Realismo em 'Tropa de Elite' acentua polémica

A polémica que se instalou a nível internacional com Tropa de Elite, o filme do realizador brasileiro José Padilha, que ganhou o Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim, é a continuação da discussão acesa que começou antes de a película estrear.

"Tropa de Elite cumpriu um papel de valor social incomensurável porque descreve o que acontece no Rio de Janeiro, mostrou a triste realidade da nossa cidade", comentou à Lusa António Carlos Costa, presidente do Movimento Rio de Paz.

O filme de José Padilha "não é fascista" como a revista Variety o classificou, de acordo com o responsável. "A polícia que nós temos é a que o filme descreve. Os traficantes também. Estamos vivendo num contexto socialmente esquizofrénico. Apesar da alegria e da hospitalidade do brasileiro, há hoje uma cultura de banalização da vida humana no Brasil que é chocante", comentou António Carlos Costa.

O ano passado houve 50 mil homicídios no Brasil, dos quais seis mil no estado do Rio de Janeiro, onde decorre a acção em Tropa de Elite.

"Um filme complicado, mas não fascista", opina a investigadora brasileira de cinema e audiovisual Dácia Ibiapina. "O filme está entre a ficção e o documentário e aborda uma questão séria no Brasil que é a violência, mas é exagerado dizer que é fascista", comentou a ex-directora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.

O filme, defende Dácia Ibiapina, tem dois aspectos positivos. "Primeiro pela grande repercussão no Brasil e no estrangeiro, já que um filme só se realiza quando é visto. Segundo porque tematiza a questão da violência na sociedade brasileira, tanto a violência do tráfico como a violência policial", sustenta a investigadora.

"Sabíamos que estávamos a mexer com um tema delicado, mas sabíamos também que era necessário porque a sociedade brasileira não aguenta mais", comentou Marcos Prado, produtor de Tropa de Elite.

Baseado no livro Elite da Tropa, o filme conta a história de um capitão que quer deixar de ser tropa de elite (Bope) por ter sido pai. A última vez que um filme brasileiro ganhou um Urso de Ouro foi em 1998 com Central do Brasil.

DN