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 Uma limusina portuguesa em NY

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ypsi




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Uma limusina portuguesa em NY Empty
MensagemAssunto: Uma limusina portuguesa em NY   Uma limusina portuguesa em NY EmptySáb Out 27, 2007 3:58 am

Uma limusina portuguesa em NY



Sensibilizado, Cavaco Silva abraçava, numa recepção à comunidade portuguesa em Nova Iorque, um português que lhe dizia ter vindo da Jamaica (bairro de Queens).

O primeiro-ministro de então pensou que ele morava na ilha do reggae. Irritado, Mário Soares queria ir sem os "tipos grandes" - como o (na época) PR chamava aos guarda-costas americanos - ao clube de jazz Blue Note.

Apenas dois episódios testemunhados por Pedro Faria, que durante duas décadas transportou, não apenas em Nova Iorque, cidade acerca da qual parece pensar o mesmo que todos os que se revêem no logótipo de Milton Glaser ("I love NY"), mas também daquela cidade até Washington ou mesmo Otava (Canadá), na sua empresa de limusinas (a Interstate Limousine Service) "diferentes presidentes da República, primeiro-ministros, ministros, secretários de Estado, embaixadores e cônsules, num rol de personalidades sem conta".

"Depois de uma passagem por França para fugir à guerra colonial, onde participei em cantos livres, peças de teatro encenadas por Hélder Costa, manifestações estudantis e até assisti na redacção ao número zero do Libération juntamente com Jean-Paul Sartre, o Portugal do pós-25 de Abril estava a mandar-me embora.

Andara pelo MRPP e tivera problemas na empresa farmacêutica onde eu e a minha primeira mulher fôramos objecto de processos disciplinares. Foi então que apareceu a oportunidade de ir até aos Estados Unidos. Decidi partir."

Assim começa o livro Ao Volante do Poder (Bertrand), em que se contam as peripécias de Pedro Faria, que o escreveu em parceria com o jornalista Nuno Ferreira.

Ao longo dos anos de condutor, ao correr das páginas, percebem-se as grandezas e as misérias dos que são importantes ou se fazem passar por tal, do pedido para atrasar o voo da TAP ao esquecimento de deixar gorjeta nos restaurantes.

Se Jaime Gama não perdia a oportunidade para visitar as livrarias nova-iorquinas, se Deus Pinheiro aproveitava a ocasião para adquirir uns tacos de golfe, se Roberto Carneiro não descurava a hipótese de arranjar umas pautas para a sua filha maestrina, outros queriam fazer horas nocturnas de prazer à conta dos serviços de limusina que o Estado tinha contratado e pago.

Pedro Faria escutou Freitas do Amaral a ler, em voz alta, a versão final das suas memórias e Sousa Franco a dissertar sobre museus.

Ficava à espera de Belmiro de Azevedo enquanto o empresário ia ver a forma como as grandes superfícies americanas expunham os produtos nas prateleiras.

Andou à procura do anel de noivado que a mulher de Mira Amaral tinha perdido. Teve de esfregar com pomada o tornozelo de Teresa Costa Macedo quando a (na época) secretária de Estado torceu o pé ao sair do carro. Até informou Ferro Rodrigues que o então ministro passara a ter mais uma pasta na remodelação ocorrida horas antes.

Para desculpar um dos vários atrasos da mulher de Durão Barroso, que irritavam o político, certa vez inventou um incêndio no Soho.

Noutra ocasião, enquanto aguardava que acabasse a missa onde tinha ido Paulo Teixeira Pinto, um padre pediu-lhe para participar no peditório e recolheu a nota que o sorridente empresário lhe colocava no cesto de esmolas.

E uma vez, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros, João de Deus Pinheiro, acedeu a dar boleia ao então líder da oposição, António Guterres, a certa altura da viagem envolveram-se os dois numa acesa discussão. Política? Não! Marcas de automóveis.

Os episódios, se mostram facetas menos conhecidas das figuras públicas, também revelam bastidores da História recente.

Após anos e anos em que os representantes portugueses fugiam do "chato do Ramos Horta" nos corredores da ONU, a chegada de Xanana Gusmão a Nova Iorque, vindo directamente da prisão, teve um aparato de segurança superior ao dispensado a qualquer político português.

A administração americana queria evitar qualquer atentado no seu território e era tudo sigiloso. Mas, ao chegarem ao hotel, havia câmaras de televisão.

Quem tinha falado à Imprensa, dizendo que Xanana iria ficar naquele hotel? Ninguém. Era a festa de despedida de solteiros de Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones.

DN (27-10-2007)
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