Dalai Lama denuncia 'genocídio cultural' chinês no Tibet
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Dalai Lama disse que gerações mais jovens são mais radicais |
O líder espiritual do Tibet, Dalai Lama, pediu uma investigação internacional sobre o que caracterizou como genocídio cultural
cometido pelas autoridades chinesas na região autônoma. Em
uma entrevista à BBC, o lama - palavra tibetana que designa o mestre ou
líder espiritual - disse ter sentido "o mesmo espírito de 1959", quando
o último grande levante tibetano contra a ocupação chinesa acabou
obrigando-o a se exilar no exterior.
"(A situação) se tornou muito, muito tensa. O lado tibetano está determinado. O lado chinês está igualmente determinado. Isso
significa: mortes e mais sofrimento", declarou ele.
"O
governo chinês não está vendo a realidade. Eles acham que só porque têm
armas têm o controle. Sim, podem controlar. Mas não podem controlar a
mente humana. Quanto mais repressão, mais ocupação militar e mais
repressão militar, mais ressentimento."
As declarações foram feitas em Dharamsala, no norte da Índia, onde o guru vive desde 1959. Mais tarde, ele falou a um grupo
de jornalistas e pediu uma investigação para "descobrir o que está acontecendo" na região do Tibet.
"Por favor, investiguem por sua conta, ou se possível com alguma organização internacional, primeiro, qual é a situação no
Tibet, e quais são os prejuízos", pediu ele aos repórteres.
"Que o governo chinês admita ou não, este é o problema. O problema é que uma nação com um patrimônio cultural antigo está
enfrentando sérios perigos."
Amigos e inimigos Neste domingo, a capital do Tibet, Lhasa, amanheceu tranqüila, com soldados chineses patrulhando as ruas da cidade e do centro
velho.
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Tanques chineses garantem calma em Lhasa |
Uma emissora de TV de Hong Kong afirmou que cerca de 200 veículos militares, cada um carregando 60 soldados armados, estão
na cidade.
A BBC apurou que tropas da província vizinha de Chengdu tiveram as férias canceladas e estão aquarteladas.
"Diferencie entre inimigos e amigos, mantenha a ordem", diz uma mensagem emitida em altos-falantes públicos na cidade.
O número de mortos nos episódios violentos da sexta-feira e sábado em Lhasa ainda permanece envolto em incertezas.
O governo da região autônoma, que tem o apoio de Pequim, reconhece dez mortos, mas o próprio Dalai Lama disse ter recebido
informações de que o número é dez vezes maior.
Jovens radicais O governo deu aos manifestantes um prazo até a meia-noite da segunda-feira para se renderem.
As autoridades tibetanas prometeram poupar aqueles que se arrependerem – e responder "com força" aos que insistirem no que
qualificam de "atos criminosos".
Mas o Dalai Lama disse não poder garantir que os manifestantes voltem atrás, mesmo que ele faça apelos pelo fim da violência.
"Não
sei (se os manifestantes estão dispostos a se render)", disse ele à
BBC. Segundo o lama, as gerações mais jovens, tanto no Tibet quanto no
exílio, estão mais ressentidas e menos tolerantes em relação à China
que gerações anteriores.
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Segundo Dalai Lama, manifestantes 'não querem secessão' |
Na sexta-feira, os manifestantes perseguiram chineses que vivem na cidade, acenderam fogueiras para incendiar seus pertences,
realizaram saques e queimaram lojas.
De outro lado, a polícia teria utilizado bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que desafiaram o toque de
recolher imposto pelo governo chinês.
"Não
estamos querendo independência ou secessão", disse o Dalai Lama. "Estou
totalmente comprometido com a estabilidade, unidade. Isto é essencial.
Mas a estabilidade e a unidade devem vir do coração."
O líder espiritual tibetano enfatizou que ainda apóia a realização das Olimpíadas em Pequim, em agosto.
Em sua opinião, é a oportunidade para os chineses demonstrarem alinhamento aos princípios da democracia e da liberdade de
expressão.