Eleições (americanas, mas não só)
Sérgio de Andrade, Jornalista
Pudesse eu votar, e votaria na Mulher. Conheço-a pessoalmente, já nos encontrámos no estrangeiro, ambos em serviço, já a ouvi discursar e gostei do que disse e da forma como o disse e parece-me ter competência para aquilo que se propõe fazer. Infelizmente, porém, não posso votar. Em Hillary Clinton, entenda-se.
E pergunto-me quais são as suas hipóteses reais - aliás não só as dela, mas as do seu concorrente democrata. Porque os americanos são como são, se calhar são como a maioria da gente em todos os países, e quase que os ouço comentar para si mesmos "Ao que isto chegou, meu Deus! Para presidente dos Estados Unidos, ou uma Mulher, ou um Preto! Por mais que nos custe, só nos resta uma saída, que é votar no Outro, o republicano".
Recentemente, venho sentindo algo parecido com isso, por causa de outra eleição em que igualmente não posso votar, embora vá ocorrer em Portugal. Como nos EUA, à partida os concorrentes são vários, mas virá o momento em que a questão se decidirá entre dois. E há tais rumores, que ainda se ouvem, que me levam a gritar "Por favor, pelo amor de Deus, votem na Mulher, votem no Pedro (perdão, no Preto, enganei-me!), mas no Outro não, no Outro não!".
Tal risco já me pareceu afastado, mas nos dias mais recentes vem reaparecendo. Perguntar-me-ão como me atrevo a meter o bedelho no assunto, se não posso votar, mas há uma razão muito forte é que o que resultar do congresso não me é absolutamente indiferente, como não me será indiferente o resultado das eleições presidenciais americanas. Porque já se sabe que se os EUA espirram apanhamos todos uma gripe cavalar; e, no caso português, se quem espirrar for a pessoa errada quem cai de cama somos nós. É que quem vier a ganhar a eleição arrisca-se a vir a ser, um dia, primeiro-ministro. Sucede que por esta altura já todos devemos ter percebido que, vivamos o que vivermos, seremos sempre governados pelo PS ou pelo PSD, eventualmente com uma pitada de CDS/PP. Logo, quando regressar a vez do PSD, eu tenho a ver com o assunto. Por isso, peço ardentemente que seja a Mulher, ou o Pedro (mau, voltei a enganar-me!, o Preto) - mas o Outro nunca!
O Outro chegou a dizer que não tem tropa suficiente para atacar o poder, mas vão aparecendo alguns soldados a incitá-lo. Até fim de Maio, pelo menos para mim vai ser um desassossego!
Sérgio de Andrade escreve no JN, semanalmente, às terças-feiras.