Arábicas: Violência afasta turistas israelenses do Sinai
Paulo Cabral Do Cairo
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Turistas israelenses têm evitado praia de Ras el-Saitan |
As
praias de águas calmas e azuis da costa nordeste da Península do Sinai
são há muitos anos um ímã para turistas de Israel, poucos quilômetros
ao norte.Nos feriados judaicos, eles vêm
em grandes grupos e são de todos os tipos: de famílias e turistas mais
endinheirados, que ocupam os grandes hotéis cinco estrelas, até os
mochileiros, que pagam US$ 2 ou US$ 3 por noite por uma cabana de palha
à beira-mar.
Quando a previsão de movimento na
fronteira é grande, o governo de Israel costuma emitir advertências de
viagem, alertando para os riscos de um passeio num país árabe.
Mas
pouca gente costuma dar ouvidos às advertências repetitivas, e os
campos e hotéis do Sinai costumam ter bom movimento – embora reduzido
desde o agravemento da violência no Oriente Médio – sempre que é dia de
folga em Israel.
Mas no mês de outubro -
recheado de feriados judáicos - a situação foi bem diferente. Passei
alguns dias da última semana no Sinai, e os campings e hotéis na costa
nordeste estavam praticamente desertos.
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Israelenses lotavam praias do Sinai antes de atentados |
AtentadoFiquei
por dois dias na praia de Ras el-Saitan (Cabeça do Demônio) - cerca 60
quilômetros ao sul da fronteira com a Israel -, onde há apenas meia
dúzia de campings instalados na praia.
Em 7 de
outubro do ano passado, uma bomba explodiu em Ras el-Saitan (exatamente
no camping Moon Island, onde fiquei hospedado agora) - e matou três
turistas.
No mesmo dia, uma explosão pouco mais a norte no Hotel Hilton da cidade de Taba matou outras 32 pessoas, sendo 12 israelenses.
Depois
de alguma semanas de choque, os turistas começaram a voltar para o
Sinai, e o movimento estava se recuperando bem (segundo me contaram os
funcionários de campings e motoristas da área), até as vésperas do
último ano novo judaico, que em 2005 foi comemorado em 3 de outubro.
AdvertênciasDessa
vez o governo israelense emitiu uma advertência de viagem bem mais
específica e séria: os turistas que viajassem ao Sinai estariam sob
grande ameaça de seqüestro por militantes palestinos.Segundo
a inteligêcia israelense, os militantes teriam entrado no Sinai em
setembro, durante a confusão que se seguiu à abertura da fronteira
entre a Faixa de Gaza e o Egito, depois que Israel encerrou a retirada
do território ocupado.
O govero egípcio
reforçou muito a segurança na área. A polícia está por todos os lados,
e é impossível rodar por uma hora nas estradas do deserto sem ser
parado em uma checagem de documentos.
A grande
operação também tem como objetivo capturar gente que tenha colaborado
com os ataques ao balneário de Sharm el-Sheikh (mais ao sul) realizados
em junho deste ano.
Os turistas europeus já
estão voltando para os resorts na costa sul - passei pela cidade de
Dahab, já com um movimento bem maior do que nas últimas semanas -, mas
os israelenses desapareceram do norte.
PoliciaisNo camping onde fiquei, só havia mais um hóspede e em nenhum dos outros a ocupação passava de dois chalés.
E
em cada um deles, dois ou três policiais montavam guarda vinte e quatro
horas por dia, mas fazendo vista grossa para o haxixe fumado
abertamente pelos turistas na praia e a para pesca ilegal sobre os
corais, praticada pelos moradores locais.
A
preocupação era só com o risco de seqüestro levantado pelo governo
isarelense. O turismo é uma fonte de renda essencial para o Egito,
superada apenas pelos negócios com petróleo e petroquímica.
Conseguir
garantir a segurança dos turistas no Sinai também é para o presidente
Hosni Mubarak uma questão de manter boas relações com Israel. Mas, de
maneira mais prática, responde a uma enorme necessidade da combalida
economia egípcia.