Droga: Portugal pode ter papel fundamental no combate ao tráfico em África - governo EUA
Um responsável do Governo norte-americano defendeu hoje um reforço da cooperação com os países africanos rotas de tráfico de drogas, considerando que Portugal poderá ter um papel "fundamental e privilegiado" na mediação com nações como a Guiné-Bissau.
Em declarações à Agência Lusa na embaixada norte-americana de Lisboa, o director do Gabinete da Política de Drogas dos Estados Unidos (EUA), John P. Walters, sublinhou que é muito importante "cooperar globalmente" com países como Portugal, que "têm uma melhor habilidade em trabalhar com Estados africanos, como a Guiné-Bissau, devido a sua boa relação, cooperação e contacto privilegiado".
Walters lembrou que "as rotas internacionais de tráfico de droga para a Europa têm vindo a mudar" e que a Costa ocidental da África está a tornar-se cada vez mais "um lugar de tráfico para a rota de cocaína".
"Uma maior cooperação com a África, especialmente com os países que se tornaram alvo do fluxo de tráfico internacional, é fundamental e um dos principais objectivos do nosso Governo", afirmou John P. Walters.
O director do Gabinete da Política de Drogas dos EUA sublinhou que a intenção do Governo norte-americano passa por "aumentar as capacidades de resposta" de países africanos como a Guiné-Bissau ou Cabo Verde, para que estes "possam fazer frente ao fenómeno da droga".
"É aqui que a nossa relação com Portugal é tão valiosa. Portugal está mais do que nunca na linha de frente do problema da cocaína", frisou.
John P. Walters sublinhou que o combate contra as novas rotas africanas de droga é fundamental "para combater o fenómeno a nível internacional, reduzir o abastecimento para a Europa, mas também para evitar as consequências graves para a África, onde já existem problemas de governação".
"O nosso problema está mais do que nunca ligado a trabalhar com Portugal e às relações que o país tem com países africanos", reiterou.
John P. Walters lembrou que o crescente aumento dos fluxos de droga para Africa têm consequências "desastrosas" para os países africanos, uma vez que "geram muito dinheiro, fazem aumentar as organizações criminosas, a corrupção e o consumo de droga junto da população desses países".
"Isto afecta, não só, a população imediata, mas regiões inteiras", lamentou.
Segundo o director do Gabinete da Política de Drogas dos Estados Unidos, existe actualmente "uma oportunidade para mudar esta situação para melhor", mas esta "janela de oportunidade não vai durar para sempre".
"É fundamental actuar quanto antes e não deixar que a impunidade prevaleça na região e que essa área se torne ponto de fluxo livre para a droga", afirmou.
Portugal é actualmente o principal parceiro do governo da Guiné-Bissau no combate ao narcotráfico, tendo doado três milhões de euros em Dezembro passado, para ajudar as autoridades guineenses a combater o flagelo.
Os fundos foram disponibilizados no âmbito da Conferência Internacional Contra o Tráfico de Droga na Guiné-Bissau, que decorreu a 19 de Dezembro, em Lisboa, e que juntou representantes de vários doadores do país, bem como organizações internacionais.
Ainda no âmbito da ajuda à Guiné-Bissau e na sequência de pedidos do governo guineense, que criou um Programa de Urgência de Combate ao Tráfico de Droga, as autoridades portuguesas enviaram um agente da Polícia Judiciária para Bissau e tem sido dada formação aos agentes locais em várias áreas, nomeadamente investigação criminal e direito penal.
Os primeiros rumores da utilização do território da Guiné-Bissau pelos narcotraficantes da América Latina para fazer entrar droga na Europa surgiram em 2005, mas só em 2007 a questão do tráfico de droga saltou para as páginas da comunicação social mundial.
Ainda durante o ano passado, várias organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas, denunciaram a utilização da Guiné-Bissau por traficantes de droga como placa giratória para fazer entrar cocaína na Europa, bem como o alegado envolvimento de autoridades do país no tráfico.
Segundo a ONU, a droga está a perverter a economia da Guiné-Bissau e a "apodrecer a sociedade" e o valor do comércio de estupefacientes no país é maior que todo o rendimento internacional.
Em dois anos, a Polícia Judiciária guineense aprendeu mais de uma tonelada de cocaína, mas tem sido confrontada com várias dificuldades ao nível de infra-estruturas e equipamentos para combater o flagelo.
Actualmente, segundo fontes policiais contactadas pela Agência Lusa em Bissau, os traficantes de droga estão mais "discretos" e podem ter mudado temporariamente para a vizinha Guiné-Conacri.
As mesmas fontes acrescentaram que isto se ficou a dever a várias operações da Polícia Judiciária, na sequência dos apoios dados pela comunidade internacional no âmbito do combate ao tráfico de droga.