Filme fraude sem identidade
Finalmente, o filme mais badalado do ano já está em exibição em todo o país. A primeira exibição pública de "Corrupção", em forma de antestreia de gala realizada em Alcochete, decorreu anteontem, antecedida de um concerto de Pedro Abrunhosa. O melhor momento da noite, diga-se de passagem.
A par, talvez, do insólito cocktail de morcela e farinheira, que tanta urticária deve ter causado às "tias" que não quiseram deixar de estar presentes no evento.
É que depois veio o filme.
Se é que se pode chamar tal a "Corrupção", tamanhos são os equívocos, erros grosseiros, amadorismos e outros disparates em que se viu envolvido, desde a sua concepção até ao produto final.
E o certo desconforto que se tem vivido nas últimas semanas em torno do filme ficou bem patente pela ausência de muita gente ligada à produção, sobretudo do lado dos actores.
Já se sabia, claro está, que João Botelho e Leonor Pinhão deveriam estar a ver a Taça da Liga à mesma hora, mas a ausência de Margarida Vila-Nova confirmou o que se pressentira há alguns dias, a sua solidariedade com o realizador que a dirigiu durante as filmagens.
Depois começa o filme. Pouco mais de hora e meia depois, e apesar de algumas palmas envergonhadas, a sensação geral era de uma enorme frustração. O reconhecimento até, por parte de alguns elementos ligados ao projecto, de que o resultado final foi o que se pôde arranjar.
No fundo, o grande problema do filme é não corresponder, de todo, às expectativas geradas junto da opinião pública. A ideia também de que, por esse facto, é bem possível que funcione bem nestes primeiros dias, em função dessa mesma expectativa, mas tombe dramaticamente nas bilheteiras, a partir do momento em que o "boca a boca" comece a funcionar.
Comecemos pela corrupção, propriamente dita.
Neste capítulo, o filme não mostra nada mais do que qualquer pessoa sabe que pode ter acontecido, pela leitura dos jornais dos últimos anos. E fá-lo pelo lado da farsa, quando se esperaria uma visão mais realista.
Uma forma de dar a volta à verdadeira identidade dos visados?
Mas alguém tem qualquer dúvida sobre a verdadeira identidade do "presidente" e da profissional do alterne?
Quanto às cenas escaldantes, o caso ainda se torna mais "grave". As cenas de cama entre o presidente e a primeira-dama do seu clube de futebol, apostando também na sátira, são verdadeiramente ridículas.
Para mostrar as maminhas de Margarida Vila-Nova, talvez uma cláusula contratual, recorreu-se a uma aberrante sequência de pesadelo (não apenas no sentido literal) e a grande cena de sexo - a dos árbitros e respectiva "fruta" - poderia ter sido retirada de um qualquer filme porno soft-core dos anos 70, parecendo, ou sendo-o mesmo, uma completa excrecência em relação ao resto do filme.
Quanto à qualidade da obra, o resultado final é inacreditavelmente mau. A protagonista é completamente "transparente", não conseguindo criar ou reflectir uma personagem, prova de que o grande ecrã não mente, ao contrário da pequena caixa que temos lá em casa.
Filme de realizador? Filme de produtor? Na melhor das hipóteses, "Corrupção" é um filme de actor! É que, de resto, as barbaridades são muitas.
Das cenas de futebol ou de tribunal, paupérrimas e falhas de imaginação, à música, que inunda desnecessariamente o filme. O seu produtor, transformado em autor, tem de aprender que os silêncios são tão importantes como os sons.
Faça-se ao filme o que é o mais certo que aconteça a esse processo arquive-se!
JN (02-11-2007)
Há quem diga que não !
Ou seja, há quem diga que o filme está giro, tem qualidade, embora com algumas lacunas.
Quase todo passado em Lisboa, e não no Porto.
A ver !!!