Ministro dos Negócios Estrangeiros cita arquivos dos EUA
Reino Unido reconhece que voos com destino a Guantánamo fizeram escala no seu território
21.02.2008 - 14h55 PÚBLICO
O Reino Unido reconheceu hoje que dois voos que transportavam suspeitos de terrorismo, geralmente atribuídos à CIA, fizeram escala no seu território para reabastecimento, em 2002, na ilha de Diego Garcia, no Oceano Índico. Um dos prisioneiros está em Guantánamo.
Este tipo de voos, a que as agências americanas de serviços secretos chamam de “extraordinary rendition”, servem para enviar suspeitos de terrorismo, à guarda de agentes de segurança dos EUA, para outros países, onde não gozam de protecção legal nem de direitos ao abrigo da lei americana.
No final de Janeiro foi conhecido um relatório da organização britânica REPRIEVE que indica que mais de 700 presos foram ilegalmente transportados para a base de Guantánamo “com a ajuda de Portugal” e que pelo menos 94 voos passaram por território português, entre 2002 e 2006.
O presidente do Governo regional dos Açores, Carlos César (PS), admitiu já este mês que aviões transportando alegados suspeitos de terrorismo para a base norte-americana de Guantánamo, em Cuba, tenham passado em território nacional, o que considera "lamentável".
Embaraço britânico
O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, David Miliband “lamenta muito” que negações anteriores deste tipo de voos, feitas “de boa-fé”, tenham agora de ser corrigidas, conta o site BBC News, que divulgou a notícia. Este voos vieram agora a público após uma busca em arquivos dos Estados Unidos.
O primeiro-ministro, Gordon Brown, disse: “É uma infelicidade que isto não se soubesse e uma infelicidade que isto tenha acontecido sem que o nosso soubéssemos que estava a acontecer, mas é importante criar procedimentos para [para assegurar] que não volta a acontecer”.
Estas revelações podem constituir um sério constrangimento para o Governo britânico, pois em 2005, 2006 e 2007 o anterior primeiro-ministro, Tony Blair, fez declarações a dizer que não havia provas de que voos deste tipo tivessem parado em território do Reino Unido.
David Miliband disse que os EUA lhe garantiram que nenhum dos dois suspeitos transportados nestes voos era britânico e que não saíram dos aviões. Além disso, também lhe asseguraram que nenhum detido seu alguma vez esteve detido em Diego Garcia.
A BBC conta ainda que um dos envolvidos foi entretanto libertado e que outro está na base da baía de Guantánamo e que tanto Miliband como Rice partilham um “profundo lamento” sobre os erros destes dois casos.