Houston, temos um problema
Tenho o sentido de orientação de um grande navegador, no sentido em que, tal como Cristóvão Colombo, seria capaz de ir dar à América se quisesse ir até à Índia
Eu tenho tanta tecnologia ao meu dispor que até fico com dor de cabeça.Telemóveis, microondas e Internet são impressionantes, sobretudo na medida em que o seu processo de funcionamento é completamente incompreensível para mim: como é que os telefones comunicam sem fios? Como é que a comida aquece no microondas sem ir ao lume? Como é que aquelas senhoras que protagonizam certos filmes que há na Net têm seios tão fartos? Desconheço. E, no entanto, a tecnologia permite que eu aceda ao melhor que a vida tem: a capacidade de comunicar numa emergência, comida quente e seios fartos. Julgo, porém, que não há nada que se compare ao GPS.
A aquisição de um GPS foi um dos momentos mais altos da minha vida. Tenho o sentido de orientação de um grande navegador, no sentido em que, tal como Cristóvão Colombo, seria capaz de ir dar à América se quisesse ir até à Índia. E agora há uma maquineta, chamada GPS, que conferencia com três ou quatro satélites para me dar indicações na estrada. Neste momento, há geringonças metálicas extremamente sofisticadas que orbitam no espaço para me aconselharem o melhor caminho entre a minha casa e a mercearia. Andam coisas pela estratosfera a trabalhar só porque eu preciso de comprar cebolas. O GPS é um pequeno passo para o homem, mas um salto de gigante para a humanidade virar na segunda à esquerda. Há, porém, alguns aspectos a melhorar.
O meu GPS, por exemplo, dá indicações com uma voz feminina ou com uma voz masculina. Não funciona. Por uma questão de orgulho masculino, repugna-me receber indicações de outro homem. Não estou disposto a admitir que haja um gajo que sabe mais de caminhos do que eu. E, por uma questão de bom senso, recuso receber indicações de uma mulher. Não conheço ninguém do sexo feminino que consiga distinguir a direita da esquerda. Quando a senhora do GPS me manda virar à direita, tenho a tentação de virar à esquerda, o que acaba por me tolher os movimentos. Recomendo que os técnicos que concebem o GPS passem a fazer com que a senhora dê indicações de uma forma que garanta ao utilizador que ela sabe do que está falar. Por exemplo: «Vire ali como quem vai para a Zara.» Ou: «Saia na rotunda junto à loja que tem na montra aqueles sapatos pretos giríssimos.» Outro aspecto a melhorar: o GPS deve ter em conta as especificidades das estradas nacionais. Quando opera em Portugal, não basta dizer: «Vire à direita.» Há que ser mais preciso: «Vire à direita, a não ser que isso esteja em obras novamente. Nesse caso, vá em frente. A menos que tenha havido mais um acidente. Vire então à esquerda. A não ser que o viaduto tenha caído. Nesse caso, o melhor é voltar para casa e não sair de lá.» Façam lá isso para eu actualizar o meu GPS na Internet.