Todos os Turner em retrospectiva
Legenda:
Joseph Mallord William Turner (English, 1775-1851), Moonlight, a Study at Millbank, 1797, oil on canvas,
Tate Museum, London
Paula Rego não ganhou em 1989 o galardão que projectou várias carreiras .
Depois dele, a cena artística britânica nunca mais foi igual. Provocador, polémico, de pertinência discutível mas já uma instituição, o Turner Prize, o mais célebre dos prémios de arte contenporânea, é agora objecto de retrospectiva na Tate Britain, em Londres.
A exposição, patente até 6 de Janeiro de 2008, reúne as principais obras dos vencedores de 24 edições, bem como documentação sobre os 90 artistas candidatos nestes anos - incluindo a pintora portuguesa Paula Rego, que em 1989 viu o prémio ser atribuído a Richard Long.
Da pintura do ex-recluso Malcolm Morley, distinguida em 1984, na primeira edição, aos filmes e instalações dos quatro artistas eleitos este ano, foram muitos os nomes e obras catapultados para a ribalta ao longo da história deste galardão controverso.
Recordem-se, no campo dos vencedores, os painéis de Gilbert & George (1986). As esculturas de Richard Deacon (1987), Tony Cragg (1988) e Anish Kapoor (1991). Os animais cortados a meio e conservados em formaldeído por Damien Hirst (1995). Os vídeos de Douglas Gordon e Gillian Wearing (1996 e 1997). As pinturas com excrementos de elefante assinadas por Chris Ofili (1998). A instalação de luz de Martin Creed (2001). Ou as cerâmicas do artista travesti Grayson Perry (2003).
O Turner Prize foi criado pela Tate Britain com o objectivo de chamar a atenção para a arte contemporânea, numa altura em que Londres dava poucas cartas neste domínio. Agora, "os artistas britânicos são actores principais da cena internacional, Londres é o segundo mercado da arte global depois de Nova Iorque e a Tate transformou-se numa instituição de renome mundial com quatro galerias, atraindo mais de sete milhões de visitantes por ano", recorda num artigo publicado no Telegraph Louisa Buck, crítica de arte e ex-membro do júri do prémio.
Com o patrocínio do Chanel 4 e o limite etário reduzido para 50 anos - os outros critérios são: viver no Reino Unido e ter exposto no ano anterior -, o relançamento em 1991 trouxe a atenção mediática. E o público das exposições dos finalistas duplicou.
Desde 2000 que as apresentações anuais são ainda animadas pelos Stuckists, grupo de artistas que tem promovido manifestações, por vezes vestindo-se de palhaços, a favor da pintura e contra a arte conceptual que tem dominado o Turner Prize.
Mas o prémio, sob a pressão dos holofotes, acabou por ser também um presente envenenado para alguns artistas - já houve até quem recusasse participar, como Sarah Lucas ou Julian Opie -, uma vez que não garante o interesse do mercado. Além do mais, os 36 mil euros atribuídos ao vencedor e os sete mil destinados a cada um dos vencidos já não têm grande interesse para quem vende bem nas galerias.
Como salienta Louisa Buck, "o Turner não é e nunca foi um barómetro definitivo da arte contemporânea". É, sim, o resultado das escolhas subjectivas de júris que mudam todos os anos. E sempre um motivo de curiosidade.
DN (11-10-2007)