Ambientalistas criticam olivais intensivos na zona envolvente de Alqueva
Évora, 13 Mar (Lusa) - Quatro associações ambientalistas criticaram hoje os olivais intensivos desenvolvidos em "extensas" herdades adquiridas por grupos económicos na zona envolvente de Alqueva, por serem projectos em zonas classificadas e que ameaçam os recursos naturais do sul do país.
A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), a Quercus, o Centro de Estudos da Avifauna Ibérica (CEAI) e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) aludem, em comunicado enviado hoje à agência Lusa, às "extensas propriedades agrícolas" adquiridas por grandes grupos económicos, "a preços inflaccionados".
"O objectivo destas operações financeiras é o desenvolvimento de mega-projectos turísticos (típica especulação imobiliária) e/ou de agricultura intensiva, baseada essencialmente no regadio", afirmam, frisando tratar-se de uma estratégia de desenvolvimento rural "insustentável, a médio e longo prazo".
Por essa razão, acrescentam, é também "inaceitável, grave e ilegal, especialmente quando estão em causa valores naturais protegidos, designadamente aqueles incluídos dentro da Rede Natura 2000".
Segundo os ambientalistas, os projectos de agricultura intensiva, como é o caso da olivicultura intensiva, frequentemente são responsáveis por "profundas alterações e mobilizações do solo", o que causa "forte erosão, como já se verifica em Espanha".
Destruição de galerias ribeirinhas e de áreas de montado, aplicações excessivas de herbicidas e pesticidas, com efeitos negativos muito elevados e irreversíveis sobre os ecossistemas, são outras das consequências negativas que referem, sustentando que a situação se agrava quando a água da rega "não é de boa qualidade" e a drenagem é feita para os próprios reservatórios utilizados na rega.
"As consequências são os problemas de salinização e sodização dos solos", acrescenta o comunicado, criticando particularmente o projecto de olival intensivo programado para a Herdade dos Machados, no concelho de Moura, por parte de um grupo espanhol.
Os ambientalistas lembram que esta herdade está "parcialmente inserida na Rede Natura 2000, quer na Zona de Protecção Especial (ZPE) de Mourão/Moura/Barrancos, quer no Sítio de Interesse Comunitário (SIC) Moura/Barrancos", além de se encontrar situada sobre o aquífero Moura-Ficalho, cujas águas subterrâneas apresentam "riscos médios a elevados de salinização".
"A utilização de água de qualidade duvidosa irá agravar fortemente a qualidade deste aquífero", alertam, sustentando que a Herdade dos Machados apresenta "condições excepcionais para a conservação dos recursos naturais", particularmente a água, o solo, a flora e a fauna.
As associações ambientalistas sublinham que os projectos de olival intensivo em zonas alentejanas classificadas são consequência da "falha do Estado Português em garantir o financiamento e gestão da ZPE de Mourão/Moura/Barrancos e do SIC Moura/Barrancos, e da Rede Natura 2000 em geral".
Além disso, frisam, traduzem a "insuficiência de verbas" para o financiamento de actividades agrícolas alternativas no âmbito do novo Programa de Desenvolvimento Rural (ProDeR).
RRL.
Lusa/Fim