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 Europa e África por Expresso - Opinião

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vagalhao

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MensagemAssunto: Europa e África por Expresso - Opinião   Europa e África  por Expresso - Opinião EmptySex Out 26, 2007 6:53 am

Europa e África

Quando se queira sair de um buraco, a primeira coisa a fazer é parar de cavar. Para endireitar África, onde muitas economias e sociedades estão em decadência há mais de trinta anos, será preciso repensar a ajuda ao desenvolvimento praticada pelos europeus desde a descolonização, porque, tal como é concebida e executada, só piora as coisas. Reflexões como esta irritam "pop singers", economistas "à la mode" que querem acabar com 'a armadilha da pobreza', ONG profissionais do bem-fazer, políticos populistas e pessoas com bom coração dos países ricos que se indignam com a miséria dos países pobres e querem ficar bem com as suas consciências. Mas os números são expressivos.

Desde 1960, a África ao sul do Sara recebeu mais de 400 mil milhões de dólares em ajuda externa. Apesar disso, segundo o Banco Mundial, o PIB "per capita" do continente mirrou na média de 0,6% por ano entre 1975 e 2000, isto é, as pessoas foram ficando mais pobres. Em 1970, só uma em cada dez das pessoas em todo o mundo que sobreviviam com menos de um dólar por dia vivia em África; em 2004, era uma em cada duas. Entretanto, de 1975 a 2000, a ajuda "per capita" recebida pela Ásia do Sul (Afeganistão, Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka) foi 21% da recebida pelos africanos, mas o PIB "per capita" cresceu à média anual de 2,94%. Em desenvolvimento, a ajuda não parece ajudar.

É claro que diferenças históricas contam. As sociedades africanas (e os seus valores) foram muito mais dilaceradas pelo colonialismo do que as asiáticas. Além disso, nos anos sessenta, a preferência funesta por grandes projectos de infra-estruturas e indústria quase arruinou as agriculturas subsarianas, que só a partir dos anos oitenta começaram a recuperar. Mas, depois de tudo isso levado em conta, o nó do problema está em mau governo e em corrupção. Já alguém disse que a ajuda ao desenvolvimento paga pelo contribuinte europeu era uma óptima maneira de transferir dinheiro de gente pobre de países ricos para gente rica de países pobres.

Os números tornam a falar por si. A fuga de capitais de países africanos desde as independências, 400 mil milhões de dólares, representa quase o dobro da dívida africana. Entre 1991 e 2004, a fuga de capitais foi de 13 mil milhões de dólares em média por ano, cerca de 7,6% do PIB anual do continente. (Os pés-de-meia individuais impressionam: à cabeça de uma bicha desafogada de estadistas e ex-estadistas, Houphouet Boigny, Mobutu e dois generais presidentes nigerianos levaram 35 mil milhões de dólares).

Enquanto a corrupção durar e não se estimular a poupança local, catadupas de ajuda continuarão a deixar a África pobre, o que convirá a camarilhas governantes mas será mau para africanos e europeus. Numa altura em que a China, a tentar ganhar terreno, exige ainda menos decência dessas camarilhas, a União Europeia deve dobrar e afinar a exigência - não só por obrigação moral mas também por cálculo previdente de oportunidades futuras.

José Cutileiro
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