A "marca"
Nuno Rogeiro, Comentador político
OGoverno português acaba de lançar uma campanha internacional, de largo alcance e espectro (como se diria com os antibióticos), intitulada "A Costa Ocidental da Europa".
Uma das suas traduções é um atractivo encarte no influente boletim dos EUA, "Foreign Affairs".
A iniciativa é excelente. Lembro-me de, nos anos 80, Madrid ter feito algo de semelhante.
Nas grandes revistas internacionais, aparecia um olho, imitando um desenho de Miró, sobre a Península Ibérica. Lia-se aí que Espanha era a "fronteira ocidental" da Europa.
O tamanho do olho era tal que Portugal - certamente que só por acaso, acidente gráfico ou coincidência (explicação das boas almas) - desaparecia.
Por outras palavras, o olho espanhol preenchia o Ocidente da Europa.
Fez-se agora justiça. Histórica e geográfica. E há, no encarte da revista americana, uma soberba fotografia de Lisboa, "capital da Europa", entre o Atlântico e o Tejo.
Essa imagem sugere o resultado da busca de Denis de Rougemont (outro sonhador com a Europa), que disse um dia ao seu aluno Durão Barroso "Portugal, apesar de problemas circunstanciais, é o país perfeito".
Bonito e reconfortante. Sobretudo porque o encarte de "Foreign Affairs" divulga - internacionalmente - o óbvio.
Hoje sem "massa crítica" ligada à extensão territorial, ou à importância populacional, Portugal precisa de outras contas.
Necessita, como refere a publicidade, de "capitalizar com a globalização" e de "internacionalizar" as empresas, independentemente do seu tamanho. Tem de apostar na "sociedade do conhecimento", na formação dos quadros, na queima de etapas na evolução técnico-científica.
Precisa de descobrir novos mercados e parceiros, de aproveitar a localização geográfica e o clima para desenvolver energias "verdes", turismo "de referência", intercâmbio lucrativo, e tornar Portugal a plataforma logística intercontinental, por excelência.
Precisa de criar pontes com os BRIC, calão para as novas potências emergentes, e de co-liderar o processo político europeu.
Precisa de deixar a sua "marca" no Mundo. Através de produtos tradicionais (materiais e intelectuais) de qualidade, da invenção indígena, e da recriação talentosa de fórmulas experimentadas (algo que o encarte só toca de leve).
E necessita de dar à língua o seu valor estratégico, englobando a força de 270 milhões, sem a deixar soçobrar em facilidades desvirtuantes (coisa que o encarte omite).
Ou seja todos sabemos - mais ou menos - o que fazer.
O problema é o de verificar se há hoje, na classe política, e apesar do empalidecimento do Governo e da crise da oposição principal, forças para que o "evidente" seja feito. E saber se o estado se reforma, à medida das necessidades.
Sem essas "condições objectivas", a "marca portuguesa" é uma miragem.
Nuno Rogeiro escreve no JN, semanalmente, às sextas-feiras