NOVA IORQUE SEM PORTAGEM
Como várias outras cidades do mundo ocidental (e algumas portuguesas), Nova Iorque queria estabelecer uma portagem para passar nas zonas de meio e baixo Manhattan - oito dólares para os carros e 21 para os camiões.
Mas os democratas e, sobretudo, o chefe do partido na assembleia estadual, recusaram-se sequer a levar o plano a votos depois de longo tempo de estudos, pareceres e, sobretudo, de o Governo federal ter disponibilizado 354 milhões para ajudar a melhorar os transportes e o ar, dinheiro que o estado de Nova Iorque assim perde.
Os jornais mostram-se quase todos furiosos com Sheldon Silver, o speaker democrata que não deixou o projecto ser votado. "O jogo da vergonha de Shell", diz o Daily News, fazendo um trocadilho com o nome de Sheldon Silver. "Portagem de oito dólares cai em Albany", diz o New York Times, referindo a capital do estado onde se reúne a assembleia que, diz ainda o jornal na capa, "nem sequer votou o projecto".
Um dos editoriais do Times é mesmo um ataque desenfreado a Sheldon Silver. "Silver está em dívida com Nova Iorque e deve apresentar um plano alternativo para arranjar uma fonte segura de novos fundos para a Autoridade Metropolitana de Transportes, que está financeiramente exaurida." O plano do mayor Michael Bloomberg previa que a taxa daria 500 milhões anuais aos cofres do Estado para melhorar o sistema de transportes.
O New York Post, mais conservador, desta vez é dos poucos a estar ao lado dos democratas, coisa rara. O título da capa é "Morte no fim" e o editorial já do dia anterior dizia: "O facto é que a portagem para o congestionamento do trânsito teria significado um novo imposto para os residentes na cidade e para os negócios. Um imposto desses não é sempre negativo mas precisa da confiança do povo em que será cobrado com justiça e de que servirá um propósito público absolutamente necessário. Sem essa certeza, as boas intenções só servem para enfraquecer a autoridade pública. (...) Este plano merece morrer."
Diário de Notícias