Pastorinhos: Médicos do Vaticano questionam alegado milagre
Os peritos médicos do Vaticano estão insatisfeitos com o alegado milagre que sustenta o processo de canonização dos Pastorinhos e vão pedir novos dados ou que seja instruída outra graça, disse fonte do processo à agência Lusa. Os problemas de validação de um alegado milagre que envolve os Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto têm sido muitos e agora a hierarquia pondera estudar um novo caso para garantir o sucesso do processo de canonização.
Nos últimos meses, os peritos médicos indicados pela Comissão Pontifícia para a Causa dos Santos têm pedido aos médicos indicados pela Diocese de Leiria/Fátima muitas informações sobre uma alegada cura miraculosa de diabetes.
A possibilidade de ser um tipo curável está a levar os médicos do Vaticano a duvidarem da origem divina da cura já que, para ser considerado um milagre, é necessário que a doença não tenha intervenção humana ou natural.
A beatificação dos Pastorinhos foi sustentada num primeiro milagre, que envolveu uma mulher de Leiria, Maria Emília Santos, que voltou a andar alegadamente por intercessão dos dois videntes de Fátima.
Para a canonização, ou seja, para que Jacinta e Francisco - primos da Irmã Lúcia - possam ser considerados santos e motivo de devoção em toda a Igreja, é necessária uma segunda graça.
O processo de canonização foi aberto devido a um segundo milagre, alegadamente verificado durante a cerimónia de beatificação dos Pastorinhos, em Maio de 2000, e que envolvia uma criança doente com diabetes.
Na ocasião, a mãe, emigrante portuguesa na Suíça, segurou o filho enquanto assistia, pela televisão, às cerimónias de beatificação, presididas por João Paulo II.
D.António Marto, bispo de Leiria-Fátima, reconhece que «tem estado difícil» concluir o processo de canonização dos Pastorinhos devido às questões técnicas levantadas pelos médicos de Roma.
O facto de a diabetes ser uma doença congénita e de existirem casos de evoluções favoráveis, mesmo sem intervenção de medicamentos, está a causar alguns problemas na avaliação do caso, disse fonte ligada ao processo.
«Enquanto não se provar a verdade cientificamente», o milagre não pode ser validado pela hierarquia, reconhece o bispo, que admite a possibilidade de a diocese ter de procurar outra graça e desistir deste caso.
«Pode acontecer, mas isso não me preocupa, porque a Providência Divina encarregar-se-á disso», justificou o prelado, considerando que para o povo os «pastorinhos já são santos».
«O importante está feito, é mais uma questão de pormenor que a seu tempo acontecerá», sustentou D. António Marto, que é também presidente da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé.
Inicialmente, o processo de canonização estava a correr bem, como chegou a afirmar o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, o cardeal português Saraiva Martins, mas o tipo de cura não é consensual entre os médicos, obrigando a várias perícias que podem levar a diocese a procurar outra graça para sustentar o pedido de elevação dos Pastorinhos aos altares.
Se os médicos concluírem que a cura não tem explicação científica, o processo passa ao exame dos teólogos que irão avaliar se foi mesmo a intercessão dos Pastorinhos que permitiu a cura.
As conclusões dos médicos e teólogos terão depois de ser analisadas e aprovadas por uma comissão da Santa Sé, constituída por 30 cardeais, arcebispos e bispos.
Finalmente, o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos apresentará então toda a documentação ao Papa a quem cabe a última palavra.
Diário Digital (10-10-2007)