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 O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)

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MensagemAssunto: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyTer Out 16, 2007 2:05 am

O conflito colonial analisado com pormenor


Por Joaquim Furtado


Imagens de arquivo, testemunhos e infografias recheiam o trabalho

A partir de hoje, na RTP 1


"Esta guerra durou mais de 50 anos e não apenas 13, como é costume considerar. Este documentário é feito nessa perspectiva", contou, ao JN, o jornalista Joaquim Furtado, autor de "A Guerra", que hoje estreia na RTP1, logo a seguir ao Telejornal.

"A guerra como nunca foi vista" poderia ser um dos títulos do trabalho do jornalista da RTP. É que, para fazer este documentário, Furtado acabou por organizar os arquivos da RTP neste tema, explicando o que são e a que se referem muitas das imagens ali encerradas.

Recorde-se que "a guerra era um tabu e havia pouca contextualização das imagens do conflito", explicou.

Visionados os dois primeiros episódios, o JN está em condições de afirmar que há testemunhos impressionantes, descrições arrebatadoras e certas imagens que chocam pela sua frieza.

O documentário começa com dois ex-combatentes da Guerra Colonial, um português e um guineense, no norte da Guiné, a rememorar o último incidente oficial desta guerra, ocorrido a 27 de Abril de 1974. Estes nove primeiros episódios só "chegam" até 1964. Os restantes nove seguem em data a anunciar.

Ao longo das próximas nove semanas, os portugueses vão ter oportunidade de perceber, "de forma integrada e muito completa", como foi a última guerra travada por Portugal e onde cerca de 10 mil militares perderam a vida, isto sem falar da quantidade de sequelas físicas e mentais deixadas na nação.

A aritmética usada por Joaquim Furtado, para afirmar ter sido uma guerra que durou mais de 50 anos, é simples "Conto os 13 anos de guerra em Angola. Mas também conto os 11 anos de guerra na Guiné. Conto ainda os 13 anos de esforço de guerra feito por Portugal e as implicações políticas que isso teve no país. Ao que lhe acresce os 10 anos de guerra em Moçambique. Descrevendo os anos que antecederam a guerra, tudo junto são mais de 50 anos".

As guerras e o sofrimento foram simultâneos, mas "as motivações e cronologia de cada são bem diferentes", disse.

O subtítulo, "Do Ultramar, Colonial, de Libertação", mostra que assim é "para Portugal era a Guerra do Ultramar; para os portugueses contestatários do regime era Colonial; para os povos colonizados era de Libertação".

Joaquim Furtado admite que precisou de "estilhaçar" o tema da guerra, "nas suas várias perspectivas", para depois o conseguir unificar no que concerne a fio narrativo.

"Não encontrei ninguém, nem mesmo nas chefias militares de então, que soubesse de facto o que se passou em toda a guerra. Sabem uma ou outra coisa do que viveram ou assistiram, mas ninguém tem uma visão completa da guerra".

Além do recurso frequente às imagens de arquivo, que Joaquim Furtado conseguiu sonorizar recorrendo às reportagens radiofónicas do mesmo momento a que se referem, o documentário vive muito das infografias em três e duas dimensões, além de um vasto espólio testemunhal.

"Fiz questão que as imagens sobre determinado momento da Guerra fossem mesmo do momento que estou a descrever", revelou.

Acrescente-se que muitas dessas imagens são completadas com os seus intervenientes no tempo actual, a lembrar o que fizeram, porque o fizeram, a quem o fizeram.

Mais de 400 entrevistas e cinco mil horas de filme

O projecto era antigo e chegou a estar congelado por se achar "que o assunto ainda estava muito fresco na memória dos portugueses", lembrou Joaquim Furtado.

Isto aconteceu nos anos de 1980. Foi autorizado já quando o próprio Furtado ocupava a direcção de Programas e Informação da RTP, em meados da década de 1990.

Mas só quando o jornalista deixou aquele cargo, em 1998, é que começou a coligir material. "Fiz algumas entrevistas e vi alguns filmes de arquivo". Mas depois veio a ruptura com a RTP, quando começou o consulado de Emídio Rangel. Só com a actual administração é que Furtado retoma o projecto. "Atendendo a diferentes velocidades de execução do projecto, o documentário demorou seis anos a terminar", revelou.

Furtado visionou mais de cinco mil filmes, "um a um". E consultou "milhares de fotografias".

Quanto a entrevistas, foram mais de 200 depoimentos filmados e ainda 200 entrevistas sem câmara.

