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 A praga dos googlectuais e wikieruditos

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MensagemAssunto: A praga dos googlectuais e wikieruditos   A praga dos googlectuais e wikieruditos EmptyDom Nov 18, 2007 1:53 am

DESONESTIDADE INTELECTUAL

A praga dos googlectuais e wikieruditos


Por Luciano Martins Costa em 30/10/2007

A mídia anda infestada de uma praga, gerada e disseminada na internet, aparentemente imune aos defensivos tradicionais. São parasitas oportunistas que grudam na casca dos órgãos de imprensa, se alimentam do noticiário e inoculam na opinião pública interpretações de encomenda, invariavelmente calcadas na matriz ideológica que define o núcleo editorial da mídia a que se incorporam.

Sua forma mais comum de apresentação é o blog, mas também encarnam em colunas e artigos e, eventualmente, se combinam entre essas variadas formas e a correspondência por e-mail ou através dos comentários ao pé de conteúdos jornalísticos.

Essencialmente, esses parasitas podem ser classificados em duas cepas: a mais comum, dos googlectuais, e outra de incidência mais rara, a dos wikieruditos, que mesclam sua atuação na imprensa com incursões no universo acadêmico. Ambos os grupos podem ser identificados pela emissão constante de sinais exteriores de conhecimento, mas a qualidade que melhor os caracteriza é o senso de oportunidade, sempre manifestado no estilo agressivo das patologias que afetam os organismos vulneráveis.

Nossa jovem democracia é um desses ambientes vulneráveis, onde a ética – que tem no sistema imunológico sua melhor metáfora – não encontra nas instituições públicas e nas entidades privadas de interesse público, como a imprensa, suas melhores referências. Esses parasitas atuam no organismo social sempre no limite da responsabilidade. Nesse sentido, pode-se até dizer que têm uma faceta benigna, por constituirem uma espécie de prova de resistência das defesas democráticas.

Entre as duas cepas, a dos wikieruditos é a menos agressiva. Costuma se instalar nas bancas de pós-graduação de algumas faculdades, no corpo das teses e em suas avaliações, é encontrada com freqüência em publicações acadêmicas e prolifera na rede de computadores. Seu efeito mais maléfico é agregar ao agente transmissor valores que ele de fato não possui, o que pode no máximo influenciar carreiras e distorcer o resultado de concursos públicos. Produz um brilhareco de erudição que se extingue com uma leitura mais acurada de seu produto.

Falso brilho

A outra espécie, a dos googlectuais, é mais danosa para a democracia e para a boa educação da sociedade, porque costuma parasitar a imprensa, apropriando-se de sua credibilidade para catalizar opiniões e influenciar os debates públicos. Sua prática mais comum é bombardear os blogs com artigos e comentários recheados de citações pseudoeruditas e invariavelmente agressivas contra aqueles que expõem opiniões divergentes às da matriz ideológica predominante na chamada grande mídia.

Os googlectuais não se entregam aos debates pelo prazer de esgrimir idéias. Eles atuam no sentido de arregimentar correligionários para seu viés, pela desqualificação agressiva do oponente. Exibem o falso brilho de uma erudição fast food construída ao instante, em consultas rápidas ao Google. Têm como ídolo e modelo o falecido colunista Paulo Francis, o que não representa necessariamente uma homenagem a ele. Francis, ao contrário desses imitadores, era um leitor voraz de livros de verdade.

A lendária agressividade verbal de Francis se reproduz no universo dos googlectuais como o gesto humano entre os símios. Sem o estofo que seu ídolo construiu em uma vida inteira de estudos e produção intelectual, eles se resumem à realimentação contínua das controvérsias, das quais nunca brota uma idéia conclusiva, porque seu único objetivo é a controvérsia em si, não o conteúdo.

A qualquer ameaça de esfacelamento de suas teses, sempre no extremo do conservadorismo e da resignação ao status quo, agitam a "ola" de ruidosos correligionários, cujos comentários são reproduzidos como referendo às idéias que não encontraram epílogo em si mesmas.

Também existem os googlectuais de "esquerda", reconhecíveis pela linguagem viciada e por certo messianismo na repetição de mantras libertários. Igualmente autoritários, estes, porém, têm o discurso diluído no infinito horizonte do inconformismo sem esperança de conciliação com a realidade. Em um e outro lado desse impossível dueto de surdos, pontificam afirmações de uma auto-suficiência intelectual que é freqüentemente uma ficção. A mais comum delas, que segue sempre uma citação, é a afirmação: "lido e catalogado’, como se bastasse ao autor afirmar que leu tal obra citada para que o leitor o considere intelectualmente qualificado.

