António Costa na Quadratura do Círculo
"Quando é parte, António Costa terá tendência a defender-se. E quando é juiz, as afirmações terão sempre subjacente a sua qualidade de parte, o que tornará suspeita qualquer posição".
A participação do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa num programa semanal de televisão não era, afinal, uma mentira do dia 1 de Abril. É pena porque, a pouco e pouco, a desconfiança em relação aos políticos, em geral, e aos detentores de cargos públicos, em particular, se vai alimentando de exemplos que corroem, num crescendo subtil mas inexorável, os alicerces de uma sociedade democrática.
Não está em causa a liberdade que uma televisão privada tem para contratar um novo "entertainer" de comentários políticos, ao sabor dos acontecimentos da semana, nem, tão pouco, os critérios subjacentes à sua escolha.
O que está em causa é que o detentor de um cargo executivo não se iniba, por sua própria iniciativa, de se separar da função de Presidente da Câmara Municipal de Lisboa para aparecer nos ecrãs a comentar uma realidade como se ela lhe fosse exterior.
Ninguém pode, legitimamente, ser, ao mesmo tempo, parte e juiz, no pressuposto de que os tele-espectadores podem distinguir em que qualidade fala: se de parte, se de juiz. O próprio anúncio de que o Presidente da Câmara de Lisboa foi contratado "a título individual" funde a pessoa com o cargo.
Não sendo ingenuidade, só pode tratar-se de um embuste: confundir quem o ouve e, sobretudo, esconder que a limitação inerente a esta dupla identidade é assassina da isenção que se pretende transmitir. Quando é parte, terá tendência a defender-se. E quando é juiz, as afirmações terão sempre subjacente a sua qualidade de parte, o que tornará suspeita qualquer posição.
A dupla personalidade com que nos surgem políticos/comentadores detentores de cargos públicos não contribui para a clarificação da vida política nem, tão-pouco, para a confiança que gostaríamos de ter numa informação que se diz isenta.
O Presidente da Câmara de Lisboa, que se proclama político exigente, não resistiu à tentação de ganhar notoriedade nos ecrãs de televisão, ao invés de o fazer em fórum próprio no exercício do cargo para o qual foi eleito.
Numa ânsia cega de protagonismo, não quis ver que, com a sua entrada como comentador, pisou perigosamente o risco dos mais elementares princípios éticos.
Margarida Saavedra
Vereadora do PSD na Câmara Municipal de Lisboa