Dalai Lama ameaça demitir-se se a onda de violência continuar
O Dalai Lama ameaçou uma vez mais demitir-se das suas funções, ontem, em Seattle (EUA), se a onda de violência no Tibete se generalizar. O líder espiritual tibetano desmentiu querer a separação da região dos Himalaias da China.
O Dalai Lama prestou estas declarações à imprensa, à margem de um ciclo de conferências sobre a compaixão que actualmente está a levar a cabo no costa oeste dos Estados Unidos, naquela que é a sua primeira viagem ao estrangeiro desde o início da repressão chinesa no Tibete, em Março último.
"O mundo inteiro sabe que o Dalai Lama não procura a independência ou a separação" (do Tibete), afirmou o Prémio Nobel da Paz. "Se a violência escapar a todo o controlo, então não terei outra escolha que não seja a de me demitir", disse, antes de repetir: "Se a maioria das pessoas se envolver nas violências, eu demito-me".
O Dalai Lama, de 72 anos - que vive no exílio em Dharamsala, no norte da Índia - pediu um inquérito internacional independente sobre as manifestações e sobre a repressão das autoridades chinesas. Mas apelou igualmente aos tibetanos que se abstenham de se envolver em episódios de violência e de perturbar os preparativos para os Jogos Olímpicos de Pequim.
A capital tibetana, Lhassa, foi palco recente de importantes manifestações anti-China, que causaram 20 mortos, segundo Pequim, e entre 135 e 140, segundo o governo tibetano no exílio.
O Presidente chinês Hu Jintao exprimiu-se no sábado pela primeira vez sobre a crise tibetana, afirmando que o problema do Tibete não deriva do campo dos Direitos do Homem mas do campo da soberania nacional.
"Se o Dalai Lama defende verdadeiramente um acordo, ele deve mostrar isso com as suas acções. Se ele abandonar as suas actividades separatistas, os seus apelos à violência e os seus projectos de sabotagem dos Jogos Olímpicos de Pequim, nós estamos prontos, a todo o momento, para reatar o contacto e o diálogo", declarou o Presidente chinês, citado pela televisão central e pela agência oficial Nova China.
A China acusa do Dalai Lama de ter instigado as manifestações de Lhasa, que começaram no dia 10 de Março e que originaram, no dia 14 de Março, motins sangrentos, que se estenderam às províncias chinesas vizinhas, onde vivem comunidades tibetanas.
O Dalai Lama repetiu o seu apoio aos Jogos Olímpicos, bem como ao direito dos manifestantes "exprimirem os seus sentimentos profundos".
"Toda a gente sabe que eu apoio os Jogos Olímpicos", disse, recusando-se a dar a sua opinião sobre se os líderes mundiais deverão, ou não, assistir à cerimónia de abertura das Olimpíadas. "Penso que isso depende, verdadeiramente, de cada um", disse, antes de acrescentar: "No meu caso, acho que não terei nenhum convite".
O Dalai Lama apelou ainda à libertação das pessoas detidas durante as repressões, bem como ao tratamento médico dos feridos e à abertura do Tibete a observadores internacionais.
Publico