Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.


 
InícioInício  ProcurarProcurar  Últimas imagensÚltimas imagens  RegistarRegistar  EntrarEntrar  

 

 Concessões perigosas

Ir para baixo 
AutorMensagem
Vitor mango

Vitor mango


Mensagens : 4711
Data de inscrição : 13/09/2007

Concessões perigosas Empty
MensagemAssunto: Concessões perigosas   Concessões perigosas EmptySeg Fev 11, 2008 5:27 am

Concessões perigosas





ic.gif[/img]



Mário , Crespo, Jornalista

Destaque
No caso do Eleven o que está em causa não é a defesa do investimento
privado, é a salvaguarda da rendibilidade dos bens públicos

Entrevistei António Sousa Franco quatro ou cinco vezes no decurso da
sua carreira política. Disse-me, durante governo de António Guterres,
que havia muito dinheiro a chegar a Portugal em fundos estruturais mas
que estava apreensivo quanto à forma como esse dinheiro ia ser
utilizado. "Estou a tentar convencer os Ministérios e todos os
departamentos em geral (incluindo Forças Armadas) a pagar rendas a
valores de mercado ao Estado pelas instalações que usam, mas há muita
resistência". Anotei esta declaração do Professor Sousa Franco porque
era, e é, revolucionária. Ela denota um supremo respeito pela coisa
pública. A propriedade imobiliária pública, que é mal gerida pelo
Estado, tem sido desde sempre uma das razões do défice. "Temos que
modernizar a contabilidade pública em Portugal" dizia Sousa Franco que
obviamente sabia que muito do "monstro" estava escondido entre rendas,
ridiculamente baixas, rendas não cobradas e ausência de rendas devidas
ao Estado. O caso do restaurante Eleven, segundo dizem, o melhor de
Lisboa, que paga os tais 500 Euros de renda mensal à Câmara é uma
dessas surpreendentes concessões de terreno público. Haverá infindáveis
e grandíloquas justificações contabilísticas para tentar dourar a
pílula. Há sonoros e pungentes gritos de ultraje com o facto de se ter
divulgado a renda, mas o que ressalta é que o montante que a sociedade
exploradora do Eleven paga é irrisório. É irrelevante que ao fim de
vinte anos as grandes marquises que o formam passem para a propriedade
da Câmara de Lisboa. É que elas só valem pela beleza indescritível da
cidade vista de um dos seus pontos mais altos, que acontece ser terreno
público.. Uma construção com vigas de aço, alumínio e vidro, em duas
décadas vai precisar de muita manutenção, dizem-me técnicos
conhecedores. É pouco provável que o edifício se torne num pólo de
atracção turística pelo seu depoimento arquitectónico. O valor do
prédio é a sua localização. Tudo o mais é muito precário. Por outro
lado, se os direitos sobre o restaurante já foram transaccionados entre
o projectista que ganhou o concurso e vários dos actuais sócios do
grupo explorador, porque é que não o hão-de voltar a ser logo que as
mais valias se tornem tentadoras? Nesse caso, o que é que a Câmara
ganha com isso? Compete à Câmara investigar e tentar rectificar um
manifesto erro de gestão, senão, os 500 Euros indexados à inflação,
daqui a 20 anos ainda são mais patéticos do que hoje. Em defesa
alega-se um investimento de 2 Milhões de Euros feito na construção do
restaurante. Como é que se chegou a esta verba? Estava explícita no
concurso? Houve fiscalização do seu cumprimento? É que o que está em
questão não é a defesa ou condenação de um investimento privado ou
honras pessoais dos envolvidos. O que exige debate público é a
salvaguarda da rendibilidade dos bens públicos, neste caso de um
terreno que é uma valiosa peça de imobiliário do território português.
Ao fim dos vinte anos é um activo que valerá infinitamente mais do que
os dois milhões investidos. Neste sistema de concessão o rendimento
fiscal é penalizado. Sendo apenas concessionária a sociedade não paga
os impostos sobre o terreno. Mas já há dúvidas. O concurso para a
construção do restaurante foi feito durante o executivo de coligação
PS/PCP na Câmara de Lisboa. João Soares, que o dirigia, disse
recentemente que pelo que se recordava havia diferenças de volumetria
entre o fixado no concurso e o que está feito. O actual executivo não
parece entusiasmado com o formato da concessão. José Sá Fernandes foi
quem denunciou publicamente o montante da renda dando-o como um exemplo
entre muitos de situações a rectificar para que o justo e necessário
rendimento do terreno público seja obtido. Só que agora deve ser muito
difícil rever e alterar o contrato. Pelo número de birras que a
divulgação destes valores causou, parece haver poderosos defensores da
continuidade deste modelo. Assim, aqui fica uma previsão. Como para
grandes males, grandes remédios, seguindo a velha tradição governativa
portuguesa, vai-se pedir um ou dois pareceres. Perde-se dinheiro por
todo o lado, mas parece muito melhor.

Mário Crespo escreve no JN, semanalmente, às segundas-feiras
Ir para o topo Ir para baixo
 
Concessões perigosas
Ir para o topo 
Página 1 de 1
 Tópicos semelhantes
-
» Cães: Sete raças perigosas vão ser proibidas
» Corrupção e crimes conexos, em Portugal

Permissões neste sub-fórumNão podes responder a tópicos
 :: Opinião & Liberdade de Expressão-
Ir para: