A MAIONESE É UMA BOA METÁFORA PRINCIPALMENTE QUANDO DESLAÇA
Constança faz maionese: uma gema, uma colher de mostarda, azeite em fio, sal, pimenta. Durante o processo, Constança tenta controlar o tremor que lhe aparece durante as tarefas de maior tensão.
A maionese é um milagre da cozinha, um mistério ao nível dos mistérios do amor: uma coisinha de nada e deslaça. Um movimento brusco, um sopro no fio de azeite, a mão tremelicar e pode ser fatal. Qualquer coisa pode ser fatal e nunca sabemos o quê.
Não vale a pena moer a cabeça a procurar as razões: seguimos o livro à risca mas ela deslaça na mesma, imune à razão pura, ao saber e à "técnica", inexplicável como o amor.
A maionese foi inventada por um condenado à morte que se tinha de superar para ser salvo. Cada vez que se parte o ovo e se começa o processo de lenta e miraculosa simbiose entre a gema e o azeite, repete-se através dos tempos a força voraz daquele condenado, o tipo que precisava de um milagre e inventou a maionese.
Só um condenado à morte poderia conceber a maionese, é uma invenção que nasceu do desespero. O que tem a maionese que é tão bom para fazer metáforas?
Tem isso de lembrar a perfeita simbiose do amor - que acontece quando calha - e isso de tudo deslaçar sem que se perceba porquê. E precisamente quando fizemos tudo bem, e deixámos o ovo fora do frigorífico a aquecer, exactamente à mesma temperatura da mostarda e do azeite. E nos esforçámos disciplinadamente por não tremer, e deitar o azeite devagarinho e em fio, correspondendo a tudo o que a respectiva literatura aconselha e a tudo o que nos disseram aqueles que chegaram antes de nós.
Constança prefere, enquanto metáfora, o segundo milagre da maionese: a possibilidade de, a partir de uma maionese deslaçada, recuperar e conseguir a perfeição. Começa-se outra vez do princípio: atira-se uma gema para uma tigela e, em fio, o produto falhado como se fosse o azeite. E, misteriosamente, é possível, com a contribuição essencial do produto falhado, atingir a perfeição.
Ora, pensa Constança,
a vida é uma maionese. É uma maionese porque cada vez que a vida deslaça volta-se sempre ao princípio, utilizando as produções deslaçadas para compor novas misturas. E quando falha o processo de recuperação da maionese - e falha montes de vezes, porque a maionese, já se disse, é um milagre - volta-se outra vez à casa de partida e parte-se outra gema.
E outra. E outra. E outra, se tiver de ser.
Emulsionando cada gema com todas as produções falhadas.
E do produto deslaçado acontece às vezes uma maionese perfeita, solidificada e amarela e esponjosa, sem que saibamos ao certo como foi e porquê.DN (27-10-2007)
Interessante este Artigo, não ??
A vida é de facto uma maionese !
E os fóruns virtuais também ! Não duvidem !
Bom Dia !