- AMERICANO escreveu:
- EM primeiro lugar, GUANTANAMO, NAO E TERRITORIO DOS USA!!! NUMERO 2 , NAO SE TRATAM DE PRESOS POLITICOS , MAS SIM DE TERRORISTAS!!! claro que voces nao os consideram TERRORISTAS, MAS SIM COLEGUINHAS!!!
Condenada, prisão da guerra ao terror ainda causa controvérsia
Candidatos à Casa Branca prometem desativar presídio da Base de Guantánamo, que abriga 262 detentos sem acusação formal
Patrícia Campos Mello “Bem-vindos a Guantánamo”, anuncia o sorridente sargento do Exército
americano. “Aqui do lado direito temos um campo de golfe, mais à frente
tem boliche, restaurantes e um pub irlandês. Muita gente aprende a
pilotar barcos e a mergulhar, a água é cristalina. Vocês já viram
iguanas? Seguindo aqui, vamos dar no Campo Delta, onde ficam os
detentos, muitos são terroristas perigosos.”
Guantánamo,
a prisão mais controvertida do mundo, está com os dias contados.
Os
três candidatos à presidência dos EUA - o republicano John McCain e os
democratas Barack Obama e Hillary Clinton - prometem fechar os campos
de detenção de Guantánamo, se forem eleitos. A prisão abriga alguns dos
terroristas mais perigosos do mundo, envolvidos nos ataques de 11 de
Setembro de 2001, mas abriga também muita gente inocente que não teve
direito a julgamento.
Hoje, a base americana tem 275 detentos e
1.850 militares. Em seis anos, mais de 750 pessoas estiveram presas nos
campos. Dessas, só 13 foram acusadas de algum crime. Discretamente, o
governo já liberou ou transferiu para outros países mais de 500 pessoas
sem nenhuma acusação formal. Agora, nos estertores do governo de George
W. Bush, os EUA prometem julgar até 80 prisioneiros. Bush, em seu
último ano de mandato, corre contra o relógio para recuperar um pouco
da reputação americana, comprometida por causa das violações de
direitos humanos na prisão.
No último ano da administração, e,
talvez, de Guantánamo, há pressa para mostrar serviço. Em abril ou maio
as comissões militares de Guantánamo devem começar o julgamento de
Khalid Sheik Mohammad (KSM, no jargão militar) e outros cinco presos
acusados de colaborar com a Al-Qaeda. O governo americano pediu pena de
morte para todos. KSM admitiu na TV Al-Jazira ter sido um dos
idealizadores do 11 de Setembro, entre outros ataques. Bush tem pressa
para mostrar que Guantánamo teve alguma utilidade. Até agora, só um
prisioneiro, o australiano David Hicks, foi condenado (na realidade,
declarou-se culpado).
As excursões para a mídia fazem parte da
ofensiva de relações públicas do governo para mostrar que Guantánamo
“não é tão ruim assim”.
O famigerado Campo Raio X - com suas
imagens indeléveis de prisioneiros de macacão laranja, capuz e em
gaiolas - é hoje um lugar fantasmagórico, cheio de mato. O Pentágono
faz questão de levar jornalistas ao Raio X, para mostrar que ele é
coisa do passado.
Hoje, os detentos têm direito a celas com ar
condicionado, três refeições por dia, um exemplar do Alcorão, chinelos
de dedo. Se forem bem comportados, ganham até um rolo de papel
higiênico extra e baralho.
No Campo 4, onde ficam os
considerados menos perigosos, há aulas de pashtun, árabe e inglês. Os
prisioneiros têm até um cantinho para praticar jardinagem. Na
biblioteca do Campo 4, é possível ler O Diário de um Mago, de Paulo
Coelho, em farsi.
Nos Campos 5 e 6, de alta segurança, ficam os
presos mais perigosos e aqueles com mau comportamento. Lá, eles ficam
em isolamento 22 horas por dia - mas ainda em celas com ar
condicionado, com direito a pasta e escova de dente e três refeições.
