Crise asfixia pescadores de lampreia
António Conceição anda há 47 anos na pesca da lampreia
António da Conceição, mais conhecido por "Panhó", é um pescador experiente. Em 56 anos de vida, 43 foram passados a pescar no mar e no rio. Sempre em embarcações pequenas a deitar as redes à agua na busca, sobretudo de robalo, sargo, chocos e sável. Este último, também apanhado na foz do rio Mondego, tal como o berbigão. A lampreia, essa, foge o mais que pode da água salgada e só mesmo em rio é possível capturá-la.
Aos nove anos já acompanhava o pai no Mondego para apanhar lampreia entre os meses de Janeiro e Abril. Recorda-se do tempo em que a pesca à lampreia era rentável. "Sobretudo entre os anos de 1978 e 1990 valia a pena. Cada uma era vendida a cinco contos (cerca de 25 euros)", refere Panhó. Actualmente, diz que nem dá para o gasto. "São vendidas a 15 euros e há quem ofereça só 7,5. Por estes valores, prefiro deitá-las de novo para a água", refere o pescador salientando que "a culpa é dos intermediários" que, diz, "detêm o monopólio da compra e venda da lampreia".
Há alguns anos os pescadores vendiam as lampreias directamente aos proprietários dos restaurantes. "Havia concorrência", salienta o pescador. Agora, devido às normas impostas para o transporte, são obrigados a vendê-las a pessoas que se dedicam apenas à comercialização de peixe. "E há sempre os menos escrupulosos que não conseguindo bons preços nas safras da região vão buscar o pescado a Espanha", realça Panhó.
Quando questionado sobre a escassez do ciclóstomo no rio Mondego, o pescador garante que essa é uma falsa questão, "uma manobra de mercado". "Não é de todo verdade. O que a lampreia tem são ciclos reprodutivos na casa dos seis a oito anos, fazendo com que haja anos em que existam menos. A quantidade tem-se mantido ao longo dos anos".
Mais de 40 embarcações saem à noite da Gala, Figueira da Foz, para apanhar lampreia. Por vezes, não é possível capturar nenhuma, mas há dias em que cada embarcação pode voltar com mais de uma dezena. Panhó junta-se aos colegas e amigos, Francisco Pimentel, Paulo Neves e António Alberto e também sai para a safra, sem contudo descurar a ida diária ao mar onde continua a deitar e recolher as redes. "Se estivéssemos à espera da lampreia para viver, há muito que tínhamos morrido à fome", desabafa. "E não é por falta dela, mas pelo valor que temos de vender", justifica.
O facto de existir um açude em Coimbra que impede a lampreia de subir o rio para a desova, também não é argumento para Panhó. Explica que é possível que desove antes do açude, dado que em Penacova, por exemplo, já praticamente não se vê lampreia. Mas, mesmo assim há sempre as que sobem com a ajuda dos técnicos da Direcção Geral do Ambiente que a passam à mão. "O pior não são estes obstáculos, mas sim as pessoas que a apanham nesse local fora do tempo, para as tentarem vender a baixo custo", conclui.
jn