JN (16-10-2007)


... A não perder ! Obviamente !!!!! flower
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyTer Out 16, 2007 3:02 pm

Forte, realista, violento, verdadeiro, como nunca tinha visto ainda na tv nacional.

Para amostra (1º episódio), adorei Exclamation
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyQua Out 17, 2007 7:40 am

Críticas e elogios à guerra de Joaquim Furtado

Citação :
Os militares que fizeram a guerra em África e viram ontem a estreia do documentário da RTP dizem que ele é um marco para a História de Portugal. Mas Vasco Lourenço critica a falta de contextualização no arranque dos acontecimentos trágicos em Angola e Morais e Silva recusa condenar a posteriori a decisão de defender as colónias.

Os militares que fizeram a guerra em África, ouvidos hoje pelo SOL, elogiam o valor histórico do documentário da RTP exibido terça-feira à noite, mas não deixam de fazer algumas críticas.

O coronel Vasco Lourenço considera que «não foi dado um enfoque grande na contextualização da situação existente e dos porquês do início da guerra», referindo-se nomeadamente às pressões diplomáticas da altura contra os países colonizadores.

«O tempo de antena a Holden Roberto sem contraditório chocou-me. Teve uma posição extraordinariamente soft. Foi ele quem incentivou os actos e apareceu agora com uma imagem de quase santo», explicou.

Também o coronel Matos Gomes considera o programa um «marco histórico», elogiando as imagens, que permitem ao espectador «entrar nos ambientes».

Em relação ao conteúdo, destaca «duas marcas muito fortes». Primeiro, «a completa irresponsabilidade, incompetência quase criminosa do governo de Salazar que estava avisado que os acontecimentos de 15 de Março em Angola poderiam ocorrer. Salazar é responsável por aquelas mortes, que ocorreram de forma selvagem e dramática».

Por outro lado, fica do primeiro episódio do documentário outro dos «mitos que vieram do salazarismo»: a ideia de que o colonialismo português era «um colonialismo bonzinho» quando na verdade era «igual ao dos outros países», refere.



Acabar com os mitos


Para o coronel Sousa e Castro a intenção de Joaquim Furtado em «dar a mesma dignidade informativa às duas partes em conflito: movimentos de libertação e Estado Novo» é meritória. «Se for assim, estaremos perante o primeiro trabalho sério, de carácter informativo e de âmbito nacional, capaz de ajudar a enterrar os mitos que prolongaram para além do razoável o último império colonial europeu».


O coronel Morais e Silva, que fez duas comissões em Angola e Guiné como voluntário, por seu lado, viu o programa da RTP «com muita amargura», mas recorda que, «naquele tempo, a solução era aquela, era defender as províncias ultramarinas».

«A nossa opinião, a dos que viveram a guerra, nunca será igual à dos outros. Eu tenho uma visão mais desapaixonada. A circunstância de nela ter participado deu-me tranquilidade no juízo que faço. Para mim, a guerra já passou», afirma.

A série documental A Guerra, concebida e realizada por Joaquim Furtado, recupera imagens de arquivo da RTP, muitas delas inéditas, e exibe depoimentos de militares portugueses, colonos e combatentes dos movimentos de libertação das colónias portuguesas.

O documentário, de nove epísódios, estreou-se ontem à noite na RTP.


helena.pereira@sol.pt
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyQua Out 17, 2007 8:17 am

Também tive a oportunidade de ver parte.
É sempre bom reconhecer algumas das grandes acções praticadas pelos militares Portugueses.
Só horrivel ver a mutilação de mulheres brancas
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http://brunopaulo.miniville.fr/
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyQua Out 17, 2007 8:23 am

B escreveu:
Também tive a oportunidade de ver parte.
É sempre bom reconhecer algumas das grandes acções praticadas pelos militares Portugueses.
Só horrivel ver a mutilação de mulheres brancas

Da mesma forma, horrivel a mutilação de pretos Exclamation
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyQua Out 17, 2007 8:41 am

Não vi. Será que repetem ?
A mutilação de seres humanos faz parte do "menu" de qualquer guerra.
Lamentavelmente.
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyQui Out 18, 2007 2:20 am

Memórias da guerra batem piadas antigas

Citação :
A estreia de A Guerra foi sentida de forma antagónica pelos ex-combatentes. "Há os que gostam e os que não gostam. Não esquecer que é uma nostalgia constante", comentou Augusto Freitas, presidente da Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (APVG).

A Guerra, que se estreou ontem na RTP1, da autoria de Joaquim Furtado, apesar de gerar sentimentos contrários, foi o documentário mais visto da televisão portuguesa desde 2000 e o 2.º programa no dia de exibição.

