Reino Unido anuncia nacionalização temporária do Northern Rock
Publicidadeda Folha Online
O ministro britânico das Finanças, Alistair Darling, disse neste domingo que o Northern Rock --banco britânico de hipotecas e uma das instituições mais atingidas pela crise das hipotecas de risco nos EUA-- será nacionalizado em caráter temporário, depois de o governo ter rejeitado duas ofertas de compra feitas por instituições privadas.
Darling disse que o banco será colocado temporariamente sob administração pública, uma vez que as ofertas que haviam sido apresentadas não atenderam os critérios do governo. As propostas apresentadas foram a do Virgin Group e a de um grupo de investidores. Nenhuma delas, no entanto, geraria "valor suficiente" para o contribuinte.
"Levando em conta as considerações mais amplas, conclui que essa era a abordagem correta", disse o ministro. "Acreditamos que a empresa pode ser levada de volta para o setor privado na primeira e mais prudente oportunidade", afirmou.
O ministro estabeleceu o dia 17 de março como prazo final para decidir por manter o Northern Rock à venda ou por nacionalizar de vez a instituição.
No início deste mês o Northern Rock já havia sido classificado oficialmente como uma empresa pública; o ONS (Escritório Nacional de Estatísticas, na sigla em inglês) informou que o governo já tinha tanto controle sobre o banco desde outubro que já era tempo de ter a empresa classificada entre as que foram nacionalizadas, como o Royal Mail --os correios britânicos.
O diário britânico "Financial Times" ("FT") informou à época que, embora o ONS não se refira ao processo de transformação do Northern Rock em uma empresa pública como "nacionalização", a conclusão do mercado deverá ser a de que isso foi o que ocorreu com o banco.
No mês passado, o governo havia anunciado um plano de refinanciamento para facilitar a venda da empresa ao setor privado, o que transformaria em bônus garantidos pelo governo o empréstimo feito ao Northern pelo Banco da Inglaterra em setembro --quando teve que ser resgatado de emergência com um empréstimo de US$ 50 bilhões.
Endividamento
Segundo analistas ouvidos pelo "FT", o aumento do endividamento do governo ao assumir o Northern Rock pode levar a dívida líquida total do setor público para 44,4% do PIB (Produto Interno Bruto) --muito acima dos 40% estipulados como teto pelo Ministério do Tesouro.
Em outubro do ano passado, o ministério informou que, para garantir a sustentabilidade dos investimentos públicos, o endividamento tem de ser mantido abaixo de 40%. Se o endividamento aumentar, cresce a pressão sobre o ministro, Alistair Darling, que vem sendo acusado de não impor o cumprimento das regras orçamentárias do Reino Unido.
O governo britânico, por sua vez, diz que o Código de Estabilidade Fiscal permite o movimento para assumir as contas do banco e que não irá elevar impostos ou cortar gastos públicos para cobrir o aumento da dívida.
EUA
Nos EUA, a crise das hipotecas do segmento "subprime" (que reúne clientes com histórico de problemas de crédito e dificuldades para comprovar renda) também afetou algumas das principais instituições de financiamento imobiliário.
A Countrywide Financial (maior financiadora imobiliária americana), por exemplo, registrou um prejuízo de US$ 422 milhões no quarto trimestre de 2007 --contra um lucro de US$ 622 milhões no mesmo período de 2006. No acumulado de 2007, as perdas do grupo somaram US$ 704 milhões, o primeiro ano de prejuízo em mais de 30 anos (em 2006, o lucro líquido da empresa foi de US$ 2,7 bilhões).
A Countrywide também confirmou a redução de seu quadro de funcionários em 11 mil pessoas desde julho de 2007. Em meio à crise, o Bank of America anunciou neste mês que chegou a um acordo para adquirir a financiadora imobiliária por US$ 4 bilhões, em uma operação de troca de ações.
O mercado de imóveis residenciais nos EUA atravessa um período de quedas de vendas, acarretando aumentos de estoques, afetando também os preços dos ativos imobiliários e prejudicando o setor de construção. O aumento na inadimplência no segmento "subprime" intensificou a crise, provocando abalos no mercado financeiro mundial nos últimos meses.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u373199.shtml