Câmara Municipal de Setúbal
Conferência realça contributo civilizacional da China
As "repercussões civilizacionais” das Rotas da Seda, traçadas por asiáticos e ocidentais, foram fundamentais para a construção de um “mundo multicultural e multiétnico”, afirmou, no dia 10, em Setúbal, o presidente do Observatório da China.
Rui D’Ávila Lourido, mestre de História da Expansão, falava, na Biblioteca Pública Municipal, numa conferência subordinada ao tema 'Novos Mares, Novas Terras, Novas Gentes: As Rotas da Seda', que se seguiu à inauguração da exposição 'As Grandes Viagens Marítimas da China'.
A exposição – patente até 15 de Dezembro, na qual se integram mais duas palestras – promovida pela Câmara Municipal de Setúbal, Observatório da China e Embaixada deste país, pretende homenagear o contributo dos navegadores chineses para o conhecimento náutico e estabelecimento da Rota Marítima da Seda.
Para o orador, as Rotas da Seda “desenvolveram o cosmopolitismo das grandes cidades” chinesas e ocidentais e “constituíram-se num conjunto de itinerários físicos, quer terrestres, quer marítimos”.
Estas rotas, salientou, permitiram a circulação não apenas de pessoas e bens materiais – as “exóticas e valiosas mercadorias” – mas, também, de um “conjunto de valores culturais no mais lato sentido do termo”.
Neste contexto, enfatizou, “Oriente e Ocidente interagiram de forma marcante um sobre o outro, como ainda hoje se pode assistir no multifacetado quotidiano de cidades como Macau e Manila”.
D’Ávila Lourido lembrou que, quando se fala da Rota da Seda, normalmente refere-se à “caravaneira aberta por Zhang Qian, na dinastia Han Ocidental, passando a sul das montanhas de Tianshan”, por Yumen em Gansu e pelo deserto de Gobi, que “foi a primeira grande expedição chinesa à Ásia Central”.
Esta rota, disse, passou a ser uma importante via de comunicação continental entre a Ásia Oriental e a Central.
O orador precisou que “posteriormente à expedição de Zhang Qian”, a dinastia Han “enviou, anualmente, cerca de cinco a 12 missões político-económicas aos países a ocidente do seu território”
Nestas missões, as “trocas comerciais incluíam grandes quantidades de seda e algodão para os Hunos, recebendo cavalos em troca”.
No ano 3 a. C, referiu, calcula-se que tenham sido transaccionadas 30 mil peças de seda e 15 toneladas de algodão.
Quanto à rota marítima da seda, que veio a ligar a Europa à China, “teve como motivação ultrapassar as limitações das rotas terrestres da Ásia Central” caracterizadas por turbulências político-militares e religiosas.
Noutra passagem da dissertação, D’Ávila Lourido frisou que a “abertura da China Ming, durante as três primeiras décadas do século XV, permitiu a organização do maior conjunto de expedições marítimas da sua História”.
Para o palestrante, tal representou o “culminar das técnicas de navegação chinesa nos oceanos Pacífico e Índico, levando-os [ao chineses] através da Ásia e Sudeste até à Índia e à Costa Oriental de África”.
Zheng He, lembrou, “foi o organizador destas expedições marítimas – sete, entre 1405 e 1433 – transformando-o num dos maiores navegadores chineses, senão mesmo o maior”.
O papel histórico deste navegador foi reconhecido por “estudiosos orientais”. Um deles, Debenham, chamou-lhe “Vasco da Gama da China”.
O orador considera que os “objectivos para a realização destas expedições foram, naturalmente, multifacetados, mas, no essencial, parece terem prevalecido os de carácter político”, mas procurava-se, também, “desenvolver os conhecimentos geográficos”.
D’Ávila Lourdo, a propósito das lendas sobre Zheng He sublinhou que a “tese da circum-navegação do Globo e descoberta de todos os continentes” pelo navegador “é uma ficção, tentando fazer-se passar por História”.
Para ele, esta mentira é um “mau serviço à dignificação da memória do grande navegador chinês”.
O palestrante sublinhou que Zheng He “não necessita daquela ficção” e que “será sempre recordado como o grande navegador chinês, não só na História da China e da Ásia, mas, também, da navegação internacional”.
O embaixador da República Popular da China em Portugal, Gao Kenxiang – presente na abertura da exposição e na conferência – foi recebido, pouco antes, nos Paços do Concelho, pelo vereador André Martins, em substituição da presidente da Câmara Municipal de Setúbal.
A próxima conferência está marcada para o dia 23, às 18h00, também na Biblioteca Pública. O orador é Baptista Pereira, que falará sobre o impacte do movimento de expansão marítima e económica europeia na China da Idade Moderna nas mentalidades e na cultura.
A última palestra é em 15 de Dezembro, às 16h00, no mesmo local. O orador é Rui Pereira, do Ministério da Economia e Inovação, que vai dissertar sobre 'As relações entre a China e Portugal na actualidade e Perspectivas Futuras'.
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