'Cartoon' com profeta Maomé volta às bancas
Reacção ao possível plano de assassínio do cartoonista dinamarquês.
Os cinco principais diários dinamarqueses republicaram, ontem, o cartoon que representava de forma polémica o profeta Maomé. O desenho apareceu pela primeira vez em Setembro de 2005.
As publicações reagiram desta forma à prisão de três suspeitos de planear a morte do cartoonista Kurt Westergaar, noticia a Reuters. Na sua representação, o profeta Maomé aparecia com uma bomba na cabeça, em substituição do tradicional turbante.
Na altura, os cartoons desencadearam protestos violentos por parte da comunidade muçulmana. A lei islâmica proíbe qualquer tipo de representação gráfica do profeta, mesmo positiva, temendo que isso conduza à idolatração.
Seguiu-se um período de calmia e os próprios dinamarqueses consideravam que o acontecimento estava ultrapassado. Mas, na terça-feira, a polícia dinamarquesa anunciou a prisão de três suspeitos de planear o assassinato do cartoonista que fez o desenho mais polémico de Maomé.
Um cidadão dinamarquês, de origem marroquina e dois tunisinos, foram detidos na região Aarhus, centro do país, depois de um intenso período de vigilância, segundo o chefe do Serviço de Inteligência e Segurança da Dinamarca, Joakib Sharf, citado pela cadeia de TV BBC. Sharf não revelou o alvo do plano mas o jornal Jyllands-Posten - o primeiro a publicar os cartoons em 2005 - refere na sua edição online que Kurt Westergaar, de 73 anos, seria a vítima provável.
O desenho de Westergaar fazia parte de um conjunto de 12, mas o seu foi o que chamou mais a atenção. Ele e a sua mulher vivem sob protecção da polícia, há três meses, segundo o mesmo jornal. "Certamente que fico com medo de perder a vida quando me dizem que há um plano concreto para me matar", confessou o cartoonista à publicação. No entanto, "transformei o medo em raiva e ressentimento", concluiu.
As reacções a esta republicação já se fizeram sentir. "Acreditamos que isto é uma loucura e que não ajuda a construir as pontes que precisamos", considerou Mostafa Chandid, um dos líderes muçulmanos da Dinamarca, à Reuters. Para o líder é evidente que "tudo isto fará com que os mais novos se sintam ainda mais isolados porque a impressão do cartoon é um insulto à nossa capacidade intelectual. Não somos contra a liberdade de expressão, mas opomo--nos às continuadas discriminações de que a minoritária comunidade muçulmana dinamarquesa é alvo", reforçou.
Já os jornais dinamarqueses acreditam que o plano de assassínio constituiu um ataque à cultura democrática do país. Num editorial de um dos jornais que republicou o cartoon pode ler-se que a Dinamarca "aposta na liberdade de expressão sem qualquer repressão demagógica apoiada no terror".
Além dos cinco principais diários dinamarqueses, outros dez mais pequenos e um diário sueco decidiram editar, novamente, o cartoon considerado ofensivo para o Profeta Maomé. Em 2006, outros 50 jornais decidiram publicar o desenho da polémica, como forma de apoio ao diário dinamarquês. Nessa altura, morreram 50 pessoas na sequência dos ataques feitos a três embaixadas dinamarquesas no Médio Oriente, África e Ásia.
dn