”.
Confrontado com estas revelações, o porta-voz do Hamas disse que “
este artigo vem confirmar o envolvimento da Administração americana nos acontecimentos em Gaza” e prova “
que a Fatah foi instrumentalizada pelos americanos e deve assumir as culpas pelo que se passou”.
Publico