Hillary e Obama à caça dos superdelegados
MANUEL RICARDO FERREIRA, Nova IorqueHillary e Obama à caça dos superdelegados
Em Denver, estes delegados podem vir a ser decisivos Até
agora os superdelegados eram vistos como uma espécie de "barões" do
aparelho do Partido Democrata, chamados a participar com pompa e
circunstância nas convenções. Todos eles têm ou tiveram posições de
liderança e na maioria são funcionários eleitos.
É nessa qualidade de eleitos, e uma vez que também têm que passar por
campanhas eleitorais, que um estudo feito pela ONG Centro para Política
Responsável veio descobrir um aspecto interessante: ao longo dos
últimos três anos, as campanhas de Hillary Cinton e Barack Obama
contribuíram com 890 mil dólares para esses delegados.
Diz o estudo que "Obama encaminhou mais de 694 mil dólares para
superdelegados através da sua comissão de acção política, Hope Fund, ou
comissão de campanha desde 2005. Dos 81 funcionários eleitos que até 12
de Fevereiro anunciaram os seus votos como superdelegados para o
senador do Ilinóis, 34 (40% do grupo), receberam dele contribuições de
campanha nos ciclos eleitorais de 2006 e 2008, num total de 228 mil
dólares. Recebeu também o apoio de 52 superdelegados que não
concorreram recentemente a eleições, e, portanto, não receberam dele
contribuições para campanha."
Quanto a Hillary Clinton, "a sua comissão de campanha, HILLPAC,
distribuiu 195 mil dólares por superdelegados. Só 12% dos seus
superdelegados eleitos, ou 13 em 109 que dizem apoiá-la, receberam
contribuições de campanha, totalizando cerca de 95 mil dólares em 2005.
Outros 128 superdelegados apoiam Clinton."
Larry Sabato, cientista político da Universidade da Virgínia, diz que
"só os limites da criatividade humana podem restringir as formas
através das quais Obama e Clinton vão tentar ajudar os superdelegados.
Creio que se a nomeação de facto depender dos superdelegados, a regra
não escrita será "pede e talvez recebas".
Mas de facto a regra dos superdelegados é não serem fiéis a ninguém até
à convenção. Estão, por isso, a trilhar outras vias que permitem
anteriores desvinculações e uma adaptação à situação de momento.
É o que já se está a passar no Capitólio. O congressista David Scott,
antes apoiante de Hillary, afirma que "temos que representar os desejos
dos nossos constituintes. A minha posição seria votar pelos desejos dos
meus constituintes". O congressista John Lewis, de um distrito de
Atlanta (Jórgia), votou 3-1 a favor de Obama embora em público diga não
estar pronto a deixar de apoiar Clinton. Quando os amigos lhe falam em
mudar-se para o campo oposto diz que "pode acontecer, não há dúvidas
sobre isso. E pode acontecer com muita gente... é só começarmos a
contagem e olharmos para o relógio."
Florida e Michigan
Agora que todos os delegados contam, volta a reacender-se no Partido
Democrata a história das votações na Florida e no Michigan, que em
conjunto representam 366 delegados.
Ambas as primárias foram tornadas não-oficiais depois de a sua data ter
sido antecipada, violando as regras do partido. Mas mesmo assim
participaram nas primárias "ilegais" 2,4 milhões de eleitores, o que
torna nervosos os dirigentes nacionais. Agora não sabem o que fazer.
Novas eleições na Florida custariam uns 10 milhões de dólares e não
querem fazer
caucus. O senador Carl Levin, do Michigan, diz que isso não seria "prático nem justo".
De qualquer forma, uma solução teria sempre que passar pelo acordo de
Hillary Clinton e Barack Obama, o que é bastante difícil de acontecer.