O MERCADO DAS ALMAS
Álvaro Santos Pereira
professor da Universidade de York
Actualmente, a Igreja Católica enfrenta três grandes problemas. O primeiro é a concorrência das outras igrejas cristãs e fés, que tem diminuído significativamente a influência da Igreja Católica. Para os crentes, a competição entre igrejas é boa, pois têm mais escolha e o "preço" da salvação diminui (por exemplo, se antigamente não ir à missa era considerado um pecado mortal, hoje em dia tal omissão é bem menos grave). Mas, para a Igreja Católica, maior concorrência significa o fim do seu tradicional monopólio no mercado das almas. A Igreja já não é a única a determinar o "preço" da salvação.
Em segundo lugar, a Igreja Católica sofre de uma crise de vocações. Há cada vez menos jovens dispostos a tornar-se padres, o que envelhece a Igreja e torna-a mais conservadora. Porquê? Porque o preço do sacerdócio é demasiado elevado. Ser- -se padre na Igreja Católica implica uma série de sacrifícios, incluindo um celibato que não é exigido por outras igrejas cristãs. Enquanto a Igreja tinha o monopólio do mercado das almas cristãs não havia problema: o preço do sacerdócio podia ser alto, mas a quantidade de padres era assegurada pela falta de concorrência. A competição com outras igrejas cristãs acabou com isso: um jovem pode tornar-se num padre cristão mas casar-se na mesma. O que fazer? A Igreja Católica tem de baixar o preço do sacerdócio, quer acabando com o celibato quer abrindo a vocação sacerdotal às mulheres.
Finalmente, existe o problema do menor número de almas disponíveis. Em parte, esta redução do número de fiéis deve-se à crescente concorrência das outras igrejas e ao aumento do secularismo. Porém, este problema é igualmente interno. A verdade é que a Igreja Católica padece de um crónico problema de competitividade. Ora, o que é que se aconselha às economias com problemas de competitividade? Cortar os custos, aumentar a atractividade dos bens e serviços produzidos e reestruturar. É exactamente isso que deve fazer a Igreja Católica: diminuir o preço do sacerdócio (i.e., acabar com o celibato e o monopólio masculino), melhorar o marketing das vocações, e reestruturar a hierarquia da Igreja, tornando-a mais atractiva. Ou seja, se quiser aumentar a sua influência no mundo, a Igreja Católica tem de ser mais sexy, mais atraente e mais aprazível quer para os fiéis quer para os próprios potenciais sacerdotes. Só assim é que a Igreja Católica poderá tornar-se mais competitiva. Só assim é que a Igreja Católica irá novamente restabelecer o seu domínio no mercado das almas cristãs.