A Explosão em Setúbal
A explosão que, anteontem, destruiu parcialmente um edifício em Setúbal terá tido origem numa fuga de gás no 11.º C, um apartamento que estaria desabitado, facto que está a ser investigado pela PJ pois nessa casa, supostamente desocupada, terá sido encontrada uma pessoa. O edifício, situado na Praceta Afonso Paiva, à entrada da cidade, ficou muito danificado e os seus três últimos andares (10º, 11º e 12º) terão de ser demolidos, adiantou ao CM o coordenador do Serviço Nacional da Protecção Civil de Setúbal, José Luís Bucho, depois da vistoria realizada ontem pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Todo o prédio terá também de ser escorado (reforçado na estrutura), obras que serão pagas pelo Governo.
Até lá, os inquilinos, depois de assinarem um termo de responsabilidade, poderão ir à sua casa, acompanhados por um bombeiro e por um elemento da Protecção Civil, recolher bens essenciais. Mas só os que residem até ao 9.º andar, pois os 10.º, 11.º e 12.º estão em risco de colapso.
Esta decisão está, todavia, dependente do estado do tempo, pois são esperados ventos fortes para hoje e amanhã e há ainda a possibilidade de queda de chuva. O distrito encontra-se em alerta amarelo. Se estas condições climáticas se verificarem, só os bombeiros e a Protecção Civil poderão aceder aos andares.
Além deste edifício, onde todas as casas (48 apartamentos no total) foram afectadas, a explosão provocou danos noutros dois prédios – um frontal e outro lateral ao mais afectado – e ainda em diversas residências dispersas situadas na zona. Como tal, ao início da noite de ontem ainda não havia números oficiais de quantas habitações foram afectadas.
O prédio tem gás propano mas há quem use botijas. Terça-feira a Galp Energia realizou uma inspecção à coluna montante do edifício, para avaliar a possibilidade de ser instalado gás natural, devido ao interesse manifestado pelos condóminos. A mesma empresa investiga agora se ocorreu alguma fuga da sua responsabilidade.
Luís Carvalho vivia no 12.º D. A casa, arrendada, é uma das que estão em risco de colapso e como tal será demolida. Luís, que mora com a mulher e um filho de 13 anos, estava sozinho quando ocorreu a explosão.
Ao contrário da maioria dos moradores – que chegaram a pensar num sismo –, Luís apercebeu-se de que a explosão tivera origem numa fuga de gás. “Porque fiquei com o cabelo tipo palha de aço”, conta ao CM, lembrando que quando ocorre uma fuga o ar fica extremamente seco.
Luís, com escoriações, correu a desligar o quadro da electricidade, a água e o gás e, preocupado com os vizinhos, tentou socorrê-los. “Fui ver se alguém precisava de ajuda.” Começou a descer as escadas e no 11.º andar ouviu gemidos. “Um senhor estava soterrado. Vi-lhe uma mão mas quando ia ajudá-lo fui agarrado pelos bombeiros, que chegaram quase de imediato.” Ontem, Luís conseguiu subir à sua casa e viu um “cenário dantesco. A parede da sala desapareceu, tenho agora um ‘open space’, e a porta de um dos elevadores foi projectada para a minha cozinha”.
Luís garante que perdeu tudo, todos os seus bens, e já sabe que muito dificilmente poderá recuperar alguma coisa.
TRÊS TRABALHADORES INTOXICADOS EM FUGA DE GÁSTrês trabalhadores tiveram de receber assistência médica por terem inalado gás quando uma retro-escavadora furou ontem, pelas 17h30, uma conduta de gás durante os trabalhos de abertura de fundações de um prédio na Urbanização do Infantado, junto ao LoureShopping.
“Todos os meios foram disponibilizados de imediato, deslocando-se ao local, além do serviço municipal de Protecção Civil de Loures, os Bombeiros Voluntários, viaturas do INEM e forças de segurança”, disse o comandante Joaquim Gomes, da Protecção Civil Municipal.
Aquele responsável garantiu que “não existiu explosão ou rebentamento, apenas uma fuga sem danos de maior”.
Em consequência da fuga de gás, os três sinistrados sofreram uma ligeira intoxicação, tendo-lhes sido administrado oxigénio. Foram assistidos por médicos do INEM no local e considerados fora de perigo.
“A grande prioridade foi tirar os homens do interior da vala onde estavam a trabalhar, uma vez que a fuga de gás poderia pôr em risco a vida dos trabalhadores”, avançou ao Correio da Manhã Acácio Severino, da corporação de Bombeiros Voluntários de Loures.
Como medida de segurança, os acessos ao LoureShopping, nomeadamente a ligação à A8, foram cortados ao trânsito.