Segundo a Marktest, foi mais visto que Mourinho em Fevereiro deste ano e bateu Os Batanetes e Casamento de Sonho, na TVI, e Malucos do Riso e Paraíso Tropical, SIC, no dia da exibição.

"Fico muito contente, porque prova que as pessoas estão interessadas em ver este tipo de programas e que afinal conseguem ter audiências elevadas", reagiu Joaquim Furtado ao DN.

O coronel Matos Gomes, reformado do Exército e ex-combatente da guerra colonial, considera que "o público português demonstrou às televisões que não é tão imbecil como o querem fazer parecer".

"É importante uma abordagem de reflexão sobre o que se passou na guerra de África. Ouvir as vozes que estiveram no terreno a lutar. Faz parte da nossa história", adiantou o presidente da APVG. Augusto Freitas é um dos muitos ex-soldados e ex-combatentes da guerra do Ultramar que se dedicam ao estudo das perturbações e traumas da guerra. "Trabalhos como este devem ser feitos para que as gerações vindouras saibam o que se passou em Angola." No entanto, não deixou de salientar o facto de para os ex-combatentes este tipo de programas "poder ser muito complicado. Se por um lado é positivo como momento de partilha com a família e amigos, por outro traz ao de cima as memórias de tempos muito conturbados".

Para o general Ferreira Pinto, presidente da Associação dos Militares na Reserva e Reforma (ASMIR), ex-pára-quedista e militar de carreira, que também esteve na guerra colonial, "este trabalho acaba por ser importante, porque fala da nossa história recente".

"É preciso não esquecer que a maior parte das pessoas que foram para a guerra não era militares de carreira. Éramos obrigados a ir e, se tentávamos fugir e a PIDE nos apanhava, éramos presos", frisou ainda o presidente da APVG.

O realizador de A Guerra é claro: " Fiz o melhor que pude."|

DN
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySex Out 19, 2007 10:23 am

Um comentário que gostei de ler, de alguém que viveu a Guerra Colonial na primeira pessoa.


Meus amigos, o meu comentário vai no sentido de reconhecer que também a mim aconteceu o mesmo que à esmagadora maioria dos jovens da década de sessenta "para Angola rápidamente e em força".

Salazar decidiu e nós qual carneiros inocentes, a maioria iletrados, politizados nem pensar, lá avançamos ao som do ANGOLA É NOSSA... e se a maioria de nós por lá nada tinhamos, alguns milhares houve que passaram a ter!

UMA TOSCA SEPULTURA aberta pelas mãos dos companheiros algures nessas longinquas paragens, (convém recordar que Salazar apenas transladava para a Metrópole os mortos das classes de Sargentos e Oficiais) as praças eram sepultadas lá, a não ser que as suas familias pagassem a transladação...!!!

O tempo passou e nos ultimos anos tenho adquirido tudo o que encontro que diga respeito à GUERRA COLONIAL, há que assumir o peso das palavras, mas não tenho encontrado nada de relevante e achava que já eram horas de a história se começar a escrever.

Surge agora este que me parece ser um trabalho de grande folgo do Joaquim Furtado, e como se aqui se prova não é necessário ter-se entrado na guerra para se fazer um trabalho sério sobre um tema que marcou negativamente a vida dos portuguêses na segunda metade do século XX e de cujo ferrete ainda não nos livramos.

Assinalo como muito positivo no meio de tudo isto, a gigantesca onda de fraternidade que se formou entre todos nós, quatro décadas depois da mobilização, que faz com que continuemos ligados pelos mesmos elos que nos uniram na longinqua década de sessenta do século passado.

Quero também dar o meu testemunho acerca do extraordinário sentimento de portugalidade que existia em Angola nessa época...

Arrepia só de recordar o respeito com que todos os cidadãos negros e brancos, se perfilavam durante o içar e o baixar da nossa bandeira no Quartel General de Luanda... o transito parava todo sem excepção, e toda a gente saía das viaturas e assistia em respeitoso silêncio à exibição da fanfarra militar que percorria a zona envolvente ao Q.G.!!!

Temo no entanto que tudo aquilo a que vamos assistindo e sentindo na pele nestes ultimos tempos tenha matado este sentimento de patriotismo que acabo de descrever.




Bem Haja a este comentador que ficou cá para contar ....

