Mineiros da Urgeiriça em protesto

Na semana passada morreu mais um antigo mineiro da Urgeiriça com cancro no pulmão. Desde que as minas encerraram em 2001, já se contabilizam mais de 100 vítimas entre os ex-trabalhadores da empresa nacional de urânio (ENU). Os colegas dizem-se abandonados pelo Estado. Vão voltar aos protestos esta segunda-feira, no dia em que são inauguradas as obras de requalificação ambiental na Urgeiriça, no concelho de Nelas.

Alexandrino Henriques é mais um número na já longa lista de mortes de ex. trabalhadores das minas da Urgeiriça.

Aos 60 anos, o ex-mineiro morreu com cancro no pulmão. Esposa e colegas não têm dúvidas: é mais uma vítima da exposição à radioactividade a que esteve sujeito durante anos.

“Os médicos disseram que vinha tudo das minas”, balbucia Conceição Ramos, a viúva ainda desfeita com a morte de Alexandrino.

Carlos Gomes, antigo mineiro, conta que, quando trabalhavam nas minas, não faziam ideia do perigo a que estavam sujeitos: “sabíamos lá o que era o urânio, até se brincava com ele. Até se levavam pedras para casa para se mostrar”.

“Já são cento e tal homens que morrem de cancro”, contabiliza horrorizado Álvaro Melo, outro ex-mineiro.

A autoridade de saúde da região é mais prudente e recusa-se a estabelecer um nexo de causalidade entre mais uma morte e o trabalho mineiro.

“É do nosso conhecimento que era uma pessoa que fumava 60 cigarros por dia. Nós não podemos dizer que o problema foi causado pelo tabaco, mas também não podemos dizer que foi causado pela exposição ao minério”, explica Bernardino Campos, delegado de saúde de Nelas, que tem acompanhado os casos da Urgeiriça de perto.

As reivindicações dos ex-mineiros

António Minhoto, porta-voz dos ex. trabalhadores da ENU, é peremptório: “Nós não precisamos de estudos. Estão aqui as mortes e o tabaco não provoca este tipo de cancro. Porque é que não morrem com outras patologias e morrem sempre com estas?”.

É por isso que reivindicam a equiparação de todos a trabalhadores de fundo de mina, para poderem obter a reforma aos 55 anos.

“Nós morremos mais cedo. Se devíamos morrer aos 70, morremos aos 60. Tem de haver uma compensação para isso”, reivindica Carlos Gomes.

Álvaro Melo concorda e refere ainda que desde que saiu das minas da Urgeiriça, nunca mais conseguiu um trabalho certo. Agora, aos 59 anos, a saúde também já não lhe dá forças.

Alexandrino Henriques também estava desempregado quando foi vítima de cancro.

Sem fontes de rendimento, a viúva enfrenta agora sérias dificuldades.
Problemas que podem ser resolvidos com outra exigência dos ex-mineiros: uma indemnização às famílias das vítimas.

Carlos Gomes ataca: “Esta senhora podia ter tido mais tempo para usufruir da companhia do marido. Acho que deve haver uma compensação para essa situação”.

Conceição Ramos chora quando lhe perguntamos do que vive. “Vivo de uma quinta que cultivamos, tenho batatas, cebolas” e pouco mais.

No dia da inauguração das obras de requalificação ambiental na Urgeiriça prometem uma grande concentração como forma de protesto.

Se o Estado não atender as reivindicações dos ex-trabalhadores da empresa nacional de urânio, vão avançar com uma nova jornada de luta no 25 de Abril.

Minas da Cunha Baixa