PCP em "paz podre" e "paz da ausência"
«Críticos» descrevem PCP em «paz podre» e «paz da ausência»
Foram duas vozes críticas no último congresso do PCP. Quatro anos depois, Lopes Guerreiro, ex-autarca do Alvito, e Fernando Vicente, até então do Comité Central, admitem que o partido vive hoje «uma paz podre», «uma paz da ausência».
«Há uma paz podre», que levou «ao afastamento de muitos quadros», afirmou à Agência Lusa Lopes Guerreiro, vaiado no congresso de Novembro de 2004, em Almada, por defender o voto secreto para evitar o «definhamento» partidário.
Fernando Vicente, ex-organizador da Festa do Avante!, criticou em Almada o clima de «sectarismo» e «controleirismo». Hoje diz que o PCP está «muito mais fechado» e vive a «paz da ausência».
«Essa pacificação não é pela positiva, é pela negativa. É a paz da ausência», declarou Fernando Vicente, afirmando que «muita gente foi sendo marginalizada ou posta de lado».
Para este engenheiro, militante do PCP desde 1962, «a aceitação da diferença, da contradição está hoje ausente da vida do partido», de que hoje tanto Lopes Guerreiro como Fernando Vicente são apenas simples militantes.
O congresso de Almada, há quatro anos, foi, segundo Vicente, «o fim de um período de confronto de ideias» e que culminou na expulsão de dirigentes como Edgar Correia e Carlos Luís Figueira e a suspensão do histórico Carlos Brito.
«Depois disso, o partido está bastante mais fechado», afirmou.
Já Lopes Guerreiro admite que, com a liderança de Jerónimo de Sousa - que sucedeu a Carlos Carvalhas no congresso de Almada - «houve uma certa pacificação do partido», mas alinha no mesmo tom crítico.
«A situação do PCP é hoje mais pobre», com «a expulsão de alguns, o autoafastamento de uns e a inactividade de outros», afirma Guerreiro, o que também explica a «paz da ausência»
O antigo presidente da câmara de Alvito considerou que «o PCP teria ganho com a integração das vozes dissonantes, com um reforço da coesão interna, com a imagem de abertura».
«Não perfilho a tese das folhas secas ou da ideia de mais vale poucos e bons», argumentou.
Esse fenómeno de exclusão, disse o ex-autarca, «é uma das pechas do PCP».
Num momento em que o PCP já prepara o próximo congresso, a 29 e 30 de Novembro e 01 de Dezembro, em Lisboa, os dois ex-dirigentes dizem que não abandonaram as suas ideias comunistas, mas têm expectativas e planos diferentes.
Lopes Guerreiro não acredita que «vá haver grandes alterações» no partido, mas admite vir a participar, embora diga que é algo que não depende só dele, mas também da estrutura do PCP no concelho.
Fernando Vicente assume que não tem planos para ir ao congresso e que hoje é apenas militante. «Não me considero um militante activo».
Apesar de «não ter sido expulso do partido», o ex-dirigente comunista diz que tem sido «ignorado de uma forma chocante» pelo partido em que milita há 45 anos.
«Não se consegue atirar fora tantos anos de militância e sonhos», confessa Fernando Vicente.
Diário Digital / Lusa
22-03-2008 10:59:00