Existe
ainda o Campo 7, cuja existência só foi revelada há pouco tempo e a
localização, mantida em sigilo. Lá ficam os chamados “detentos de alto
valor”, como KSM.
De fato, comparado com algumas prisões no
Brasil, Guantánamo parece hotel cinco-estrelas. “Muitos detentos nem
querem voltar para casa, querem ficar aqui”, exagera o sargento Michael
Owens. É fácil esquecer que Guantánamo é uma prisão - ao passear pela
baía, tudo o que se vê são praias paradisíacas do Caribe, com água
transparente, onde muitos militares mergulham ou passeiam de barco.
Iguanas e banana rats, grandes roedores típicos de Cuba, correm entre
os cactus. Ou, como disse o vice-presidente Dick Cheney dois anos
atrás: “(Os prisioneiros) moram nos trópicos. São bem alimentados. Têm
tudo o que poderiam querer.”
Mas acontece que muitos
prisioneiros continuam aqui sem nenhuma esperança de serem julgados por
seus crimes. “É como passar batom num porco”, compara o advogado David
Cynamon, que representa vários detentos de Guantánamo.” Enquanto os
prisioneiros não tiverem acesso a um julgamento justo, todo o resto é
cosmético.”
Segundo Cynamon, não existem mais “as coisas
medievais que ocorreram até 2003, mas as pessoas ainda estão aqui sem
direito a julgamento, sem saberem do que são acusadas, sem perspectiva
de se defender”.
O governo aposta no julgamento dos seis para
apaziguar a direita e a esquerda: os conservadores, com a condenação à
morte de KSM; os liberais, com algum tipo de julgamento para os
prisioneiros. Mas os advogados afirmam que o julgamento não será justo,
porque eles não podem discutir a maioria das provas com seus clientes e
porque o juiz poderá aceitar confissões obtidas por meio de tortura.
Para
os guardas, Guantánamo é um emprego, só isso. “Tem gente que deveria
estar aqui e tem gente que está por engano, só porque é muçulmano. Mas
nas prisões dos EUA ocorre a mesma coisa: se você é negro pode acabar
preso num bairro perigoso. Além do mais, você acha que eles tratam bem
os presos no Afeganistão e no Iraque? Eles cortam a cabeça deles”, diz
um dos guardas.
O Pentágono admite que quatro detentos se
suicidaram. Atualmente, há dez presos em greve de fome, um dos quais
não come há 900 dias - sobrevive até hoje porque, quando um prisioneiro
rejeita nove refeições consecutivas, ele começa a ser alimentado por
via intravenosa, à força. O número de prisioneiros em greve de fome já
chegou a cem. Na opinião dos críticos, Guantánamo virou a justificativa
que todos os ditadores sonhavam, todos os torturadores precisavam.
“Olhe, até os EUA desrespeitam direitos humanos”, exemplifica um
advogado que não quis se identificar.
Para o governo, há muita
informação errada e os presos são orientados por advogados a dizer que
foram torturados. “A versão é muito maior do que a realidade”, diz o
coronel Edward Bush, vice-comandante da área de relações públicas em
Guantánamo. “Há campos de detentos no Iraque, Afeganistão, e nenhuma
atenção da mídia para essas prisões.” Segundo o Departamento de Defesa,
existem 3 mil presos no Iraque e 620 no Afeganistão. Advogados dizem
que a tortura ainda é comum nessas prisões.
Os militares acham
que não será assim tão simples fechar Guantánamo. “É fácil para um
candidato dizer que fechará Guantánamo, mas ninguém sabe como fazer
isso”, diz o coronel Bush. McCain diz que vai transferir os presos para
Fort Leavenworth, no Kansas. “Será que os EUA querem essa gente em solo
americano?”, diz Bush.
Para Shane Kadidal, advogado do Centro de
Direitos Constitucionais, que representa mais de cem prisioneiros, o
governo reluta em fechar Guantánamo porque não quer admitir que há
inocentes presos. “A maioria das pessoas aqui poderia ser repatriada,
portanto, não deveria ser difícil fechar Guantánamo”, diz Kadidal.