NO IRAQUE POR UM SÉCULO
Manuel Queiroz
jornalistaOs
principais jornais americanos dedicavam ontem os seus principais
títulos ao Iraque, na sequência dos combates que começaram em Bassora
no início da semana, envolvendo apenas forças iraquianas, e que agora
se estenderam a Bagdade e que envolvem já forças americanas nas duas
cidades. O alvo parece ser a milícia do xiita radical Moqtada al Sadr,
que tinha aceite um cessar-fogo há alguns mese, pedindo tempo para se
livrar de alguns elementos descontrolados.
"Assalto no Iraque às forças shiitas demora em Bassora", diz o grande
título do New York Times. "Forças americanas juntam-se à ofensiva em
Bagdade contra a milícia de Sadr", é a manchete do Washington Post. O
Los Angeles Times escolha outra visão das coisas, dando ênfase às
manifestações em Bagdade de apoiantes de Moqtada al-Sadr:
"Manifestatntes saem à rua em protesto no Iraque", falando depois do
recolher obrigatório na capital iraquiana e aos protestos populares
contra a ofensiva sobre a milícia de al-Sadr.
Num momento de campanha eleitoral, a questão da guerra no Iraque parece
ganhar uma nova actualidade, embora os observadores continuem a achar
que é a economia que vai decidir quem vai ser o novo Presidente
americano, em Novembro. O senador John McCain, candidato republicano,
voltou a falar na possibilidade de os EUA se manterem 100 anos no
Iraque, o que os democratas desaprovam de forma veemente. Mas ontem
Charles Kraithammer, colunista do Washington Post, sublinhava que a
ideia de McCain não é assim tão estúpida: "Os EUA (com aliados)
ocuparam o Iraque em 1991 e continuam ali com uma forte presença
militar há 17 anos. (...) Ninguém de ambos os partidos de forma séria
pediu a retirada do Iraque. Porquê? Porque a nossa presença projecta
poder e dá estabilidade a todo o Golfo e para todos os vulneráveis
aliados dos EUA que são vizinhos do Kuwait." E recorda ainda que o
general McPeak, um dos conselheiros militares do democrata Barack
Obama, também disse, logo no início da guerra, que os EUA iriam ter que
ficar lá "durante um século".