Modelo económico ocidental vai perder hegemonia mundial
Estamos no limiar "da desocidentalizalição do crescimento da economia mundial" e a China e a Índia estão em vias de se afirmar como "grandes potências económicas", defendeu o professor Mário Murteira na conferência As Relações entre a Europa e a China em contexto de globalização: passado, presente e futuros, que ontem se realizou em Lisboa.
A questão é se será a China ou a Índia a afirmarem-se como economia dominante na nova conjuntura. Tema que ocupou parte da conferência organizada pelo Observatório da China - Associação para a Investigação Multidisciplinar de Estudos Chineses.
"A China tem menor capacidade de concretizar reformas e, por isso, menos hipóteses de aproveitar a globalização".
O país a olhar deve ser a Índia, pois "os efeitos internos da globalização em cada sociedade são menores nas sociedades não democráticas", e aqui a maior democracia do mundo ganha pontos ao Império do Meio, sustentou o professor e antigo ministro das Finanças Jorge Braga de Macedo.
Contudo, é na China que existem condições únicas e "simultâneas", como "segurança política e pública", além de um "sistema de transportes e telecomunicações eficientes". Ou seja, o baixo custo da mão de obra não é o único factor que torna a China um imã para o investimento estrangeiro, afirmou Virgínia Trigo, especialista em relações empresariais e investimento na China.
A discussão colocou-se ainda no plano dos desafios da globalização, concluindo Adriano Moreira que, de forma nítida, "o Estado clássico está a ser substituído pelas redes" e estas poderão ser a base do futuro modelo de governação mundial da globalização.
Esta pode implicar o fim do modelo social europeu, do princípio do pleno emprego e forçar uma redefinição do paradigma sindical ao que colocar-se o imperativo da sua transnacionalização, insistira antes Mário Murteira, mas Carlos Zorrinho, coordenador do Plano Tecnológico Nacional, preferiu sublinhar a natureza da actual conjuntura em que se está "na fase de qualificação para o campeonato do mundo da globalização, em que haverá países e sectores que vão ficar de fora".
Um processo que, fora lembrado logo numa das intervenções iniciais por Jorge Nascimento Rodrigues - co-autor com Tessaleno Devezas de Portugal, o Pioneiro da Globalização - em que Portugal e a China foram pioneiros no século XV, respectivamente com o projecto dos Descobrimentos e as viagens de Zheng He.
DN (23-11-2007)