Iraque/5 anos depois: Ex-PR Jorge Sampaio diz que Mundo está pior, mas continua crente
O ex-presidente português Jorge Sampaio considera que o Mundo está hoje pior do que há cinco anos, quando se iniciou a guerra no Iraque - faz quinta-feira cinco anos -, contra a qual sempre esteve e se manifestou.
“A situação internacional é hoje mais grave do que há cinco anos atrás, nas múltiplas frentes de crise e focos de tensão”, afirma Jorge Sampaio num depoimento à Agência Lusa sobre o 5º aniversário (20 de Março) do início da intervenção militar da coligação internacional, liderada pelos EUA e pelo Reino Unido, que depôs o regime de Saddam Hussein e que mantém a ocupação e o controlo militares do país.
O anterior Presidente da República adverte, no depoimento, que o facto de ter condenado claramente a guerra do Iraque não significou qualquer complacência com o regime iraquiano da altura (O de Saddam Hussein).
Jorge Sampaio era então - 2003 - Presidente da República e foi pública a sua divergência com o Governo português da época, liderado pelo actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que apoiou a intervenção militar anglo-americana no Iraque.
A 16 de Março de 2003, quatro dias antes do início do conflito, Durão Barroso foi, aliás, o anfitrião da Cimeira internacional das Lajes, nos Açores, em que o presidente norte-americano, George W. Bush e o então primeiro-ministro britânico Tony Blair, acompanhados também do antigo chefe do Governo espanhol José Maria Aznar, pré-anunciaram a intervenção militar no Iraque.
A oposição, de princípio, de Jorge Sampaio à intervenção militar internacional no Iraque condicionou então o apoio no terreno que viria a ser dado pelo executivo português de coligação PSD/CDS-PP, que teve de optar pelo envio de uma força da GNR (paramilitar e cujo comando é competência exclusiva do governo), em alternativa a uma “força militar”, que careceria do acordo formal prévio do Presidente da República (de acordo com a Constituição portuguesa, o PR é o “Chefe Supremo das Forças Armadas”).
Na declaração à Agência Lusa, o antecessor de Cavaco Silva na Presidência da República Portuguesa considera que, cinco anos depois do início da guerra no Iraque, “nada melhorou, nem no plano regional nem global, nem a nível do bem-estar dos povos”.
No depoimento à Lusa, Jorge Sampaio afirma que, actualmente, o cenário que se repete todos os dias no Iraque é marcado pela “destruição, mortes e violência”.
A actual situação no Iraque “aliena sempre mais a esperança de paz e de resolução pacífica dos conflitos e alimenta a falsa ideia de que enfrentamos um imparável choque de civilizações e culturas”, adianta Jorge Sampaio, que é actualmente Alto Comissário da ONU para a Aliança das Civilizações e para a luta contra a tuberculose no Mundo.
O ex-presidente português adverte que “a situação internacional é hoje mais grave do que há cinco anos atrás, nas múltiplas frentes de crise e focos de tensão” e exemplifica com os casos do conflito israelo-palestiniano, da crise libanesa e da situação no Afeganistão.
“O extremismo não se combate só com políticas securitárias e medidas militares de repressão”, sublinha Jorge Sampaio no texto enviado à Lusa.
Jorge Sampaio conclui o depoimento à Lusa com um apelo para “a necessidade de cultivar, à escala mundial e local, uma cultura da paz, do diálogo e do respeito pela diversidade cultural e religiosa dos povos, e das comunidades, e pelo direito das minorias”.
Durante a tarde de 16 Março de 2003, os olhos do Mundo estiveram centrados na Base das Lajes, Açores, onde o presidente norte-americano e os então primeiros-ministros britânico, espanhol e português protagonizaram a “Cimeira da Guerra” no Iraque.
No meio do Atlântico, George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar, recebidos pelo primeiro-ministro português de então, Durão Barroso, reuniram-se, nessa tarde, naquela que também ficou conhecida como a 'Cimeira das Lajes', que culminou, 4 dias depois, na madrugada de 20 do mesmo mês, com o início da intervenção militar no Iraque.
Desencadeada por uma coligação militar internacional, liderada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, e apoiada por Portugal e Espanha, entre outros países, a operação conduziu à ocupação militar do Iraque, que se mantém, e ao derrube do regime do ditador Saddam Hussein, que viria a ser capturado e morto, por enforcamento, depois de julgado e condenado à pena capital por um tribunal iraquiano.
Da reunião na ilha Terceira, nos Açores, saiu um aparente derradeiro ultimato à ONU e a Saddam Hussein no sentido de se evitar uma intervenção militar no Iraque, alegadamente por via de uma solução diplomática para uma crise em que já então parecia inevitável o recurso à força das armas.
“Ou o Iraque se desarma ou é desarmado pela força”, afirmou George W. Bush, na conferência de imprensa final da Cimeira, que decorreu na base militar portuguesa, que acolhe um destacamento militar norte-americano, ao abrigo do Acordo de Cooperação e Defesa assinado entre os dois países.
Bush referia-se à então tida como hipótese credível de o Iraque dispor de armas de destruição maciça, nomeadamente químicas, uma suspeita que, embora tivesse sido a principal justificação oficial para a intervenção militar externa no país, viria a revelar-se infundada e nunca suficientemente sustentada, como reconheceram anos depois, um a um, todos os protagonistas da Cimeira das Lajes.