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 O homem indespensável miguel sousa tavares ...escreve ...ab

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Vitor mango

Vitor mango


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MensagemAssunto: O homem indespensável miguel sousa tavares ...escreve ...ab   O homem indespensável  miguel sousa tavares ...escreve ...ab EmptySeg Fev 25, 2008 6:12 am

O homem indespensável


Nunes
Correia é a chave do desenvolvimento económico do país. Há quem tenha
pensado que Sócrates se esqueceu de o remodelar na recente mudança da
equipa governamental. Nada mais errado: Sócrates não só não se esqueceu
como ainda tem em alto apreço a compreensão que o seu ministro do
Ambiente e do Território tem revelado, sem desfalecimentos, para com a
necessidade de crescimento da economia, do investimento estrangeiro e
da criação de emprego. Sócrates tem uma fé inabalável na construção
civil e no turismo como motores do desenvolvimento económico. Tudo o
resto - incluindo algumas reformas que são de louvar - poderá produzir
efeitos a médio ou longo prazo, ou até mesmo falhar. Mas a construção e
o turismo, acredita o primeiro-ministro, são as únicas coisas que lhe
garantem resultados a curto prazo - mesmo que a longo prazo coloquem
problemas graves de sustentabilidade ao país. Mas, a longo prazo,
estamos todos mortos...
A fé do primeiro-ministro e a sua determinação de "bulldozer" não
consentiriam a coabitação com um ministro do Ambiente e do Território
que ousasse preocupar-se com o ambiente e o território. E nisso Nunes
Correia tem sido o mais dócil e compreensivo dos ministros. Em trinta
anos que já levo a olhar para a coisa, já vi muitos ministros do
Ambiente: bons, maus, sofríveis, corajosos ou acomodados. Nunca conheci
nenhum cuja inutilidade fosse tão absoluta. O problema é que, quando se
é ministro do Ambiente e, para mais, de um governo que apostou em
transformar todo o património natural que resta em 'território PIN',
ser-se inútil não é ser-se inócuo: pelo contrário, é ser-se
deliberadamente útil ao crime projectado. Os investidores projectam,
Nunes Correia assina e a obra nasce. Nasce em qualquer lado, mas sempre
e de preferência onde era suposto não poder nascer: na Rede Natura, em
áreas da Reserva Agrícola ou Ecológica, nas rias, nos sapais, no
montado ou até em cima de grutas ou promontórios (!), como sucede no
Algarve. Para enganar os tolos, dizem o mesmo de sempre: que isto não é
turismo de massas, mas sim de qualidade. Mas basta olhar para a lista
dos investidores com projectos já aprovados para Alqueva, e onde se
incluem alguns dos piores patos-bravos do país, para perceber o que
eles entendem por qualidade. Para acabar de vez com a sua linda obra só
falta a este Governo e a este ministro darem a machadada final que têm
em estudo: transferir para as autarquias a faculdade de decidir a
delimitação das Áreas de Reserva Agrícola e Ecológica. Seria como
confiar a um assaltante de bancos a guarda das reservas de ouro do
Banco de Portugal.



Esta semana que passou foi particularmente exigente para o pobre
ministro do Ambiente. Na segunda-feira e no rescaldo, mais do que
previsível, das chuvas em Lisboa, sua excelência descobriu de repente
que as mesmas autarquias a quem quer confiar a guarda da natureza
continuam a autorizar a construção em leitos de cheia e a
impermeabilização selvagem dos solos. No dia seguinte teve de emendar a
mão, ao aperceber-se de que estava a enfrentar poderosos cabos
eleitorais do partido que lhe abriu as portas do Governo, e veio dizer
que, afinal, a culpa é colectiva. Mas há-de morrer solteira, até à
próxima cheia.



A seguir foi a Madrid, ouvir os queixumes da sua homóloga de Espanha
- o país que mais água gasta e desperdiça em toda a Europa e, por isso
mesmo, a braços com nova seca. Aceitou que os caudais mínimos dos rios
internacionais, até aqui fixados ao ano, passem a ser fixados ao mês, à
semana e até ao dia: cheira-me a marosca dos espanhóis. Depois, e como
os espanhóis precisam de continuar a garantir o abastecimento de água
às centenas de campos de golfe do sul de Espanha - o tal 'turismo de
qualidade' que queremos copiar - o ministro aceitou também passar a
bombear água de Alqueva para Espanha. Notem bem: com a água da barragem
paga pelos portugueses, vamos fornecer água aos regadios intensivos da
Andaluzia, para que eles depois nos vendam os seus produtos agrícolas a
preços que esmagam a concorrência dos nossos. A seguir, declara-se que
a nossa agricultura não tem futuro e avança-se para os golfes e os
aldeamentos turísticos 'de qualidade'... Infelizmente, parece que não
ocorreu a esta alma generosa perguntar à sua colega espanhola o que é
isso de uma refinaria que consta que querem fazer em Badajoz, mesmo a
montante... da água de Alqueva.



Mal chegado de Espanha, e eis que Nunes Correia se depara com o
triunfo da providência cautelar que mandou suspender as obras do
projecto Costa Terra, um investimento suíço para Grândola - o primeiro
dos celebrados projectos PIN para o litoral alentejano. Uma chatice dos
diabos: 578 milhões de euros de investimento, 2200 camas turísticas e,
garantem os promotores e o Governo, 1260 postos de trabalho directos e
mais 3000 indirectos (a propósito: ninguém acha estranho este número -
dois empregados por cliente?). E se os outros projectos levam o mesmo
destino, porque é que o ministro achou que um PIN vale bem uma Rede
Natura?



Na 5ª-feira, para ajudar à festa, a Universidade do Algarve divulgou
as conclusões preliminares de um estudo sobre as consequências que
poderia ter no Algarve um terramoto seguido de tsunami, como o de 1755:
3000 mortos, 27.000 desalojados, metade das construções do Barlavento
inundadas e destruídas. Escreveu-se no relatório que "os exemplos
recentes do Sudoeste Asiático não fazem temer os promotores
imobiliários, que continuam a construir blocos de apartamentos e
empreendimentos turísticos em cima de falésias e linhas de água,
ignorando os alertas de perigo e os exemplos do passado". No silêncio
do seu gabinete, meditando em tudo o que já foi aprovado no seu
consulado, sua excelência deve ter desejado ardentemente que o tsunami
do Algarve seja como a grande cheia prometida para Lisboa e Vale do
Tejo: que, quando vier, já ninguém se lembre de um tal de Nunes Correia.



Mas há uma coisa de que eu me lembro ainda: da luta titânica do sr.
ministro para salvar as dunas da Costa de Caparica, no ano passado.
Dias a fio, as televisões passaram imagens de camionetas e escavadoras
a colocarem areia afanosamente sobre as arribas em cima das quais
repousava um restaurante, em precário equilíbrio. Dir-se-ia que o
ministro fazia depender da sobrevivência daquele restaurante a sua
entrada na imortalidade. Esta semana, vi publicada uma fotografia das
obras de um restaurante (não sei se o mesmo) na mesma duna salva por
Nunes Correia. E não é que a duna tinha sido toda escavada e de novo
destruída para a obra do restaurante? "Pelo amor de Deus! - pensei para
comigo - tenham respeito pelo ministro!". Se não se salva a duna da
Costa de Caparica, salva-se o quê - o pobre e eterno lince da Malcata?





8:00 | Segunda-feira, 25 de Fev de 2008, O homem indespensável  miguel sousa tavares ...escreve ...ab Icon_forum_trans 6 comentários, 334 visitas
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