As eleições ganham-se com mentiras»
2007/11/19 | 21:40
Fiscalista Medina Carreira traçou esta segunda-feira um quadro muito
negativo de Portugal, considerando que a actual situação resulta de uma
quebra acentuada no crescimento económico, num país em que «ninguém é
responsável por nada». «A democracia em Portugal é uma
brincadeira em que ninguém é responsável por nada, não há
responsáveis», afirmou Medina Carreira, salientando que «o País apenas
é governado com rigor durante um ano ou um ano e meio por legislatura».
No restante tempo, segundo o fiscalista, quem vence as eleições
começa por tentar corrigir as promessas que fez na campanha eleitoral
e, a meio do mandato, «começa a preparar as mentiras para a próxima
campanha eleitoral». «Com esta gente que temos, não podemos ter
muitas esperanças (quanto ao futuro)», defendeu, frisando que «as
eleições ganham-se com mentiras». Medina Carreira, que falava
aos jornalistas em Gaia à margem de um debate sobre a actual situação
do País, defendeu que «a raiz do problema» de Portugal resulta da
quebra no crescimento económico. «Durante 15 anos crescemos
seis por cento ao ano, entre 1975 e 1990 crescemos quatro por cento ao
ano e de 1990 para cá estamos a crescer 1,4 por cento ao ano. Se não
mudarmos de vida, o futuro exige meditação», frisou. «Não há economia que aguente» Para
o especialista, «não há economia que aguente um Estado social com tudo
para todos, desde o berço até ao túmulo», defendendo que esta concepção
«está condenada». O fiscalista também se pronunciou sobre as
verbas europeias destinadas a Portugal através do Quadro de Referência
Estratégica Nacional (QREN), desvalorizando a sua importância. «Antes
do QREN já vieram muitos milhões da Europa e veja-se o estado em que o
País está», frisou Medina Carreira, que também se manifestou contra a
rede ferroviária de alta velocidade e o novo aeroporto de Lisboa. «São uma tontice, o País não tem dinheiro para isso», afirmou. O
quadro negro traçado por Medina Carreira foi corroborado pelo
economista Pedro Arroja, para quem a economia portuguesa «está
bloqueada». «Estamos a crescer menos que toda a União Europeia,
vivemos acima das nossas possibilidades, estamos a perder terreno em
relação a outros países europeus», frisou. Para o economista, a
solução tem que passar por uma «redução significativa dos impostos que
possa atrair as empresas e pôr a economia a trabalhar». Pedro
Arroja considerou que o aeroporto e a alta velocidade «são projectos
para encher o olho mas não são prioritários para o País», além de que
«só vão complicar as coisas do ponto de vista orçamental». «Como
português, gostaria muito que tivéssemos um novo aeroporto em Lisboa e
uma rede ferroviária de alta velocidade mas não me parece que sejam
prioritários», afirmou. Para o economista, a opção do Governo
pelo combate ao défice está a «estrangular a economia», defendendo que
«não morremos da doença mas podemos morrer da cura». Medina
Carreira e Pedro Arroja foram dois dos intervenientes num debate sobre
a situação do País, em que também participou Rui Moreira, presidente da
Associação Comercial do Porto. O dirigente socialista Jorge Coelho,
cuja presença tinha sido anunciada, faltou