Kadhafi diz que parlamentos não respeitam a vontade popular
Muammar Kadhafi deixou ontem três ideias incómodas à reflexão do mundo a transferência dos poderes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Assembleia Geral; a indemnização pelos países europeus, antigos colonizadores, aos estados africanos que foram por eles colonizados (e a devolução "das riquezas roubadas"); e o fim dos parlamentos. Porque não respeitam a vontade popular.
O presidente líbio - o chefe de Estado presente em Lisboa para participar nos trabalhos da II Cimeira União Europeia-África que, a par do presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, atrai mais atenções mediáticas - disse ainda, numa alusão aos EUA, que não se pode exortar à criação de regimes democráticos quando há "uma ditadura" na ONU.
Na alocução de mais de uma hora, "Problemas da Sociedade Contemporânea", na Universidade de Lisboa, o líder carismático da Líbia condenou a invasão do Iraque e defendeu ser preciso impor "a força da lei e não a lei da força". "Hoje não existem fracos e fortes e os fracos também conseguem vingar-se.Vimos que o fizeram. Devemos é interrogar-nos sobre as razões", assinalou.
"Se uns países podem usar a força, os outros têm também esse direito; se uns possuem armas nucleares, como proibir que outros as tenham?", questionou, em referência ao braço-de-ferro que os EUA mantêm com o Irão.
Os políticos nada resolvem
Face à violação do direito internacional, Kadhafi afirmou que "uns reagem com desespero batendo com a cabeça na parede, outros como 'kamikazes' ou atirando aviões contra um prédio".
"Somos contra essa reacção", sublinhou, mas para evitá-la será preciso "dialogar com o Oriente", e isso só acontece se os cidadãos pressionarem os governos.
"Não podemos contar com os políticos para resolver o problema. Queria dizer à opinião pública e aos académicos para não deixarem a situação nas mãos dos políticos que nada resolvem. É preciso a pressão do povo", salientou.
Aludindo aos aliados dos EUA na guerra do Iraque, Kadhafi disse que os parlamentos são manietados pelo Governo "e a vontade do povo não é respeitada. Se o Parlamento representa o povo, por que protesta ele nas ruas?", questionou, antes de afirmar que "a maioria parlamentar é uma maioria falida" de legitimidade.
O poder deve retornar ao povo, porque nenhuma família envia os filhos em missão militar para matar os filhos de outros "Se o povo governar, acabam as guerras, a imigração e o colonialismo". E "a Europa deve indemnizar os países africanos por séculos de colonialismo, retirar as minas antipessoais e devolver as riquezas roubadas; senão, os legítimos donos irão reclamá-las".
A Líbia dispõe de 180 mil milhões de dólares para investir nos próximos três anos no país e exorta os empresários portugueses a aproveitarem esta oportunidade, disse ontem o ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação líbio. "Dispomos de 180 mil milhões de dólares (123 mil milhões de euros) em fundos para investir entre 2008 e 2010 e queremos que as empresas portuguesas aproveitem esta oportunidade para reforçar a cooperação económica com o nosso país", disse Mohamed Siala, em Lisboa. O governante reuniu-se ontem com o presidente da AICEP, Basílio Horta, na sede da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. Segundo Mohamed Siala, "os empresários portugueses podem participar na construção de aeroportos [exemplificando o caso do aeroporto de Trípoli], no turismo, hotelaria, resorts, mobiliário, auto-estradas, agricultura e agro-indústria e no sector ferroviário".