"Sorte" que a muitos intervenientes nesta guerra não tocou.
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyTer Out 23, 2007 11:54 am

B escreveu:
Também tive a oportunidade de ver parte.
É sempre bom reconhecer algumas das grandes acções praticadas pelos militares Portugueses.
horrivel ver a mutilação de mulheres brancas



Se analisar uma lágrima de uma criança mulher ou idoso seja de que cor For verá que a analise e a dor é a mesma
Verifico que Hoje todos nós sentimos que esta guerra foi fruto de muito erro não emendado a tempo
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyTer Out 23, 2007 10:18 pm

Andaram a sacrificar-se em AFRICA, PARA DEPOIS VIR O TRAIDOR DO CUNHAL, ENTREGAR AS COLONIAS AOS PCP,S locais, com a conivencia de SOARES!!!
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyQua Out 24, 2007 3:22 pm

Cyber Cop escreveu:
Não vi. Será que repetem ?
A mutilação de seres humanos faz parte do "menu" de qualquer guerra.
Lamentavelmente.

1º e 2º episódio Cool Wink
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 8:38 am

Brutalidade da descolonização merece pedido de desculpas


Vivi a maior parte da minha vida em África.

Em Moçambique mesmo quando o professor Adriano Moreira acabou com legislação racial ficou no quotidiano colonial uma prática segregacionista com a mesma força dos letreiros Whites Only na África do Sul. Lourenço Marques era um mundo psicótico inundado de meninos-criados e improváveis patrões e patroas.

Visto a esta distância era um horroroso parque temático de incongruências. Os pequeninos serviçais (os Pikinin, como os colonos de origem sul africana ainda hoje chamam aos meninos negros) tinham um magnífico aspecto, vestidos com umas fardinhas de caqui ou sarja compostas por uns calções, uma espécie de bibe e um avental, tudo a condizer. Sempre descalsos. Serviam à mesa e iam às compras e lavavam a loiça e lavavam a roupa e engomavam e depois, chegava a noite e os meninos fardados desapareciam nas dependências em pequenos quartos raramente com cama (só gostavam de cobertor), quase sempre sem luz eléctrica (bastava-lhes uma improvisada lamparina com petróleo e uma torcida de trapos). Eram crianças, quando muito adolescentes.

Por eles temos que pedir desculpas.

Joseph Conrad, no seu Coração das Trevas, descreve o horror da colonização imperial no Congo no facto de se poder punir negros com sovas monumentais e deixá-los a esvair-se numa qualquer clareira de plantação, porque depois, diz Conrad, como que por magia eles, os espancados moribundos, fundiam-se na floresta e desapareciam.

África tem uma imensa tolerância para o crime. Deixa sempre poucos ou nenhuns vestígios. Mesmo nos nossos espíritos. A negação daquilo que vimos vai acompanhar toda a geração que viu.

Havia, nas colónias portuguesas uma aceitação fatalista de quem mandava e de quem acolhia ordens, fossem elas de ir à escola buscar os meninos, à mercearia as compras. Quem plantava e colhia o algodão o café ou a cana-de-açúcar. Quem descarregava barcos no porto. Quem frequentava os clubes de elites e quem dormia no bairro de caniço sem esgotos nem abastecimento de água. E todos aceitavam.

Como se houvesse uma hierarquia natural que tinha que ser respeitada.

Como as chuvas no Verão e a seca no Inverno e as tonalidades da pele.

Porquê fazer um acto de contrição público e pedir desculpas ?

Porque nos tornávamos numa gente melhor como povo.

Tendo África, como disse Conrad, a capacidade de conseguir fazer crescer uma cortina de verdura luxuriante tornando as barbaridades parte integrante da paisagem, a nossa própria libertação acarreta a obrigação de desbastar a folhagem à catanada e revelar o que está por baixo no terreiro da plantação.

Se "os criados lá de casa sempre foram bem tratados" é preciso questionar esse "direito" que o estatuto colonial nos dava de ter serviçais.

Sempre descartáveis e sempre sem apelido. Só tinham nomes próprios quando nos satisfazia a consonância com as nossas línguas. Aceitávamos os Albertos os Antónios os Alfredos. Aos outros que viessem com nomes Changane ou Ronga chamávamos-lhes Mufana, Mainato ou, genericamente, rapaz.

A massa colonizadora não estava consciente da identidade humana de quem nos rodeava na terra que ocupámos. A repulsa com que os ideais igualitários foram recebidos nas colónias foi o sustento das políticas nacionalistas que nos acabaram por vitimizar a todos, locais e expatriados.

Infelizmente as utopias revolucionárias de Neto e Machel não acabaram com a desumanidade e as trevas.

Ter criados no Maputo é tão frequente agora como o foi em Lourenço Marques.

