Peças por reclamar nas costureiras e lavandarias
Ana Novais diz que são cada vez mais os clientes que não reclamam as peças que mandaram arranjar, o que se explica por falta de dinheiro
No entender de Ana Novais, que se dedica aos serviços de arranjos de costura, "isto está cada vez pior". Isto é a situação financeira das pessoas. E o que leva esta costureira por conta própria a traçar, ao JN, um diagnóstico pessimista é o que se passa com o "esquecimento" de muitos clientes. "Nos últimos meses nota-se que isto está a piorar", volta a empresária.
Na sua loja de arranjos no centro comercial S. Francisco, em Guimarães, desfia casos que em sua opinião atestam que "as coisas" não andam muito bem no que toca a dinheiros. "São cada vez mais os clientes que trazem peças para arranjar e que depois não as reclamam. Deve ser por falta de dinheiro", sugere.
Estrela Salgado, dona da lavandaria Vimaranense, confirma. "Os casos têm aumentado e devem-se a falta de dinheiro. O pessoal traz cá as coisas a pensar em levantá-las, mas depois o dinheiro faz-se pouco", despacha.
A lista é grande edredões, vestuário de marca, colchas... O dinheiro em jogo é considerável. "Não estamos a falar de pequenos arranjos nem de peças estragadas ou fracas, mas de roupa boa, de marca, que vale ainda muito dinheiro", vinca Ana Novais. Além dos prejuízos, há ainda a logística necessária para guarda peças não reclamadas. "Uma senhora deixou um «kispo» para arranjar e ao fim de quatro anos veio perguntar por ele. É claro que já não o tinha, até porque houve uma inundação aqui no centro e estragou-se muita da roupa que tinha guardado na garagem", diz.
O prejuízo de uns é o lucro de outros. "Já dei muita roupa ao Lar de S. Francisco e a outras instituições da cidade", informa Ana Novais. "Até três anos ainda aguento; depois, faço uma limpeza e distribuo as peças pelos lares, por quem precisa", completa Estrela.
Na lavandaria Fundação "há clientes que deixam peças e que pura e simplesmente não as reclamam", diz Manuel Guimarães, alertando para o problema que significa guardar as peças. "Os mais pobres são os que cumprem mais", afirma este empresário.
O que fazer? No caso de Ana Novais, a situação chegou a tal ponto que o contabilista recomendou novas regras. "Só me responsabilizo pelos artigos até 90 dias e em muitos serviços exijo pagamento adiantado ou uma caução". Estrela Salgado fez o mesmo nos serviços mais caros. "É complicado", responde Guimarães. "Isso funciona mais nos centros comerciais".
jn