Ao local deslocou-se igualmente o piquete de emergência da Lisboagás, que procedeu ao corte da válvula central pelas 20h00, restabelecendo a segurança no local.
O acidente ocorreu no estaleiro da Rosabuilding, Construções de Habitação de Luxo Limitada, que procede à edificação de apartamentos nas imediações do LoureShopping.
Tudo aconteceu quando uma máquina giratória removia terras no interior de uma vala – onde se encontravam os trabalhadores – para as fundações de um edifício e, inadvertidamente, rasgou a conduta de gás que abastece o centro comercial. A situação afectou o normal funcionamento dos estabelecimentos de restauração do LoureShopping, no entanto o centro continuou de portas abertas ao público.
No local esteve ainda o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Loures, João Pedro Domingues, que garantiu que nenhuma habitação foi afectada pela fuga de gás. O vereador confirmou o restabelecimento da normalidade no abastecimento em poucas horas.
CASAS E PRÉDIO TÊM SEGUROSO prédio onde ocorreu a explosão é administrado pela Servibocage, que está já a assessorar os condóminos na questão dos seguros.
Cada proprietário tem um seguro – com excepção de dois ou três, que serão ajudados pela Câmara. O prédio tem outro só para as partes comuns, contou ao CM António Luís, que reside no 1D desde 1992 e é um dos mais antigos.
José Abílio administra um dos prédios afectados – defronte do mais atingido. Tem experiência nesta questão pois também administra um prédio no Bonfim, onde ocorreu em 2005 uma explosão de gás que afectou quatro andares. “Cada condómino chamou a sua seguradora. Estas avançaram com as obras em casa de cada cliente e depois exigiram o pagamento à ‘culpada’.”
NO SOCORRO FOI "CADA UM POR SI"“A governadora civil de Setúbal quis comandar as operações, interferindo numa matéria que não percebe e nem lhe diz respeito”, lamentou ontem ao CM o coordenador do Serviço Municipal de Protecção Civil de Setúbal, José Luís Bucho, acrescentando que os moradores não puderam retirar ontem alguns bens essenciais – ao contrário das orientações do LNEC e da Protecção Civil – porque a governadora civil não deixou.
E seria “muito importante para a estabilidade emocional” dos moradores que pudessem visitar as suas casas, frisou, lamentando ainda “a total descoordenação entre as entidades locais e a Autoridade Nacional de Protecção Civil”.
GOVERNO CIVIL E CÂMARA DE SETÚBAL DE COSTAS VOLTADASMaria das Dores Meira, do PCP, preside à Câmara Municipal de Setúbal, cargo a que, segundo as “más-línguas”, a governadora civil de Setúbal, Eurídice Pereira - empossada pelo PS - aspira.
APONTAMENTOSNOVA PERITAGEMO porta-voz dos moradores, Luís Caturra, afirmou esperar que a investigação decorra com transparência, solicitando uma segunda peritagem do LNEC. “Há a incógnita quanto à real sustentabilidade do prédio.”
ACUSAÇÕES“Na segunda-feira, estava um aviso na entrada anunciando que empresas iriam fazer ensaios na coluna do prédio para a mudança de gás propano para gás natural. Coincidência estranha entre uma abordagem sobre a possibilidade de mudança do tipo do gás e 72 horas depois acontece um ‘enlace’ como este”, afirmou Luís Caturra, adiantando que no momento da explosão estariam no prédio funcionários da empresa de gás.
130 EM HOTÉISPernoitaram de anteontem para ontem 66 pessoas em três hotéis da cidade. Ontem já eram cerca de 130 os moradores em hotéis. O secretário de Estado do Desporto disponibilizou as pousadas de juventude. A estadia dos desalojados será paga pelo Ministério do Trabalho.
MORADORES 'ILUSTRES'No edifício moram bombeiros, agentes da PSP e inspectores da PJ. A explosão feriu 40 pessoas, das quais 15 foram transportadas para hospitais. Todas tiveram alta durante o dia de ontem.
NOTASCABELEIREIRA TRAUMATIZADANélia Oliveira, cabeleireira no prédio onde ocorreu a explosão, disse que não volta a trabalhar no local. “Fiquei muito traumatizada”, acrescentou.
ARRANJAR LOJASOs comerciantes da praceta tentavam ontem retomar a actividade, com a colocação de vidros e alumínios que ficaram destruídos com a explosão.
MEDO DE ASSALTOSPedro Luís, dono de um café, dormiu no local com receio de ser assaltado. A explosão provocou um prejuízo de 15 mil euros no estabelecimento.
Correio da Manhã - 24-11-2007