Cada vez mais serviços, cada vez menos privacidade
Localizar, sejam carros ou pessoas, é uma das grandes inovações tecnológicas dos pequenos aparelhos que invadiram o nosso quotidiano e rapidamente se tornaram imprescindíveis, os telemóveis. A primeira chamada por telemóvel foi feita em Nova Iorque em 1973, mas o invento só chegou a Portugal 18 anos depois.
Localização Celular é o serviço da Vodafone lançado em finais de 2000 para empresas. Basta disponibilizar um telemóvel para cada funcionário que o sistema permite localizá-lo, nomeadamente "no interior dos edifícios e zonas densamente arborizadas", anuncia a operadora.
A localização é feita através do cartão SIM, circuito impresso tipo smart card utilizado para "identificar, controlar e armazenar dados do telefone celular" e é também possível nas outras operadoras. A TMN chama-lhe Localizz e a Optimus Geo SMS. Entretanto, o sistema foi alargado aos automóveis, o que permite sempre saber onde está cada viatura.
Agora, pretende-se alargar o serviço a particulares, de forma a que seja possível a localização de pessoas, tendo o porta-voz da TMN garantido que o seu lançamento está para breve. O público-alvo são as crianças e o sistema surge como uma forma dos encarregados de educação garantirem a segurança dos menores. Esta é a versão soft, porque também se pode considerar que os pais estão a violar a privacidade dos filhos.
O serviço causou polémica em França quando foi introduzido pela Alcatel, há cinco anos. O telemóvel avisa os pais mal os filhos se afastam do percurso habitual, o que levou os menores a protestar, dizendo que estavam a ser "policiados".
A porta-voz da TMN reconhece que "este tipo de serviços são um pau de dois gumes". E argumenta: "Podemos considerar ter uma utilização que entra na privacidade, mas a localização de uma criança pode ser, também, uma questão de segurança."
Àqueles serviços, juntam-se o sistema de GPS ou Google Map, que permitem saber sempre onde estamos. Nós e os outros. E o Aqui Perto, informações sobre restaurantes, farmácias, etc., por localidades.
As operadoras justificam que qualquer daqueles serviços pode ser retirado sempre que o cliente quiser e que não há interferência humana no tratamento da informação. Dados que apenas são disponibilizados a pedido dos tribunais e das autoridades policiais. Aliás, é na localização de pessoas desaparecidas que se tem revelado uma boa ajuda.
Total controlo
Está sem rede, sem bateria ou pura e simplesmente desliga o telemóvel porque não quer ou não o pode atender. Não está preocupado com quem lhe telefona e, se estiver, pode sempre recorrer à "opção chamadas perdidas", recuperar os números e só falar com quem entende. Já não é assim. Mal ligue o telefone, a operadora avisa todos os que lhe telefonaram que "já está disponível".
O serviço chama-se Contacto Disponível e foi lançado pela TMN há pouco mais de um mês. A empresa anuncia-o como "um alerta inovador, simples e gratuito" e mais uma melhoria nas relações com os clientes. É pioneira, mas rapidamente, estará disponível nas operadoras concorrentes.
Os consumidores é que poderão não achar graça e sentir que lhes estão a invadir a privacidade. Se não quiser (puder) atender, não se poderá desculpar com a falta de rede ou de bateria.
DN