Mundial Râguebi: Lobos atacam Itália à procura da vitória

Pela primeira vez num Campeonato do Mundo, no qual é, de resto, a única formação amadora, a Selecção Nacional de râguebi cumpre, esta quarta-feira, a partir das 19:00 horas, o terceiro jogo na prova. Frente à Itália, os Lobos querem, depois de duas derrotas, a primeira vitória no certame.

Agendado para o Parque dos Príncipes, o encontro coloca no caminho do XV luso uma formação, à partida, bastante mais acessível do que os anteriores adversários Escócia e Nova Zelândia.

De resto, nos desafios anteriores, a Itália acabou claramente derrotada pela Escócia e só a muito custo conseguiu vencer a Roménia.

Esta quarta-feira, com o forte apoio da comunidade lusa residente na capital francesa, os Lobos esperam, por isso, conseguir impor mais um desaire ao XV transalpino.

Portugal enfrenta hoje a Itália no seu terceiro encontro do Grupo C do Mundial França2007 de râguebi, na ressaca da derrota mais pesada de sempre da sua história frente ao colosso Nova Zelândia por 108-13.

Com apenas três dias de descanso desde o encontro com os "All Blacks", os "Lobos" defrontam os "Gladiadores de Roma", um adversário de má memória depois de ter "cilindrado" na capital italiana a selecção lusa por 83-0, durante a fase de qualificação.

Um ano mais tarde, as duas equipas voltaram a encontrar-se, desta vez em solo francês, com a selecção portuguesa à procura de, pelo menos, não sofrer uma derrota por números tão pesados frente a uma das equipas favoritas do "adepto" Tomaz Morais.

Desta vez, o técnico português não vai poder contar com o segundas linhas Juan Severino, que foi suspenso por quatro semanas pelo IRB por ter agredido um adversário na partida com a Escócia, e Marcelo D'Orey, que vai falhar o resto do Mundial devido a um lesão sofrida no jogo com a Nova Zelândia.

Em 10 confrontos, Portugal alcançou apenas uma vitória frente aos "azzurri", no início da década de 70, por 9-6.

O encontro entre a selecção portuguesa e a Itália está agendado para as 19 horas, no Parque dos Príncipes, em Paris.

LUSA

Podemos e devemos ter imenso orgulho nesta selecção que de amadora só o nome. Está de parabéns a nossa selecção.
Veja-se bem com que garra cantam o nosso hino nacional. É de pedir mais.

Quem já não atura elogios ao râguebi levante a mão

João Miguel Tavares
Jornalista
jmtavares@dn.pt

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Mais uma palavra elogiosa sobre a selecção portuguesa de râguebi e a sua paixão pela pátria e o seu amadorismo tão profissional e o seu extraordinário esforço e como devemos estar todos tão orgulhosos e como eles são um exemplo para nós - e eu regurgito. A sério. Se os elogios parvos tivessem açúcar estávamos todos diabéticos.

Agradecia que os admiradores do râguebi não me imaginassem já a ser violentamente placado contra um muro de cimento. Juro por todos os santinhos que nada tenho contra a modalidade. Gosto muito de ver os jogos e quase me comovo com a haka neozelandesa. Mas para tudo existe uma medida certa. Sim, os rapazes portugueses são esforçados. Têm o seu mérito. Parecem simpáticos na televisão. Não são dados a peneiras como os tipos do futebol. E cantam o hino nacional com um tal entusiasmo que se Louis Pasteur fosse vivo ainda os vacinava. Mas daí a transformá-los nos maiores heróis da Nação só porque andam num campeonato do mundo a perder os jogos todos (e por muitos) é capaz - digo eu - de ser um bocadinho exagerado.

Dir-me-ão: "Ah, e tal, são amadores, passaram muitos anos a lavar as suas próprias camisolas, e veja onde eles chegaram." Até pode ser. Embora, tendo em conta os estratos sociais de onde vem a maior parte daquela rapaziada, seja bem mais provável que tenha sido a dona Mariazinha ou a menina Svetlana a lavar-lhes a camisola. Mas passemos ao lado das questões de classe, ainda que elas expliquem muita coisa. O certo é que, mesmo tendo em conta os objectivos (modestos) anunciados, a selecção ainda não cumpriu nenhum. Contra a equipa da Escócia os portugueses queriam perder por menos de 30 e encaixaram 56-10. Contra a Nova Zelândia queriam que os All Blacks não chegassem aos 100 pontos e perderam por 108-13. Contra a Itália nem percebi qual era o objectivo e levaram 31-5.

