Encostam-me as facas ao pescoço (Alarme na Linha de Sintra)

Alarme na Linha de Sintra

Encostam-me as facas ao pescoço

Duas na igreja, outra no comboio. Três numa semana. Facas ou pistolas, Bernardo viu de tudo e acabou sem nada. “Nós somos o divertimento deles.” Ajeita os livros e faz-se sozinho rua acima – 16 anos de bairro a tropeçar no crime e o hábito roubou-lhe o medo. “Vou por ali e já tento nem pensar nisso, só eu nunca levei!” A sorte muda a cada esquina de Rio de Mouro, na linha de Sintra, e o colega João Rodrigues foi “espancado” na estação. “Tenho amigos esfaqueados várias vezes e a mim encostam-me as facas ao pescoço”.

Os ataques são sempre feitos no escuro, ao fim da tarde. Mas também vêm de “onde menos imagina”, desafia João. Sai da Secundária Leal da Câmara e aponta discretamente ao portão do lado – os ‘mais pequenos’ da EB 2,3 Padre Alberto Neto. “É um engano. Chumbam várias vezes e são mais velhos do que nós, já só andam ali para poder roubar.”

Nada que o conselho executivo não saiba. “Até os mais pequeninos são muitas vezes o reflexo daquilo que vêem em casa – um convite a entrarem na marginalidade”, lamenta ao CM o presidente João Simões. O crime é afinal “normal” em Rio de Mouro e “toda a linha de Sintra precisa de outra política social”. O professor diz que ali “são mais os antigos alunos – rapazes que abandonaram, foram abandonados e sem auto-estima entraram no mundo da delinquência e criminalidade”.

Mas não desistem da escola, agora pelos negócios da droga e do roubo. “Vejo-os da janela a encostarem- -se às redes para traficar. Ao final da tarde, já escuro, fazem esperas junto à rotunda para tentar assaltar as pessoas.”

Bernardo e João lembram-se das vítimas e do assassinato de domingo à noite, mas também Márcia, mãe de outro aluno, conta que um dos rapazes era amigo do filho. “Eu e o meu marido até brincávamos com ele: ‘aos 18 anos arranjamos-te uma pistola!’” João diz ser “rara a noite em que não se ouve tiros” e faz uma pergunta a outras etnias: “Se fazemos aqui tudo para que se integrem, por que é que nos assaltam?”

FUNERAIS VÃO SER AMANHÃ

Os funerais de Osvaldo Beagi e Francisco Silva, os dois jovens que foram assassinados no domingo à noite, em Rio de Mouro, Sintra, realizam-se ambos amanhã. Osvaldo será velado hoje à noite na igreja de Rio de Mouro, seguindo o funeral para o cemitério local, pelas 15h00 de sábado. Francisco Silva, segunda vítima dos disparos de Edgar F., será sepultado pelas 11h00 do mesmo dia, mas no cemitério do Cacém. Patrício Lopes, tio de Osvaldo Beagi, disse ao ‘CM’ que encara o enterro do sobrinho “com calma”. “A tristeza é grande, mas da nossa parte não há qualquer desejo de fazer vingança”, disse.

CORPO DE INTERVENÇÃO PRONTO A AGIR

A PSP colocou de prevenção entre 35 a 40 agentes do Corpo de Intervenção para precaver a possibilidade da ocorrência de desacatos durante os funerais dos dois jovens assassinados no domingo à noite em Rio de Mouro, Sintra.

O plano de patrulhamento para estes dois eventos foi traçado esta semana durante a realização de várias reuniões coordenadas pelo comandante metropolitano da PSP de Lisboa, superintendente-chefe Guedes da Silva. A Divisão de Sintra da PSP, que entrou em funções há menos de uma semana, disponibilizará parte dos cerca de 500 efectivos de que dispõe para assegurar que não acontecem incidentes.

O papel das Brigadas de Intervenção Rápida (BIR), não só desta divisão como também de várias outras que integram o comando de Lisboa, será também fundamental. Caso seja necessário, dezenas de agentes especializados na manutenção de ordem pública acorrerão ao Cacém e Rio de Mouro, locais onde amanhã se realizarão os dois funerais. No entanto, a PSP não se quer “mostrar de mais”, estando previsto que pelo menos por mais alguns dias se mantenha as patrulhas conjuntas com a GNR na zona de Rio de Mouro.

Entretanto o procurador-geral adjunto João Ramos convocou para ontem uma reunião com a PJ, GNR, PSP e vários autarcas do concelho. Com o duplo homicídio de domingo como tema de fundo, o encontro serviu para que as três forças de segurança acalmassem o magistrado. A GNR recordou o que fez para controlar o crime em Rio de Mouro, enquanto a PSP assegurou prontidão para responder a desacatos que possam ocorrer nos funerais de amanhã.

GNR E PSP TERMINAM MUDANÇAS TERRITORIAIS

Concluiu-se às 00h00 de hoje a reestruturação territorial das forças de segurança. A PSP tomou posse de 12 postos até aqui ocupados pela GNR nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal. A GNR, por sua vez, ocupará apenas as instalações de duas esquadras que pertenciam à PSP (Baixa da Banheira e Moita). Com esta reforma o Governo quis acabar com a descontinuidade territorial no patrulhamento.GNR e PSP vão manter a partilha de responsabilidades apenas em 41 freguesias.

RUI PEREIRA EM LISBOA E NO PORTO

O ministro da Administração Interna (MAI) desdobra-se hoje entre as zonas de Lisboa e do Porto para assinalar o final das mudanças territoriais na PSP e GNR. Às 09h30 Rui Pereira estará em Rio de Mouro, onde a GNR entrega o testemunho à PSP. Uma hora depois deslocar-se-á à Costa de Caparica, Almada, onde o processo será inverso. O MAI termina o dia em Canidelo, Gaia (16h30) e Custóias, Matosinhos (17h30), on-de assistirá à entrada em funções da PSP.

NOVOS POSTOS POLICIAIS

DISTRITO DE LISBOA

PORTO SALVO – PSP

Tel: 214 213 401

QUEIJAS – PSP

Tel: 214 186 145

MIRA SINTRA – PSP

Tel: 219 142 986

RIO DE MOURO – PSP

Tel: 219 198 630

CASAL DE CAMBRA – PSP

Tel: 219 817 120

ALHANDRA – PSP

Tel: 219 500 070

ALVERCA – PSP

Tel: 219 578 810

DISTRITO DE SETÚBAL

BAIXA DA BANHEIRA – PSP

Tel: 212 029 010

COSTA DA CAPARICA – GNR

Tel: 212 909 340

MOITA – GNR

Tel: 212 809 330

DISTRITO DO PORTO

VALADARES – PSP

Tel: 227 169 270

CUSTÓIAS – PSP

Tel: 229 577 940

STA. MARIA DA FEIRA – GNR

Tel: 256 377 260

CANIDELO – PSP

Tel: 227 810 631

correio da manha

Comigo deparam-se com uma 44 nas TROMBAS!!