Bento XVI apela à paz e baptiza ex-muçulmano
PATRÍCIA VIEGAS Bento
XVI apelou ontem à paz no Tibete, no Médio Oriente e em África, no
encerramento das celebrações pascais que decorreram sob o signo da
liberdade religiosa.
"Não podemos deixar de pensar nalgumas regiões africanas, tais como o
Darfur ou a Somália, no atormentado Médio Oriente e no Tibete, regiões
que eu encorajo a encontrar soluções que salvaguardem a paz."
A partir do Vaticano, falando perante milhares de peregrinos reunidos
na Praça de São Pedro, à chuva, o Papa desejou uma Páscoa feliz aos
milhões de cristãos de todo o mundo.
Na cidade santa de Jerusalém, fiéis católicos e protestantes celebraram
a ressurreição de Cristo, no mais importante lugar religioso do
cristianismo, o Santo Sepulcro, onde terá sido depositado o corpo de
Jesus depois de ter sido crucificado.
O vice-presidente norte-americano, Dick Cheney, aproveitou a visita a
Jerusalém e assistiu à missa. Também ele referiu a necessidade de
chegar a uma solução pacífica para o conflito israelo-palestiniano.
No Sudão, relatou a AFP, milhares de cristãos reuniram-se em Cartum,
apesar das discriminações que continuam a sofrer num país que é de
maioria muçulmana, onde a lei que impera é a da Charia.
Também em minoria na Rússia, os católicos festejaram a Páscoa. Na
China, a igreja tibetana de Cizhong, um enclave cristão com menos de
mil pessoas às portas dos Himalaias, realizou um serviço religioso
simples. A China foi, aliás, o tema central da via-sacra papal na
sexta-feira.
No sábado, na vigília pascal, Bento XVI também cumpriu a tradição e
baptizou sete adultos, um dos quais um antigo muçulmano. Magdi Allam,
natural do Cairo, é editorialista do
Corriere della Sera e um dos maiores críticos do islão.
Numa carta que dirigiu ao seu diário, ontem publicada, Allam afirma
que, muito para além do terrorismo, "a raiz do mal é inerente a um
islão psicologicamente violento e historicamente conflituoso".
Lembrando que no passado foi um "muçulmano moderado", o editorialista,
de 56 anos, afirma que "se libertou do obscurantismo de uma ideologia
que legitima a mentira e a dissimulação, a morte violenta (...) e a
submissão à tirania".
Allam, que tem protecção policial, por causa das ameaças de morte que
os seus artigos já lhe valeram, lamentou que "milhares de muçulmanos
convertidos sejam obrigados a esconder a sua fé por medo de serem
mortos pelos terroristas islâmicos".
E considerou que ao aceitar baptizá-lo publicamente Bento XVI "está a
lançar uma mensagem explícita e revolucionária a uma Igreja que até
agora foi muito prudente na conversão dos muçulmanos".
As críticas do editorialista surgem poucos dias depois de uma voz
atribuída a Ussama ben Laden ter acusado o Papa de estar a liderar uma
cruzada contra o islão. E ter ameaçado a Europa por causa das
caricaturas de Maomé.|