Mas o mais extraordinário é que, percam por quantos perderem, os "lobos" têm sempre garantidas umas festas na cabeça por parte da comunicação social. Título do Público após o 31-5: "Ficou a sensação que era possível derrotar a Itália." Ficou a sensação, ficou. Eu às vezes também tenho a sensação que podia jogar melhor à bola que o Messi. Que podia ser mais esperto que o Bill Gates. E que a Nicole Kidman podia perfeitamente sussurrar-me ao ouvido: "Ao pé de ti, o Tom Cruise é um badameco." São sensações. Não costumo é puxá-las para título de jornal. Mas, de quando em quando, a Pátria dá nisto: elege os seus heróis, fecha as cortinas do pensamento, e chora muito a ouvir o hino nacional. É esquisito. Mas é assim.|

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Ficou a sensação, ficou. Eu às vezes também tenho a sensação que podia jogar melhor à bola que o Messi. Que podia ser mais esperto que o Bill Gates. E que a Nicole Kidman podia perfeitamente sussurrar-me ao ouvido: "Ao pé de ti, o Tom Cruise é um badameco." São sensações. Não costumo é puxá-las para título de jornal. Mas, de quando em quando, a Pátria dá nisto: elege os seus heróis, fecha as cortinas do pensamento, e chora muito a ouvir o hino nacional. É esquisito. Mas é assim.|

No fundo no fundo ele até tem razão naquilo que diz

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O lindo sonho português de terminar a sua primeira participação na fase final de um Mundial com um triunfo terminou, ontem, em Toulouse, às mãos de uma selecção romena que venceu por 14-10, respeitando por completo o guião para a qual vinha preparada: na 1.ª parte, aguentar o ímpeto luso, e, no 2.º tempo, usar o seu pesado e compacto pack, qual rolo compressor, e, aproveitando o cansaço nacional, obter os pontos, que de outro modo nunca conseguiria.

Portugal começou bem, com pontapés altos do abertura Cardoso Pinto, tentando empurrar a Roménia que, pelo seu lado, só pretendia fechar jogo, evitando abrir bolas, o que sabia, face às suas conhecidas fragilidades nos três-quartos, ser um caso sério. Mas perante a asfixiante pressão nacional - os centros Portela e Frederico Sousa, sempre intratáveis, e uma 3.ª linha espantosa de entrega, com João Uva, Diogo Coutinho (o "homem do jogo", que pela terceira vez na prova foi português, fez um jogo fabuloso) e Tiago Girão - cometia erros sobre erros.

Com o jogo arreliadoramente sem entrar nas áreas de 22, aos 16 minutos uma grande arrancada de António Aguilar (ziguezagueou durante 30 metros, desde a sua área de ensaio, a ultrapassar meia equipa adversária) acordou os "Lobos" que, dois minutos depois, marcariam. Touche mal introduzida pelo talonador Mavrodin, no fim do alinhamento João Uva captou a oval e ficou a centímetros do ensaio, para surgir Joaquim Ferreira a marcar (7-0) - e logo na sua despedida, após 87 internacionalizações.

Com os portugueses permanentemente a querer construir algo - mas a mostrar dificuldades para fazer chegar a bola às pontas -, pressionando muito rápido para curtar linhas de passe (o que provocava muitas perdas de bola pelos inábeis romenos) e defendendo exemplarmente as tentativas de maul dinâmico, o intervalo chegava com 7-0, não tendo tido os romenos qualquer hipótese de ensaio. Até porque a área nacional ficou sempre bem longe dos seus olhos.

No recomeço, cedo se percebeu que tudo ia ser diferente, pois esta Roménia conhece muito bem Portugal e sabia que para vencer bastaria paciência e usar o seu muito maior poder físico.

Os jogadores portugueses, que continuaram bem nas touches (conquistaram 11 entre as 15 de introdução própria), mas começavam a mostrar grandes dificuldads nas mêlées, lá iam resistindo e demonstrando uma enorme atitude.

Foram ao todo 23 minutos de sacrifício, sem respirar nem sair do nosso meio-campo, a placar tudo o que mexesse e equipasse de amarelo, uma aflição permanente perante a imparável sucessão de mauls e rucks de um pack que, efectivamente, e como lhe chamou o seleccionador escocês, parece uma "máquina de picar carne".

Até que o dique português, como seria óbvio e aguardado, começou a abrir brechas. Aos 63 minutos, um maul concluído em força pelo talonador Marius Tincu (o melhor jogador desta equipa) empatava.

Gonçalo Malheiro, que rendeu Cardoso Pinto como abertura mas dispôs de poucas oportunidades para utilizar os seus bons pés, pois a quantidade de bolas jogáveis para Portugal era cada vez menor, ainda fez 10-7 numa penalidade. Mas um novo maul indefensável iria permitir ao asa Alexandru Manta estabelecer os definitivos 14-10.

Portugal caía de pé. Mas em râguebi, contra a força bruta de uma equipa recheada de profissionais que alinham na I Divisão francesa, raramente se encontram argumentos. A volta de honra que os "Lobos" deram no final do jogo valeu por um título mundial.|