Em geral, é mentira. A citação pode ser facilmente rastreada no Google, como fazem os professores ao verificarem a autenticidade dos trabalhos de seus orientandos, e as pistas estão sempre no próprio texto que o autor pretende referendar. A rigor, trata-se apenas da velha e conhecida desonestidade intelectual, agora potencializada pelos recursos da web 2.0 e temperada por algum talento performático. Pura micagem, destinada ao efêmero da memória randômica.

O Observatório


Última edição por em Dom Nov 18, 2007 1:57 am, editado 1 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: A praga dos googlectuais e wikieruditos   A praga dos googlectuais e wikieruditos EmptyDom Nov 18, 2007 1:56 am

JORNALISMO EM TEMPOS DE INTERNET

Ainda sobre googlectuais e wikieruditos


Por Luciano Martins Costa em 6/11/2007

Uma proporção considerável entre os observadores que comentaram o artigo, publicado na semana passada, sobre a proliferação dos googlectuais e wikieruditos na internet, fez reparos ao estilo deste palpiteiro da imprensa. Alguns imputaram ao autor destas linhas alguma resistência às mudanças impostas pela tecnologia ao universo das comunicações. Outros simplesmente o acusaram de ser obscuro demais, e até arrogante.

Se um texto provoca algum mal-entendido, a culpa é sempre do autor. Como diria Renan Calheiros, pequei, sim, mas por uma boa razão. No caso do senador caído em desgraça, basta folhear a última edição da revista Playboy para reconhecer suas razões. No caso deste observador, foi o excesso de cautela ao transitar pelo terreno minado das opiniões políticas, que anda sendo pisoteado irresponsavelmente por destacados protagonistas da chamada nova mídia.

Primeiro, não é este articulista um saudosista da máquina de datilografia ou do teletipo. Pelo contrário, trata-se de um dinossauro da internet, um entusiasta da rede mundial que ingressou nesse universo ainda no tempo dos BBS - para quem não lembra ou não chegou a conhecer, grosso modo uma tela preta com letras brancas na qual se podia trocar mensagens. Isso antes do Mosaic, o primeiro browser a desenhar a internet mais ou menos como a conhecemos.

Questão de estilo

Afastada a hipótese da ojeriza tecnofóbica, resta o estilo. Foi de fato uma escolha equivocada, pelo rebuscado que resultou o texto, por causa da excessiva cautela em criticar uma prática generalizada sem nominar os bovinos. O artigo resultou pedante, o que deveria sinalizar uma certa ironia sobre o tema. Infeliz o autor, que não se fez compreender pela maioria dos que tiveram paciência de baixar a barra de navegação até o pé do texto.

Com relação ao conteúdo, porém, que é o que nos move, é preciso esclarecer alguns pontos. Primeiro, a tentativa de alguns autores de parecer sábios onde lhes falta conhecimento é vício antigo, e não faltam parábolas e contos em toda a literatura universal sobre esse comportamento. O que tentou destacar o observador é como, no ambiente hipermediado em que vivemos, e num cenário de discursos radicais, os recursos de busca rápida de significados e citações dão a esse tipo de personagem uma ascendência imerecida e uma repercussão desproporcional ao conteúdo que realmente aportam aos debates.

Perversão dupla

A incitação ao discurso radical, seja de que lado for da moeda ideológica, exacerba os espíritos e reduz as chances de se encontrar um valor na diversidade. Quando essa ação perversa se localiza em blogs e artigos hospedados nos sites de empresas jornalísticas, essas diatribes ganham com aval da imprensa, o que é duplamente perverso. Seria demais pedir que indivíduos intelectualmente desonestos ingressassem nos debates públicos munidos de boas regras, evitando a exposição da intimidade de seus oponentes ou negando-se a inserir em seus comentários aspectos da vida pessoal que não contribuem para a avaliação da opiniões expostas.

Mas não é assim que têm se comportado os googlectuais e os wikieruditos: eles postam seus textos em blogs e sites, e respondem aos divergentes com pauladas recheadas de citações que, pela ligeireza, só podem ter sido catadas no Google ou na Wikipédia - ou em fontes equivalentes. Com isso, não se produzem debates proveitosos, mas verdadeiros tiroteios de saloon. A internet tem espaço para todos, eruditos, intelectuais, e meros curiosos, como este observador.

Se a mídia tem interesse em atrair leitores pela qualidade dos debates que suscita, se é verdade que ganha no longo prazo com a formação de um público qualificado, está agindo contra seus propósitos ao abrigar sob seus guarda-chuvas essa espécie de provocador que não demonstra possuir compromissos com a verdade.

O Observatório
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