Gestores, não MBAs
Ao mesmo tempo que o valor de mercado dos MBA está claramente em alta, o seu prestígio e credibilidade junto do meio académico parece estar em baixa.
Sumantra Ghoshal, o lendário professor da London Business School, falecido em 2004, defendeu que “muitos dos actuais excessos na prática da gestão têm origem no que tem sido ensinado nos últimos 30 anos.
O problema é que as universidades querem passar a ideia que a gestão é uma ciência exacta”, num artigo publicado postumamente pela “Academy of Management Learning & Education”.
Também Jeffrey Pfeffer, professor de Stanford e autor de vários livros, recorda um estudo realizado no ano 2000 onde se provou que havia uma correlação estatística entre as empresas que tinham um elevado número de gestores de topo com MBA e o número de queixas da violação de regras (por exemplo de segurança ou saúde) por parte dos trabalhadores e dos clientes. Mas a crítica mais demolidora aos MBA proveio deste livro de Henry Mintzberg “Gestores, não MBA” lançado recentemente em Portugal.
O célebre professor canadiano, conhecido pela defesa de teorias de Gestão pouco ortodoxas, argumenta que “os MBA treinam as pessoas erradas, de uma forma errada e geram consequências erradas”.
Ele acredita que os estudantes de MBA são demasiado novos (uma tendência nos Estados Unidos e que agora chegou à Europa devido ao acordo de Bolonha que diminuiu a duração das licenciaturas) e inexperientes. “A ideia de que se pode transformar jovens inteligentes - mas sem experiência - em gestores eficazes, durante um curso de dois anos é ridícula”, sublinha.
Segundo Mintzberg, as técnicas que são ensinadas aos alunos de MBA seriam mais facilmente assimiladas nas próprias empresas do que numa sala de aula.
Ele acredita que “os programas de MBA ignoram que a gestão é uma prática, algo que requer mais traquejo e intuição do que a habilidade para analisar números e inventar estratégias”.
Mintzberg aproveita para recordar que muitos dos líderes empresariais mais admirados do mundo não têm um MBA (caso de Warren Buffett, Herb Kelleher, Michael Dell, Bill Gates, Jack Welch e Oprah Winfrey) e alguns deles nem sequer têm uma licenciatura.
Para quem não conhece as obras do autor recomendamos também a leitura dos clássicos. “The Nature of Managerial Work” estudou a fundo o modo como os gestores realmente trabalham concluindo, por exemplo, que o tempo médio que dedicam a cada assunto é de apenas nove minutos.
“The Rise em Fall of Strategic Planning”, defendeu que os planos estratégicos são um documento que já não tem qualquer utilidade, pois correm o risco de ficar obsoletos assim que terminados. A frase: “a estratégia não se planeia, constrói-se”, ficou célebre.
Gestores, não MBAs
Autor: Henry Mintzberg
Editora: Dom Quixote
Páginas:576
Preço: 18,85 €
Ranking 4 estrelas
O Melhor:
Mintzberg defende neste livro que os MBA “treinam as pessoas erradas, de uma forma errada e geram consequências erradas”. É a crítica mais demolidora jamais feita aos programas de MBA, que se tornaram numa “indústria” global.
O pior:
Mintzberg gosta de ser polémico. No primeiro livro, ele assinou a certidão de óbito do planeamento estratégico. Neste, apesar da pertinência dos argumentos – nomeadamente o da juventude dos alunos, cremos que há algum exagero na crítica.
PERFIL DO AUTOR
Henry Mintzberg é um dos mais importantes gurus mundiais da estratégia.
A sua fama advém, sobretudo, de duas obras clássicas: "The Nature of Managerial Work" (1973) o primeiro estudo sério sobre como os gestores utilizam o seu tempo e "The Rise and Fall of Strategic Planning" (1994), considerado "a certidão de óbito do planeamento estratégico". Recentemente escreveu outras obras interessantes tais como "Strategy Safari" (1998), uma viagem às principais correntes teóricas da estratégia, que teve direito à sequela "Strategy Bites Back" (2005) e ainda "Why I Hate Flying" (2000), em que confessa num tom bem-humorado porque odeia viagens de avião. Mintzberg licenciou-se em Engenharia Mecânica na Universidade de McGill, em Montreal, e conclui o MBA pelo MIT em 1968. Hoje é professor de Gestão na McGill e no International Masters in Praticing Management, instituição que fundou há 10 anos em parceria com diversas universidades europeias (Insead e Lancaster), japonesas e indianas.
Público (12-11-2007)
Uma opinião interessante !