Morrer nos arredores de Luanda e deixar que um cadáver se funda na paisagem é tão banal hoje como nas descrições de Conrad no princípio do século passado.

Os horrores relatados hoje por Rafael Marques nos campos diamantíferos de Angola são idênticos às denúncias do bispo de Nampula e do padre Hastings nos anos setenta em Moçambique.

A chacina de opositores da Frelimo, fechados às dezenas numa prisão em Montepuez onde sufocaram até à morte, rivaliza com o que aconteceu em Wyryamu.

É como se houvesse uma propensão na espécie humana para perpetuar este estado de opressão consolidando cada vez mais a desumanização.

Podíamos começar por pedir desculpa e talvez parássemos com este nosso quotidiano de exploração de trabalho ucraniano ou brasileiro ou cabo-verdiano em casas de alterne ou nos condomínios privados (não há grande diferença).

Não devemos tolerar com indiferença que o terrível apagar das consciência que Conrad nos relevou continue aqui na "Metrópole" neste novo século em que as hordas de serviçais descartáveis vindos de S.Tomé ou Bucareste, chegada a noite desaparecem em pequenos quartos na Cova da Moura, deixando-nos a cidade livre.

E nós, com a tradição que mantivemos intacta, continuamos a não notar o que fazemos.

Pedir desculpa pelo que fizemos era um passo para por fim ao que fazemos e nas palavras de Luther King no seu I Have a Dream, depois de as pedir, poderíamos dizer muito alto "Aleluia, finalmente estamos livres".

Mário Crespo
jn
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:29 am

o QUE EU TENHO sempre DITO ; Os 10 000 que morreram na GUERRA COLONIAL, sao o equivalente a 300 000 mortos se fossem os USA!!! Ou seja, na GUERRA DO IRAQUE (GUERRA,QUE PIADA) , morreram cerca de 1% dos que morreram na GUERRA DO IRAQUE (HEROIS AMERICANOS).
capiche?
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:34 am

RONALDO ALMEIDA escreveu:
o QUE EU TENHO sempre DITO ; Os 10 000 que morreram na GUERRA COLONIAL, sao o equivalente a 300 000 mortos se fossem os USA!!! Ou seja, na GUERRA DO IRAQUE (GUERRA,QUE PIADA) , morreram cerca de 1% dos que morreram na GUERRA DO IRAQUE (HEROIS AMERICANOS).
capiche?

Mas este palerma não consegue escrever nada com nexo?
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:38 am

Palerma DEVE SER O SEU pai!!!!

O que e que nao tem NEXO? Nao e VERDADE?!!!!! OS USA TEEM 303 000 000 DE HABITANTES, portugal 10 450 000!!! FACA AS CONTAS!!! Se precisar de ajuda............
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:46 am

aqui somos todos palermas, ó ricardo.

eu até uso boina, à tóino !!!
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:49 am

A frustracao DOS esquerdas, e tao grande , QUE PARTEM sempre PARA O insulto!!! Mas frente a frente , devem ser uma DOCURA!!! Wink
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:50 am

Já releu o disparate que escreveu Question
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:55 am

A VERDADE nao vos computa na moleirinha!!!
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:57 am

AMERICANO escreveu:
A VERDADE nao vos computa na moleirinha!!!

RONALDO ALMEIDA escreveu:
o QUE EU TENHO sempre DITO ; Os 10 000 que morreram na GUERRA COLONIAL, sao o equivalente a 300 000 mortos se fossem os USA!!! Ou seja, na GUERRA DO IRAQUE (GUERRA,QUE PIADA) , morreram cerca de 1% dos que morreram na GUERRA DO IRAQUE (HEROIS AMERICANOS).
capiche?


O que é que tentou dizer com isto?
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 10:59 am

que os 10 000 portugueses, equivaleriam a 300 000 AMERICANOS, se comparar-mos a POPULACAO!!! E de compreensao LENTA?
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 11:05 am

AMERICANO escreveu:
....E de compreensao LENTA?

Aqui somos todos de compreensão lenta, americano !

Não me diga que ainda não tinha dado por isso ???? Cool Cool Cool
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptySeg Fev 18, 2008 11:07 am

NAO!!! o xo esquerda ATE QUE RACIOCINA rapido!!!
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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyTer Fev 19, 2008 5:40 am

AMERICANO escreveu:
NAO!!! o xo esquerda ATE QUE RACIOCINA rapido!!!

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Vitor mango

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MensagemAssunto: Re: O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1)   O conflito colonial analisado com pormenor (RTP 1) EmptyTer Fev 19, 2008 5:41 am

vemos uma gaja raciocinando
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