"Sou realista e quero a utopia !"
Para Henrique Cardoso há "falta de grandeza" nas lideranças mundiais
"Sou realista e quero a utopia" como se dizia em Maio de 1968, concluiu, anteontem à noite, na Fundação Serralves, no Porto, Fernando Henrique Cardoso. No termo de uma conferência de 45 minutos, em que passou em revista os últimos 50 anos e projectou os próximos 20, o ex-presidente do Brasil estabeleceu como meta desejável "acabar com a pobreza, com a fome no Mundo".
Partindo da premissa de que, actualmente, há "tecnologia" e "capacidade" para se acabar com a fome no Mundo, Fernando Henrique Cardoso lembrou que "o mundo não avança sem utopia, o mundo não avança sem missão", pelo que "o futuro não vai dispensar a reforma das Nações Unidas", uma "reformulação que dê força à organização, outra forma de organização, que lhe dê uma missão".
Enquadrado pela "Crítica do Contemporâneo - Conferências Internacionais Serralves", o convidado de Mário Soares disse ver o mundo futuro com "maior capacidade de negociação", "pensador, generoso e criativo", apesar de encarar com "preocupação a falta de grandeza nas lideranças mundiais". E exemplificou "o que está a acontecer no Iraque é uma experiência trágica para os Estados Unidos da América, um erro muitíssimo grave" com repercurssões planetárias.
Na sua visão futurista, o reputado sociólogo definiu três áreas problemáticas que o Mundo tem de resolver a Rússia, que não pode ser isolada e é já uma potência energética; a União Europeia, que vai ter de decidir se deseja ou não a entrada da Turquia nas suas fronteiras; e a questão islâmica. A que é preciso acrescentar e compreender a China e o papel que está a desempenhar como um dos novos centros do Mundo.
JN